A dor que dói em nós

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Foi então, que mais uma vez, um verão caloroso cedeu espaço para a lama. Mais um janeiro em que o mar não foi só o mar, ganhando uma conotação marrom devastadora. Dessa vez, os corações do Brasil e dos brasileiros voltaram-se novamente para Petrópolis. Sem aviso prévio, da noite para o dia, fomos todos parar em na Cidade Imperial. Foi uma viagem chocante e triste. Um reencontro com a vulnerabilidade, a efemeridade da vida e a humanidade. Sentimentos extremos ganham força. Indignação e solidariedade. Revolta e compaixão.    

Eu não sei se acontece com todos os senhores leitores, mas a imagem de um “rio de lama”, a sensação de um tsunami marrom devastador, provoca em mim sensações muito peculiares de quem já viveu o trauma da avalanche de destruição aliado ao descaso humano com a natureza drásticas consequências humanas, ambientais, sociais, econômica e de diversas outras ordens. E assim, me "teletransporto" para cada imagem, para cada lágrima que vejo escorrer das vítimas, parentes e amigos que estão vivenciando a tragédia em nossa cidade irmã. Várias ruas viraram lama mais uma vez. Pais, mães, filhos, amigos, colegas, trabalho, esperança, ar, lar. Tudo virou lama. Árvores, pássaros. Telhas, carros, casas, brinquedos, álbuns de fotografia. Tudo lama. Paisagem? Lama.

Dói muito, realmente, supor que tragédias como essa poderiam ter sido minimizadas. Ou melhor, deveriam. Em que ponto nos perdemos enquanto sociedade organizada para subestimar os riscos e adiar medidas verdadeiramente eficazes de minimização de riscos e dores. A Região Serrana é um complexo montanhoso, com características de chuvas, que já de longe agoniza as consequências das águas. E cada episódio de vidas sendo arrastadas por lama reacende importantes discussões acerca da realidade em que vivemos em nossa região.

 Quando nos perdemos como seres humanos com responsabilidade social? O que aprendemos em 2011 com a maior catástrofe de deslizamento de terras do mundo cujo epicentro foi justamente a nossa Região Serrana? Em que melhoramos? Quais foram as consequências advindas daquele episódio fatídico que geram inestimável dor a tantas pessoas até hoje? Quais as respostas as famílias receberam? O que foi feito na tentativa de recuperar a saúde ambiental da localidade? O que se sabe sobre a responsabilização daqueles que tinham o condão e dever de fazer algo e não fizeram? Ou fizeram? Quais as providências tomadas para proteger as pessoas e evitar novos acidentes/crimes/tragédias? São perguntas sem respostas que estão assombrando e dilacerando ainda mais as pessoas com esse episódio lamentável na história do Brasil.

Não há como mandar a conta dessa tragédia mais uma vez para o acaso da mãe natureza. O que está fora de ordem, fora de lugar foi o homem quem criou. Que a compaixão e a solidariedade unam-se à inquestionável força de superação do brasileiro, que o amor se multiplique e se espalhe ao ponto de acalentar tantos corações dilacerados e enterrados no mar de lama.

Toda a nossa solidariedade aos nossos vizinhos petropolitanos que hoje vivem uma dor que por aqui, infelizmente, também conhecemos bem.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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