Arte

Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Assisti, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes
do século XIX e XX”, apresentada por Catherine Beltrão, engenheira que
mergulhou no universo artístico, especialmente na pintura e na literatura,
autora do projeto Artenarede. A Imersão é um curso de curta duração e possui
um objetivo específico. Assim sendo, esta se constitui em duas palestras sobre
Vincent Van Gogh e Pablo Picasso, suas vidas, obras e contextualização
histórica da época em que viveram.
Como nos momentos iniciais nos foram apresentados conceitos
interessantes sobre arte, fui tomada por várias reflexões e decidi apresentá-las
aqui. Até porque considero que o fazer desta coluna é uma construção
artística, posto que a arte é um universo criativo infinito do qual a literatura faz
parte, enquanto arte da palavra, escrita ou falada.
Ao escutar as apresentações iniciais do curso, imediatamente refleti sobre
a indissociável relação entre o autor e sua obra, independentemente da área
artística, enquanto resultado de uma entrega que eu diria embrionária. A arte é
gestada. Da ideia ao produto, há um processo intenso em que a inspiração é
transformada, através de uma delicada cadeia de produção criativa. Digo
cadeia porque há um entrelaçamento contínuo entre um momento e outro do
processo criativo. Cada obra é resultado de atos únicos. Nem mesmo o próprio
autor consegue reproduzi-los. Aqui, confesso que nunca consegui escrever um
texto de modo idêntico ao outro. Por isso, salvo-o no computador para não o
perder para sempre.
Não restam dúvidas que o artista já nasce com um potencial criador
especial. Entretanto, ele também possui uma história vinculada à arte. É no
âmago dessa experiência existencial que a capacidade criadora vai aflorando,
aos poucos, dia a dia, sendo resultado da vontade e da dedicação ao
aprimoramento dos próprios interesses, tendências e habilidades. O fazer da
arte é resultado de um contínuo e sensível processo de conhecer e de
experimentar. Muitas vezes, sofrido. Aliás, como tudo na vida.

A literatura possui identidade com todas as formas artísticas, capazes de
interpretar a realidade a partir de pontos de vista específicos. Ou seja, uma
mesma circunstância de vida pode ser decantada por expressões distintas,
como pela pintura e pelo texto literário.
A arte acompanha as tendências do tempo, através de movimentos que
possuem ideais similares aos do momento histórico, como o pós-
impressionismo, no século XIX, em que Vincent Van Gogh encontrou sua
expressão. Na literatura, tivemos grandes autores como James Joyce e
Virgínia Wolf, que escreveram obras-primas. Este movimento, especialmente,
retrata o cotidiano, além de evidenciar o pensamento e as emoções do
personagem. Estes artistas da palavra influenciam o modo como escrevo, uma
vez que seus textos invadem, com profundidade, a experiência diária. Tal qual
Virgínia Wolf aborda os “Músicos de Rua” num ensaio afinado com as
dificuldades desses profissionais, que não possuem condições de se
apresentarem em palcos estruturados como nos teatros. E, principalmente,
“Mrs. Dalloway”, romance que narra um dia na vida de Clarissa Dalloway. Em
“Ulisses”, James Joyce, também narra o dia de Leopold Bloom. Eu sempre
consulto o terceiro capítulo, em que o pensamento repartido e discrepante do
personagem é descrito, o que me respalda a desenvolver as cenas dos meus
livros.
As íntimas relações da literatura com a pintura nos oferecem um campo
de pesquisa inesgotável. Deste modo, na próxima coluna, pretendo dar
continuidade ao tema.

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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