Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
A batalha dos lençóis

Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
Ou então perguntar aos sul-coreanos se não querem comprar brasileiros e brasileiras
A notícia é grave: a Coreia do Sul, um dos países mais ricos do mundo, pode acabar. Isso mesmo: deixar de existir, sumir do mapa. E a razão não é nenhuma guerra, epidemia, tsunami ou coisa do gênero. Você dirá que isso não passa de notícia falsa (mais conhecida como fake News), ou encheção de linguiça de cronista sem assunto. Mas se impérios acabam, por que não um país, e ainda mais um país cujo território não é nenhuma Amazônia? Se o Brasil fosse um dedo, a Coreia do Sul seria um pedacinho de cutícula.
Se lembra do Império Romano, ou estava tiktokando no celular durante essa aula de História? Eu até já estudei isso, mas foi no tempo do quadro negro e do puxão de orelha, e não guardei grandes coisas. “Varreu-se-me da memória”, como dizia o personagem de uma antiga novela de televisão. Vagamente me lembro de que as botas dos soldados romanos marcharam sobre meio mundo, durante quase cinco séculos. Até com Jesus eles acharam de implicar. Pior do que as botas eram as lanças e as espadas, que costumavam cutucar quem não fosse patrício e estivesse pela frente. E, no fim das contas, o grande império partiu-se em tantos pedaços que sobrou um pedacinho até pra nós, brasileiros.
Voltemos ao país asiático, que anda (ou melhor, não anda) aí pela casa dos 50 milhões de habitantes. O problema é que lá a cada ano só nasce 0,72 criança por casal. O ideal para que uma população não entre em decréscimo é de dois filhos, para compensar os que vão para a outra vida (contra a vontade, mas vão). Quer dizer, são necessários pelo menos dois casais bem dispostos para produzir um bebê sul-coreano. De tal modo os homens e mulheres de lá andam desanimados em colaborar para a sobrevivência do seu povo que o governo se vê na obrigação de se meter na cama alheia. Programas de incentivo a encontros amorosos, mensagens animadoras, incentivos fiscais. O governo tem feito o que pode. O resto depende de os cidadãos e cidadãs se decidirem a entrar nessa guerra de salvação nacional, ir com coragem para a batalha dos lençóis. E, vamos falar a verdade, nem é tanto sacrifício.
Coisa semelhante aconteceu na Alemanha. E ficou tão grave que um ministro foi à televisão conclamar o pessoal a que se animasse a ter mais filhos. E concluiu sua fala com essa sábia recomendação: “E agora, desliguem a televisão e vão para o quarto cumprir seu dever patriótico”. Acho que o Brasil não está precisando de conselhos desse tipo. Talvez seja até o caso de recomendar o contrário: “Calma pessoal!” E desde já sugiro o slogan para a campanha: “Por amor ao país, amem um pouco menos”. Ou então perguntar aos sul-coreanos se não querem comprar brasileiros e brasileiras. Negócio de ocasião! Como bem sabem os economistas, quando há excesso de oferta, o preço cai. E nós estamos com gente sobrando, principalmente depois que Trump mandou de volta para casa os que ele achou que eram demais nos Estados Unidos.
O perigo é acontecer o oposto. Quer dizer, a chegada dos brasileiros provocar uma explosão demográfica e que dentro de poucos anos haja tanto sul-coreano com cara de sul-americano que não caibam nos 100.000 km2 daquele país. É, pensando bem, é melhor deixar que eles resolvam seus problemas sem nossa valiosa ajuda. Não vamos nos meter nos lençóis alheios.

Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
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