Jesus comunica o seu poder aos apóstolos. Ele manifesta o seu poder, expulsando demônios, curando os doentes. E enfrenta a rejeição e a incredulidade dos que são de sua terra. O Evangelho de São Marcos acentua a humanidade de Jesus e apresenta fortemente a situação de dificuldades em seu ministério. Ele envia os apóstolos em missão. E dá as recomendações nesta mesma linha do seu despojamento. Com o mesmo poder, eles são expostos às mesmas rejeições e incredulidade. A postura é a renúncia de si mesmo, como no seu chamado.
Jesus comunica o seu poder aos apóstolos. Ele manifesta o seu poder, expulsando demônios, curando os doentes. E enfrenta a rejeição e a incredulidade dos que são de sua terra. O Evangelho de São Marcos acentua a humanidade de Jesus e apresenta fortemente a situação de dificuldades em seu ministério. Ele envia os apóstolos em missão. E dá as recomendações nesta mesma linha do seu despojamento. Com o mesmo poder, eles são expostos às mesmas rejeições e incredulidade. A postura é a renúncia de si mesmo, como no seu chamado. "Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga" (Marcos 8,27-35). Sem este esvaziamento e espírito de pobreza e desapego, não haverá missão.
O total despojamento (kénosis, em grego) implica numa entrega confiante ao poder de Deus e à Sua paternal Providência. Deus é o Senhor da obra, não nós. Por isso, os envia, dois a dois, para mostrar que a missão é sinodal e partilhada. Ninguém é o dono da evangelização. A missão é comunitária e com uma mensagem definida que é uma Verdade divina que deve ser pregada e não dependente das ideias individuais. Ao mesmo tempo, há a dimensão do apoio e do suporte dos irmãos, recordando os ensinamentos do Mestre e se completando nos dons e carismas.
A kénosis do Verbo Divino nos ensina o esvaziamento também de nossas garantias, provisões, apegos e estratégias. Em Filipenses 2, vemos o Verbo Divino não se apegando à glória de ser Deus e se fazendo homem - a Encarnação - primeira humilhação.
Fazendo-se homem, não assumiu nenhuma posição ou status de poder, dominação ou riqueza, para compensar sua "redução" : de Deus onipotente a um homem limitado na natureza humana; de Deus onisciente a um homem preso a uma cultura e aprendizado, ligado a uma família humana; de Deus onipresente e eterno a um homem encerrado num contexto histórico do tempo e do espaço... Ao contrário, assumiu a natureza humana como Pobre, num lugar pobre, Nazaré, numa família pobre e simples - segundo esvaziamento.
E, ainda, na situação de pobreza e simplicidade, tornou-se o Servo dos homens, priorizando a necessidade do próximo, tratando a todos como irmãos, com o Amor do Pai, afirmando: "O Filho do Homem não veio para ser servido , mas para servir e dar a vida em resgate de muitos" (Mc 10, 45) - terceira kénosis.
E Ele mesmo ensina e repreende aos apóstolos: "Quem quiser ser o primeiro, seja o último e o servo de todos" (Mc 9, 35). E, por fim, Jesus não se apegou nem mesmo ao dom mais fundamental da existência humana, a própria vida, oferecendo-a por todos nós, pela nossa salvação. "Fez-se obediente até a morte e morte de cruz."( Fil 2,8) - Quarta humilhação.
Jesus com o seu exemplo se coloca como referência para a missão dos apóstolos. Ele, com o seu testemunho de esvaziamento de si mesmo e de doação total por amor aos mais necessitados espiritual, física e materialmente, no seu serviço humilde e solidário, no seu ardor evangelizador, na relação de total comunhão e confiança com o Pai, na oração e no transbordamento do Amor, se torna parâmetro, modelo para a Igreja Apostólica. "Como o Pai me enviou, eu também vos envio"(Jo 20,21).
" Recomendou que não levassem nada pelo caminho, além de um bastão. Nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura." "Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas." O despojamento e o espírito peregrino, simbolizados nas sandálias empoeiradas do pregador itinerante. A missão do Reino jamais se acomoda, jamais se instala. Sempre calça as sandálias da itinerância, de cidade em cidade, anunciando incansavelmente a Boa Nova da Salvação, acompanhada do cuidado e da libertação das pessoas: "partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes". A missão do Mestre continua na missão da comunidade apostólica, do discipulado evangelizador e libertador com o mesmo poder de Cristo. Isto mostra que a evangelização tem como sinal testemunhal inseparável a caridade, a solidariedade, o amor ao próximo, na responsabilidade para com o mundo que deve receber a Boa notícia e a graça da Salvação.
Porém, esta salvação deve ser aceita livremente, não pode ser imposta. Se não for aceita, cabe ao missionário apenas, seguir adiante, "sacudir o pó das sandálias". Significa, analogicamente, o desprendimento do missionário da própria aceitação e êxito, não se coadunando com as mentalidades opostas, relativizando o Evangelho. É ter a consciência da missão cumprida, respeitando o livre arbítrio e seguir em frente, como fez Jesus, não se importando com as rejeições. Isto não significa, contudo, uma atitude de intolerância ou desdém em relação aos outros em suas escolhas que continuarão em nossas orações para que possam ainda, com a misericórdia de Deus, compreender em algum tempo, a Boa Nova e alcançar a redenção.
A natureza missionária da Igreja está essencialmente ligada a este espírito de pobreza evangélica e liberdade confiante no Senhor providente, na prioridade do Reino de Deus (cf Lc 12,31. O Concílio Vaticano II apresenta claramente esta identidade missionária, especialmente nas Constituições Lumen Gentium e Gaudium et Spes e no Decreto Ad Gentes, em sua responsabilidade com a salvação-libertação do mundo, por amor e com o amor de Deus, dentre outros documentos.
O Papa Francisco, reafirmando o documento de Aparecida e todo o ensinamento magisterial conciliar e pós-conciliar, nos apresenta sempre a dimensão do discipulado missionário, a Igreja "em saída" como tem insistido em suas palavras. Na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium afirma : "Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm dever de anunciá-lo sem excluir ninguém, não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem compartilha uma alegria, assinala um belo horizonte, oferece um banquete desejável. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração." E a alegria do Evangelho é missionária porque sempre "tem a dinâmica do êxodo e do dom do sair de si, do caminhar e semear sempre de novo, sempre mais além." Que possamos cada vez mais cumprir este mandato de Cristo, fiéis a esta espiritualidade de despojamento e doação de amor missionários.
Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico diocesano da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo
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