Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Câncer da Tireóide

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Tireóide é um órgão situado na base do pescoço, constituída por dois lobos (o direito e o esquerdo), ligados pelo istmo, com um formato de uma borboleta. É uma glândula endócrina que secreta dois hormônios ricos em iodo, a tetraiodotironina (T4) e a triiodotironina (T3) e um terceiro chamado de calcitonina, importante na regulação da taxa do cálcio sanguínea.
Uma das primeiras citações sobre a glândula Tireóide data de cinco mil anos atrás, na China; foi também de um imperador chinês, em torno de 2800 a.C., a utilização da palavra bócio, que vem a ser um aumento do volume tireoidiano. Mais ou menos por volta de 1600 a.C. surge o tratamento desses bócios com algas e esponjas marinhas, ministradas por médicos chineses; tal tratamento tinha sucesso em função do alto teor de iodo dessas espécies.
Apesar de raro, o aparecimento do câncer da tireóide vem aumentando no mundo inteiro e isso se deve em grande parte às ferramentas de diagnóstico à disposição dos endocrinologistas, principalmente a punção biópsia com agulha, muito útil quando realizada em nódulos suspeitos. No Brasil, a incidência é semelhante aos demais países do mundo, em torno de 8,7 casos em cada 100.000 pessoas.
Podemos classificar esses tumores em três categorias: A) Diferenciados, também chamados de papilíferos ou foliculares, de acordo com o tipo celular presente. Respondem por oitenta por cento dos casos, sendo mais frequentes nas mulheres que nos homens, na proporção de três para um; B) Não diferenciados ou anaplásicos, na realidade os mais malignos e de mal prognóstico. São mais comuns a partir da sexta década da vida, a taxa de incidência é de cerca de sete por cento e o risco de metástases é muito grande; C) Medulares que se desenvolvem a partir das células C, secretoras de calcitonina, sendo esse hormônio um marcador da doença. Seu aparecimento também está em torno de sete por cento e o prognóstico também é bom, desde que diagnosticado a tempo e sem acometimento de gânglios linfáticos do pescoço. A grosso modo, temos uma sobrevivência global de noventa e cinco por cento nos carcinomas papilíferos, setenta e sete por cento nos foliculares e de oitenta e cinco por cento nos medulares sem gânglios, em dez anos.
De maneira geral a presença de um nódulo ou vários, muitas vezes percebido pela simples palpação da região anterior do pescoço, leva o paciente ao médico ou esse, num exame de rotina percebe a presença de um “caroço” que deve ser investigado. A ausência de sintomas é uma característica dessa doença, a não ser que exista junto um hipotireoidismo (baixo funcionamento da tireóide) ou um hipertireoidismo (produção aumentada dos hormônios tireoidianos) concomitantes. No caso do anaplásico, se o crescimento for muito rápido, pode causar compressão das estruturas do pescoço causando falta de ar, dificuldade em engolir, tosse, sangramento, etc. Esses cânceres não têm uma causa precisa e somente o medular, pode ter uma hereditariedade comprovada, em função de uma mutação genética.
A presença de um nódulo leva à realização de uma ultrassonografia da tireóide e se ele for hipoecóico (pouco denso) impõe a biópsia com agulha. Mas, as características do nódulo também são importantes, pois, a consistência, o tamanho e o tipo de irrigação sanguínea, podem acusar a presença de uma malignidade em nódulos isoecóicos (densidade normal) ou hiperecóicos (densidade aumentada), o que é mais raro. Quanto à cintilografia com iodo radioativo, muito difundida até o início da década de oitenta, é menos utilizada nos dias de hoje.
Uma vez feito o diagnóstico, o tratamento de escolha é a extirpação total da glândula, muitas vezes com retirada dos gânglios do pescoço. Se houver metástase à distância, usa-se a dose terapêutica com iodo radioativo, visando à destruição dessas células tireoidianas. A quimioterapia e a radioterapia são tratamentos extremos, principalmente nos carcinomas anaplásicos e nas metástases volumosas.
O uso de hormonioterapia substitutiva se impõe por duas razões: pelo fato de não haver mais produção de hormônio tireoidiano em função da extirpação da glândula e para prevenir o aparecimento de metástases. Faz-se necessária também uma visita periódica ao especialista para exames de manutenção e acompanhamento.
Se for para ter um câncer, que ele seja da tireoide, desde que o anaplásico seja excluído. O diagnóstico precoce e um acompanhamento bem conduzido são a garantia da preservação de uma boa qualidade de vida. Mas, lembre-se, se você apalpar a região anterior do seu pescoço e notar a presença de um “caroço”, não importa o tamanho, procure um ENDOCRINOLOGISTA, pois ele é o profissional mais indicado para investigar tal anomalia. Já vi, quando exercia a medicina, pacientes serem tireoidectomizados, sem necessidade, porque a primeira consulta e o seguimento do caso foi feito por um cirurgião. Num deles, o exame anátomo patológico da peça cirúrgica, mostrou tratar-se de um nódulo simples. O paciente se viu condenado a tomar hormônio tireoidiano, desnecessariamente, por toda a vida.

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário