O Impressionismo, a eterna dúvida e Tom Jobim

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 07 de dezembro de 2020

Dando continuação às reflexões que tive ao assistir, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes do século XIX e XX”, apresentado por Catherine Beltrão. A arte se movimenta no tempo, transformando suas expressões, mostrando o modo de pensar e de viver de uma época. Este tema me faz lembrar a visita que fiz ao museu de Van Gogh, em Amsterdã, quando passei uma manhã inteira observando suas obras, percebendo a sensibilidade com que ele captava as imagens da vida, a serenidade com que distribuía as cores na tela, principalmente o branco e o amarelo. No Impressionismo e no Pós-Impressionismo, as cores são simbólicas; são suaves e iluminam a cena, são incisivas e reveladoras da intimidade. 

Sempre busquei compreender as relações entre a literatura e a arte. O Curso de Imersão me ofereceu motivos mais instigantes ainda para mergulhar na pesquisa e na observação dos momentos históricos. O Pós-Impressionismo foi uma tendência artística que se manifestou na passagem do século XIX para o XX, que mudou a história da arte de um modo geral e nos transformou, fazendo-nos direcionar os olhos para nossas próprias impressões, como forma de autoconhecimento e libertação. O pensamento passou a valorizar a intimidade da pessoa, o seu mundo interior, a autopercepção. O Brasil amadureceu; deixou de ser colônia e tornou-se independente. Há uma interação sutil entre a arte e a história, na medida em que a literatura, sendo capaz de alicerçar o modo como se concebe a realidade sócio-econômica-política e cultural, exerce influência nas decisões e ações que determinam os rumos de uma nação. Tudo está interligado. Não há movimentos espontâneos e distintos, principalmente depois do advento da impressão tipográfica, no século XV. A edição de textos em grande escala favoreceu a expansão do inconsciente coletivo que se expressa através da arte. A força criativa faz parte da essência humana, e a literatura, enquanto arte da palavra, ganhou, então, poder incalculável. 

Para melhor entender este movimento, vale a pena compreender o Impressionismo, enquanto arte que revela o instante, as impressões sensoriais e o psicológico. Neste contexto, surge no Brasil, Machado de Assis!, presenteando-nos com a obra-prima Dom Casmurro, cujo romance penetrou de tal forma no âmago do personagem que foi capaz de trazer para a vida real sua cruel dúvida, que até hoje, ninguém conseguiu chegar à conclusão se Bentinho foi traído por Capitu ou não. Está eternizada.

Estou diante de um tema sedutor e interminável. Vou continuar a ler a respeito, escutando Tom Jobim, nosso grande maestro, que bebeu nas águas do Impressionismo para compor suas obras. 

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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