Melhor seria se houvesse uma lei proibindo os filhos de escreverem sobre suas mães
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
Nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus
Um outrora famoso humorista brasileiro, já nas últimas curvas da estrada que leva aos noventa anos (e depois leva sabe-se lá para onde) submeteu-se àquela reforma eufemisticamente conhecida como harmonização facial. Não sei bem que cara ele tinha antes, mas pelas fotos que vi, não acredito que a reforma tenha harmonizado grandes coisas. Pode ser que agora ele esteja de fato um pouco mais bonito, até porque pior do que estava era difícil ficar.
─ Olha lá! Olha lá! Será que é ele mesmo, Astrênio?
─ É ele sim, Dalvinéia! Ele já tá até rascunhando as dedicatórias!
─ Ainda bem que a gente chegou na frente... Meio cedo, mas também assim a gente evita a filona que vai ter daqui a pouco.
─ É, esse prédio tem entrada, porta e escada pra tudo quanto é lado. Se a gente não chega cedo, ia mais era se perder. Capaz que nem chegasse a tempo.
─ Ainda bem que a gente comprou o livro antes. Vamos lá, aproveita que ele tá sozinho.
─ Com licença... Boa noite, professor. A gente já trouxe o livro, professor.
A cada texto meu na coluna Escrevivendo, constato que tanto as pessoas mais cultas, que têm o hábito de leitura, quanto as de modesta escolaridade, tomam conhecimento do que publiquei. Um comentário, uma palavra, às vezes apenas um gesto, e eu me certifico de que ali está um leitor de A VOZ DA SERRA.
E essa é apenas uma das formas pelas quais percebo a repercussão que o jornal alcança nos diferentes estratos da sociedade friburguense, e como grande parte da população nele se baseia para saber o que está acontecendo, para clarear as ideias, para formar opinião.
A essas alturas seus olhos, leitor, já devem estar molhados de lágrimas, tanta é a pena que você sente desses desafortunados senhores
O desfile, justamente porque se movimenta, não se assemelha a um palácio. Parece, talvez, um mar que ondeia, sua e ruge
Precisam se concentrar longamente para afinal concluir que dois e dois são cinco
Mas nada muda, só nós podemos mudar
Não é a primeira vez que conto isso, mas a proximidade do fim do ano me fez lembrar. Meu filho, quando tão pequeno que passado, presente e futuro se misturavam em sua cabeça, assistia a um desenho na TV. Estávamos saindo para ir à casa de meu irmão, e ele tanto queria estar lá, brincando com o primo, quanto ficar em casa, vendo o resto do desenho. Ainda não tinha aprendido essa dura realidade da vida: quem escolhe renuncia.