Redes de Solidariedade

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sábado, 18 de maio de 2024

Nossa querida cidade, Nova Friburgo, celebrou na última quinta-feira, 16, mais um ano de vida. No último fim de semana, o cantor friburguense Benito di Paula esteve aqui para participar dos festejos. E paralelamente a isso, estamos testemunhando uma catástrofe no Rio Grande do Sul que nos remete a sentimentos conhecidos e vividos por nós, de tristeza, medo, desolamento, perdas, luto, revolta, solidariedade, empatia e tantos outros. Que situação difícil e desoladora!

Lembrei-me que o cantor, conhecido pela canção “Homem da Montanha”, nos apresentou no início do ano de 2011, após a tragédia climática que nos assolou e vitimou milhares de friburguenses, a canção ‘Me ajude a salvar a montanha que chora”. Lembro-me de ter ouvido, chorado, me identificado e fortalecido com aquelas palavras. A letra dizia em um de seus trechos: “sou homem da montanha, nunca tive sofrimento, é duro ver o meu povo sofrendo. Por Deus eu peço e venho pedir agora, me ajude a salvar a montanha que chora”. Acho que este foi o desejo de todos nós.

Naquele contexto, tive a oportunidade de escrever um texto para A VOZ DA SERRA que recebeu título similar ao nome da música. Foi uma dor inenarrável sermos obrigados a acreditar que o mundo caiu sobre nossas cabeças. Dor pior foi aceitar que tantas pessoas se foram, tantas casas ruíram, tantos bens construídos com o esforço de uma vida inteira se destroçaram, que tantos sonhos se perderam. Um turbilhão de emoções inimagináveis se embaralhou em nossos corações. Um sentimento que parecia apenas ser realmente captado, verdadeiramente sentido na raiz por nós que somos friburguenses de corpo, alma e coração e que podíamos sentir aquela imensa tristeza em um contexto de pertencimento, de dentro para fora. A dor da perda de vidas, a dor da necessidade de reconstruir tudo o que virou lama em poucos minutos, a dor de ver nosso povo chorando. E a dor de não sabermos como seria o dia de amanhã.

Em meio à desolação e ao desespero instalados desde o dia 11 de janeiro de 2011, percebi um amor que eu já conhecia, mas que até então era imensurável: o amor pelo lugar em si, pela terra, pela cidade e tudo o que constava dela. A solidariedade, a união, a cumplicidade e o amor ao próximo deram lição ao mundo! O caos da região serrana ofuscou as maldades e trouxe à tona os sentimentos mais nobres dos seres humanos. Tudo isso fez renascer a esperança por um mundo melhor.

O cenário mudou. Andar pela cidade requereu muita força para que o desespero não impedisse de ver adiante. Muita tristeza nos olhos das pessoas. Ninguém não perdeu nada. Todos perdemos muito. Uns mais, outros menos, mas todos perdemos. É realmente duro ver o cenário marrom, os bombeiros, o exército, a polícia, os caminhões de donativos, tratores, corpos, os voluntários andando por toda parte. No céu muito helicópteros; na praça, um hospital; nos rios, entulhos; nas montanhas, rasgos de terra. E por todos os cantos: solidariedade!

Treze anos depois, comemoramos mais um 16 de maio em outras circunstâncias. Mas nossos irmãos choram no Sul. E essa dor, também é nossa. Mais uma vez, vemos desespero, tristeza, medo, desamparo, incertezas ao mesmo tempo em que redes incríveis de solidariedade nos levam a ter esperança nos seres humanos. Novamente, o cenário desolador ocupa os noticiários e milhares de pessoas encontram-se sem casa, sem chão, sem aconchego, sem agasalho, sem paz, sem quase nada. Muitos perderam a vida. Não podemos, em hipótese alguma, ignorar tamanha dor. Façamos nossa parte da forma como pudermos inclusive para transbordarmos a solidariedade anteriormente por nós recebida. A união faz a força, sim! 

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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