O cotidiano sob os olhos do cronista

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Ao pegar o livro de crônicas do nosso professor de português Robério José Canto, O Dia em que o Trem não Chegou, sua última publicação, em que ele reúne crônicas publicadas, tive o prazer de me deliciar com seus textos, tão bem escritos. Ah, como ele sabe usar o humor e a ironia com maestria! Para compô-lo, além do mais, é preciso ter o domínio da nossa língua, tão complexa e delicada, mesmo que romântica. 

Eu diria que a crônica é como um estalo, tal qual o estouro de uma bola de inflar, que expõe um momento do cotidiano de um lugar. Que mostra de maneira inteligente o que está acontecendo sob o ponto de vista de um observador atento e minucioso. Talvez o cronista seja o escritor que mais precise de feeling para captar como as pessoas estão vivendo e reagindo, experimentando esperanças e fazendo o acontecer. Entre o abrir e o fechar de olhos, o cronista nota algo para refletir e comentar. É um ser em busca de motivos para sentir-se inserido e justificar suas inquietações. Fazer-se escritor. Pode ser um fato corriqueiro, porém revelado com criatividade e arte. Seu trunfo é a capacidade que possui de transformar o que já é sabido em algo interessante, de revelar um ponto de vista com sabedoria, como um gato debaixo de uma janela pode ser uma situação divina ao cronista, tal qual considerou nosso professor Robério em sua publicação anterior. 

A palavra crônica vem do latim chronica, que significa a narração a respeito de um acontecimento, respeitando a ordem dos fatos. A crônica nasceu na antiguidade, surgiu quando os reis precisavam de ter ciência dos fatos, das transações e dos conflitos; era um relato minucioso dos acontecimentos feito por um enviado. É um estilo literário que se caracteriza por uma narrativa curta, que não se detém com profundidade em um tema. Hoje, é um texto publicado em revistas e jornais.

Há leitores que apontam a crônica como sua leitura preferida, talvez por ser o cronista um filósofo, um pensador do seu tempo, que conversa de modo informal com pessoas da sua geração. Robério proseia sobre as verdades do Brasil com sutileza, sobre a vida, trazendo à tona fatos inusitados de tempos e lugares diferentes, bem como capta os mínimos detalhes da vida, enriquecendo-os com ditos populares. 

É um livro que pode ser lido com a tranquilidade dos pombos, uma vez que o leitor tem a prerrogativa de escolher os textos sem se preocupar com a sequência para, depois, deitar-se sob as nuvens da tarde e pensar, dormitar, ler...        

 

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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