Nestes tempos de pandemia, a literatura tomou conta dos momentos nossos de quietude, e, assim, tive a interessante experiência de voltar a ser ouvinte de histórias. Quando criança eu as escutava de minhas avós, como também nos discos, que me eram colocados em vitrolas antigas. Minha avó Minussa ou Minuça, até hoje não sei se o nome dela era escrito com ç ou ss, contava longas histórias em capítulos, todas as noites, às 20h, na época em que havia “blecaute” (as luzes da cidade do Rio de Janeiro eram desligadas). Eu me sentava com as pernas cruzadas e a escutava a perder o tempo.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Depois que a pandemia nos tomou de assalto, fazendo o quotidiano entrar em crepúsculo, tirando-nos a possibilidade de uma vida possível e com largas fronteiras, a literatura surge mansamente, fazendo-nos uma visita diária e matinal. Como as ideias não poupam pessoas dotadas de criatividade, Márcia Lobosco, coordenadora e criadora do Clube de Leitura Vivências, nos traz textos literários, contos, crônicas ou poesias.
Sentimento urgente
Clarice Linspector
Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão
profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para
uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais
urgentes que a vida tem
Com a tão repentina chegada do Corona Vírus, as paredes serenam e não mais limitam a vontade irresistível de ultrapassá-las. Aos poucos, vão se tornando resignadas companheiras durante o isolamento, ficando solidárias a este modo de estar solitário. Tão silenciosas como o tempo que circula entre elas, que não mais transpassa suas estruturas rígidas, deixando pensamentos, emoções e afazeres bailarem nos espaços vazios. O tempo se torna inexistente como, de fato, é. A quietude das paredes, então, passa a mostrar a verdade que as pessoas fazem questão de não perceber: o tempo não existe.
Faz tempo que li o Ponto de Mutação (1982), de Fritjof Capra, filósofo e
escritor austríaco. Também autor de O Tao da Física (1975). Eu me lembro
que, na época, o livro, bastante debatido pelas suas inéditas ideias, aborda as
mudanças intensas que o planeta vem sofrendo. Sua obra é influenciada pelo I
Ching, O Livro das Mutações, que descreve, através dos oráculos, a dinâmica
entre Yang e Yin. A força da energia de yang, o masculino e ativo, certamente
muito mal utilizada, construiu os métodos de dominação e exploração que
A letra da música O Dia Em Que a Terra Parou, mesmo sendo veiculada pelos quatro cantos da internet, nos oferece motivos para refletir. Escrita em 1977, há 33 anos, Raul Seixas, por quem tenho admiração, principalmente pela inteligência e sagacidade, descreveu o momento em que vivemos, sem atribuir a um vírus, o COVID-19, a causa de fazer o mundo parar. Da criatividade à premonição, da vidência à profecia, não há como determinar porque nosso músico-poeta criou essa obra.
O poeta Solidade Lima, vencedor por duas vezes, na categoria poesia, do
Concurso de Literário Nacional Julio Salusse da Academia Friburguense de
Letras, nas 4ª. e 5ª. edições, em 2017 e 2018 respectivamente. Em 2020,
muito nos honra ter conhecimento de que Solidade foi vencedor do XVIII
Prêmio Nacional Fritz Teixeira Salles de Poesia, da Fundação Cultural Pascoal
Andreta, Monte Sião, Minas Gerais, com o poema A Íntima Chama.
Solidade Lima é amigo da nossa Casa, presente no grupo de amigos da
AFL no whatsApp.
Nesta coluna dou prosseguimento à anterior, em que abordei questões relevantes sobre a leitura e o saber. Na essência destas questões se encontram as diferenças entre a literatura e a pedagogia, que têm enfoques distintos e bem delimitados. Não é incomum haver uma percepção que venha a confundi-las. Eu mesma já pensei que a pedagogia e a literatura se fundiam em alguns momentos, entretanto, ao longo dos meus estudos, constatei que, caso isto aconteça, ambas correm o risco de perder o foco.
Uma querida amiga do Clube de Leitura Vivências divulgou no nosso grupo do WhatsApp que a escola de samba Império da Tijuca apresentou, neste ano de 2020, o tema “Quimeras de um eterno aprendiz” em que, através das cores verde e branco, defendeu a tese de que a leitura e o saber promovem a transformação. Eu me emocionei com a letra do samba enredo porque considero que a literatura e a educação são meios de crescimento e de difusão do conhecimento.
Hoje é tempo de sentir as ideias vibrarem com o ritmo de carnaval, que é levado pelos ares, explodindo nas ruas e ecoando entre os prédios de Nova Friburgo. Os ventos fazem as folhas balançarem nos galhos das árvores e caírem com leveza no chão. As imagens vagueiam pela cidade, dando tom às palavras que narram as folias de carnaval.
Eis que neste dia, cada vida tem o seu momento carnavalesco e faz a própria história acontecer. Todos se encontram na divina cena carnavalesca, movidos ou não por emoções vibrantes.