Somos um povo que ri quando devia chorar
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
─ Essa é a fila do auxílio emergencial?
─ Não, essa aqui é da vacina. A do emergencial foi ontem.
─ Tá bom. Vou ficar assim mesmo. Vacina é besteira, mas eu tava passando, vou aproveitar a fila. Será que demora muito?
─ Sei lá! Chegou agora e já tá querendo ser atendido! Deve ter umas duzentas pessoas na frente.
─ É, esse povo adora uma agulhada.
Algumas dessas localidades batizadas de maneira incomum, às vezes beirando o pornográfico
Tem gente que acha esquisito o nome de certas cidades brasileiras. De fato, Varre-Sai, Não-Me-Toque e outras tantas são... não digamos que sejam esquisitas, mas originais, e talvez assim os varre-saienses e os não-me-toquenses não se aborreçam conosco se por acaso um dia (nunca se sabe) vierem a pôr os olhos nestas mal traçadas linhas.
Já comemorou cinquenta vezes o aniversário de falecimento
Não sei se você sabe o que é criogenia, ou mesmo se está interessado no assunto. Pode ser até que você já tenha feito uma encomenda ou, melhor dizendo, que você já tenha “se encomendado”. Em qualquer dos casos, vou passar algumas informações a respeito que poderão ser úteis, se não a você, talvez a algum outro leitor que sonhe com a imortalidade, não da alma e na eternidade, mas do próprio corpo e aqui na Terra mesmo.
Ir aonde ninguém queria ir, servir a quem ninguém queria servir
Quando eu era criança ainda se ouvia uma anedota sobre o desconhecimento que às vezes pesa sobre pessoas supostamente muito conhecidas. Era um diálogo entre professor e aluno:
─ Menino, quem foi Getúlio Vargas?
─ Sei não, professor.
─ Como não sabe? Getúlio é um brasileiro muito importante.
─ Só se ele é do time reserva, professor, porque o titular eu sei todinho.
Aposto que Eva achou que Deus não ia ficar sabendo
Havia uma senhora que previa o futuro. Esse negócio de prever o futuro, vocês sabem, é profissão de alto risco, porque o futuro costuma desdenhar de nossas previsões. Saímos de manhã e não levamos guarda-chuva porque o céu azul garantia bom tempo para o dia inteiro, e voltamos para casa embaixo do maior temporal. Tudo indica que no dia seguinte vai chover, e amanhece um dia amarelado de sol. Amores que eram eternos não duraram mais que um ano; encontros casuais transformaram-se em amores definitivos.
— Moça, dá licença. Não se assusta não. Dá licença pra eu sentar aí do seu lado.
— Que maluquice é essa, cara! Tá brincando comigo? Olha que eu pulo agora mesmo. Tou brincando não.
— Eu sei... Claro que não! Foi por isso que eu me resolvi também.
— Não se aproxima não. Nem vem com lero-lero, igual naqueles filmes que o policial vem chegando cheio de conversa e, de repente... Ninguém vai me fazer desistir não. Fica aí, se não eu pulo agora mesmo. Tou avisando.
— Vim te fazer desistir nada, menina. Eu vou é pular também.
Nunca se sabe o que esperar de uma pessoa que gosta de ler e de estudar