O consumidor está sendo enganado

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 09 de abril de 2025

A corda sempre arrebenta nas mãos dos mais fracos e é assim que acontece conosco, de uns tempos para cá. A primeira vez que me dei conta foi na preparação de iogurtes. Como tenho uma iogurteira em casa, adiciono dois potes do produto, não importa a marca, despejo numa leiteira contendo um litro de leite, misturo bem e levo ao fogo para aquecer. Depois, coloco a mistura nos sete potes do aparelho, ligo na tomada e deixo transcorrer doze horas, quando, então, vão para a geladeira. Esses sete potes ficavam cheios até o topo. De uns tempos para cá, comecei a notar que não transbordavam mais. O litro de leite encolheu ou os copos de iogurte comprados, tiveram seu volume reduzido?

Foi a partir daí que comecei a reparar que os produtos das prateleiras dos supermercados já não eram os mesmos. O cream cracker da marca Piraquê, com gergelim, primeiro passou a necessitar de uma lupa para que se pudesse visualizar o gergelim; posteriormente, o pacote encolheu e o meu recipiente que antes ficava cheio até a boca, mostrou que a quantidade de biscoitos diminuíra. O mesmo aconteceu com os biscoitos waffel que antes tinham doze unidades por pacote e agora contém só oito. Mas, a maior surpresa eu tive com os achocolatados em caixa, Toddy ou Nestlé, que antes continham duzentos ml e agora foram reduzidos para quase a metade. Sem esquecer as caixas de bombom, que também encolheram.

Para não aumentar o preço dos produtos, fabricantes e revendedores diminuem o tamanho das embalagens e mantêm o preço. Na realidade vendem gato por lebre, pois quem sai lesado é o consumidor, pois, para ter em mãos a mesma quantidade necessita comprar o dobro e aí paga mais caro. Mas, como o fabricante parte do princípio de que o consumidor é ingênuo, dão o golpe na maior cara de pau. Num país sério essa prática seria punida com uma multa pesada, pois isso é abusar da má fé. No entanto, pelo menos no Brasil, é uma prática antiga, pois me lembro de um caso que aconteceu no Rio de Janeiro, quando eu era criança. Um consumidor desconfiou que seu tubo de creme de barbear continha menos quantidade do que a indicada na embalagem. Ao comprovar que estava certo, denunciou o fato e foi ameaçado pelo fabricante, furioso por ter sido descoberto. Naquela época, essas práticas, quando divulgadas, envergonhavam as indústrias, hoje o fabricante não está nem aí para o consumidor.

O problema está no contexto dos fatos, por exemplo, um profissional liberal seja médico, dentista, psicólogo, que não atenda convênios, ao invés de aumentar a sua consulta, simplesmente, diminuiria o tempo de atendimento por pessoa. Com isso, aumentaria o número de clientes atendidos e lucraria mais ao final do dia. Mas, seu cliente se sentiria lesado e com justa razão. O mais honesto é aumentar o preço do produto, pois com o aumento da inflação, os custos aumentam. No caso das indústrias o preço dos insumos e de toda a cadeia que está por trás como salário dos empregados, eletricidade, água, etc. No caso do profissional liberal é a mesma coisa, o valor de uma consulta traz agregado uma série de gastos, daí o valor dela. Só que no caso do profissional liberal, se o cliente julga o preço muito alto, ele procura outro profissional. No caso das empresas, como atuam num cartel, o consumidor não tem direito de escolha.

Na realidade, as coisas acontecem em função da credibilidade da empresa que presta o serviço. O exemplo de um posto de gasolina se encaixa nesse contexto. A margem de lucro de um litro do combustível é muito pequena, daí o preço nas bombas variarem muito pouco. Os postos mal-intencionados adulteram as bombas e, ao invés de um litro, sai menos combustível para o tanque do consumidor. Quando descobertos, esses postos ficam marcados.

Moral da história, a única maneira que nos restaria, seria um boicote aos produtos que o consumidor julgar estar modificado. Quando o produto é supérfluo isso é possível, mas, quando o produto é essencial, torna-se muito difícil. Infelizmente, continuaremos a ser enganados na maior cara de pau. 

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