Delícias da culinária internacional

Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

terça-feira, 30 de maio de 2023

No Laos, o mais apreciado é o rato à milanesa

Tem gosto pra tudo neste mundo, inclusive em se tratando de alimentação. Sem irmos muito longe, aqui mesmo no Brasil tem uns pratos que devem revirar o estômago dos estrangeiros, só de ouvir o nome. Imagine o rei da Inglaterra indo almoçar no Itamaraty e ser informado de que o prato do dia é a nossa famosa buchada, que se constitui das seguintes delícias: rins, fígado e vísceras, tudo cozido em uma bolsa feita com o estômago de bode, que, aliás, é o fornecedor involuntário de todos os ingredientes. É de fazer Sua Majestade renunciar ao trono e, no entanto, no Nordeste do Brasil é considerado um manjar digno dos reis e dos deuses.

Imaginemos agora que o chef de alguns dos restaurantes de nossa cidade esteja querendo oferecer aos seus clientes algumas novidades culinárias. A fim de poupar-lhe o esforço de viajar a terras longínquas para conhecer as delícias locais, descrevo aqui algumas das iguarias mais apreciadas fora do Brasil, segundo a internet.

Comecemos com um prato muito popular na Escócia. Lá eles cozinham uma bolota feita com o pulmão, o estômago, o fígado e o coração de uma inocente ovelhinha. Servem com nabo e purê de batata. O que salva é que o caldo é obtido com a adição de uísque. Os escoceses lambem os beiços. Já a Itália, para quem pensa que lá como cá tudo acaba em pizza, tem um delicioso queijo cujo processo de fabricação é, para dizer o mínimo, originalíssimo. O dito queijo é recheado com larvas, as quais serenamente se hospedam nos buracos deixados no produto justamente para que elas ali se acomodem. Então, quando as moscas nascem, o queijo está no ponto para ser consumido. Uma delícia! (Ou um nojo, as opiniões variam).

Se o nosso chef quiser copiar uma receita do Camboja, poderá fazer um prato que certamente encherá seu estabelecimento de fregueses e triplicará a venda de cerveja. Trata-se um petisco feito com a saborosa carne de aranha, dividindo-se a preferência dos gourmets entre as tarântulas e as caranguejeiras. Por prudência, retiram-se os pelos das bichinhas, que é onde o veneno se concentra. No mais, é só acrescentar sal, açúcar, pimenta e alho. Umas cachacinhas antes e outras depois devem ir muito bem.

Para quem aprecia uma boa carne, o Camboja oferece também o churrasco de crocodilo. Só que lá não tem esse negócio de perder tempo com grelha e carvão. A posta é colocada na mesa ainda crua, e o comensal é que vai passando-a numa chapa quente até atingir o ponto que lhe agrade. Talvez seja uma forma que eles acharam de se vingar da falta de cerimônia com que os crocodilos também devoram carne humana.

No Laos, o mais apreciado é o rato à milanesa. Se der bobeira, nem Mickey Mouse escapa. Carne muito versátil, pode ser servida cozida ou assada, e o bicho pode vir inteiro ou em pedaços. Para que nem o rabo se perca, usam-se palitinhos para pescar as fatias. E pensar que em Nova York o prefeito nomeou uma comissária, com salário de 64 mil dólares anuais, para comandar uma equipe de caça às ratazanas (um desperdício de dinheiro e de comida!). Milhões delas habitam os subterrâneos da cidade, mas frequentemente sobem à superfície para ver como andam as coisas nas casas, restaurantes, hospitais, lugares onde, aliás, costumam ser muito mal recebidas.  

Especialmente apreciado nas Filipinas é o ovo de pato. Ora, dirá você, isso até eu como. A diferença é que lá come-se o ovo fecundado, ou seja, com o embrião do patinho ainda lá dentro. É uma maneira de consumir carne, clara e gema de uma só garfada. Também não faltam lugares onde os insetos constituem umas das refeições prediletas. Fritos, assados, bem temperadinhos, não há quem resista a um bom prato de besouro, abelha, gafanhoto (João Batista era fã), cupins, moscas, cigarras e – para os paladares mais refinados – baratas!

Creio que já dei bastantes sugestões. Caso sua esposa pretenda arriscar uma dessas delícias para o almoço do próximo domingo, meu conselho, amigo, é que você vá almoçar no pé sujo mais próximo.

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No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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