Tire as sandálias

A Voz da Diocese

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Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo.

terça-feira, 29 de março de 2022

Na conhecida passagem da Sarça ardente (cf. Ex 3,1-5), na qual revela-se a vocação de Moisés, lemos uma intrigante fala de Deus: “Moisés, Moisés… Não te aproximes daqui. Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa” (v.4.5).

Seguimos, segundo o senso comum, a interpretação de que a ordem divina se refere às impurezas contidas nas sandálias. Isso porque vivemos uma cultura em que o impuro não pode estar diante de Deus. Como consequência desse pensamento, muitos se afastam de Deus por viverem situações de pecado.

Contudo, é preciso voltarmos nossa reflexão para a realidade de que as sandálias nos pés de Moisés eram a única coisa que o impedia de ser tocado por Deus e viver intimamente a experiência de estar naquele lugar sagrado.

Jesus diz nos evangelhos que “os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. (Lc 5,27-32). É justamente por sermos pecadores que precisamos ir ao encontro de Deus.

O Papa Francisco em um de seus primeiros discursos revela-nos a universalidade da misericórdia de Deus. “Comove-nos a atitude de Jesus: não escutamos palavras de desprezo, não escutamos palavras de condenação, mas sim palavras de amor, de misericórdia, que convidam à conversão. Irmãos e irmãs, o rosto de Deus é o de um pai misericordioso, que tem sempre paciência! Já pensastes na paciência que tem para com cada um de nós? Essa é a sua misericórdia! Tem sempre paciência para conosco, compreende-nos, está à nossa espera, não se cansa de nos perdoar se soubermos voltar com o coração contrito. É grande a misericórdia do Senhor” (Angelus, 17 mar. 2013).

Entretanto, é necessário ter cuidado para que a experiência do amor de Deus não seja falsamente interpretada e nos deixarmos encher de vaidade, nos sentindo melhores ou superiores aos que ainda não tiveram a oportunidade de fazer a mesma experiência com o Senhor. O que nos diferencia é a consciência de que somos pecadores e necessitamos buscar a Graça do Pai.

É preciso repensar nossa experiência com o Sagrado. Quantas vezes nos aproximamos dele ainda com as “sandálias nos pés”, sem nos despojarmos de tudo que limita o verdadeiro encontro com o Senhor.

A Quaresma é o tempo oportuno para buscarmos uma sincera e profunda conversão, deixando pelo caminho as sandálias que nos impedem de experimentar o verdadeiro encontro com o Cristo.

Assim, somos levados a refletir as palavras do Papa Francisco: “Deus confia em nós e acompanha-nos com paciência, a paciência de Deus conosco. Não desanima, mas coloca sempre esperança em nós. Deus é Pai e olha para ti como um pai: como o melhor dos pais, ele não vê os resultados que ainda não conseguiste, mas os frutos que ainda podes dar; ele não conta os teus fracassos, mas encoraja as tuas possibilidades; não se detém no teu passado, mas aposta confiante no teu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus, não nos esqueçamos é a proximidade, Ele está perto, com misericórdia e ternura. E é assim que Deus nos acompanha: próximo, misericordioso e terno. Portanto, peçamos à Virgem Maria que nos dê esperança e coragem, e que acenda em nós o desejo da conversão” (Angelus, 20 mar. 2022).

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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