Parte 2
A conversão das relações
Parte 2
A conversão das relações
“A necessidade de uma Igreja mais capaz de nutrir as relações: com o Senhor, entre homens e mulheres, nas famílias, nas comunidades, entre todos os cristãos, entre grupos sociais, entre religiões, com a criação” é a constatação que abre a segunda parte do Documento (49-77). E “não faltou também quem compartilhou o sofrimento de se sentir excluído ou julgado” (50). “Para ser uma Igreja sinodal, é necessária, portanto, uma verdadeira conversão relacional. Devemos aprender novamente com o Evangelho que o cuidado com as relações e os vínculos não é uma estratégia ou instrumento para uma maior eficácia organizacional, mas é o modo como Deus Pai se revelou em Jesus e no Espírito” (50).
As “recorrentes expressões de dor e sofrimento por parte de mulheres de todas as regiões e continentes, sejam leigas ou consagradas, durante o processo sinodal, revelam o quanto frequentemente falhamos em fazer isso” (52). Em particular, “o chamado à renovação das relações no Senhor Jesus ressoa na pluralidade de contextos” ligados “ao pluralismo das culturas”, com, às vezes, “sinais de lógicas relacionais distorcidas e até mesmo opostas às do Evangelho” (53). O ponto é direto: “Nessa dinâmica encontram-se as raízes dos males que afligem nosso mundo” (54), mas “o fechamento mais radical e dramático é aquele em relação à própria vida humana, que leva ao descarte de crianças, ainda no ventre materno, e dos idosos” (54).
Ministérios para a missão
“Carismas, vocação e ministérios para a missão” (57-67) estão no centro do Documento, que visa à participação mais ampla de leigas e leigos. O ministério ordenado é “a serviço da harmonia” (68) e, em especial, “o ministério do bispo” é “unir em unidade os dons do Espírito” (69-71). Entre diversas questões, foi constatado que “a relação constitutiva do Bispo com a Igreja não parece hoje suficientemente clara no caso dos bispos titulares, como os representantes pontifícios e aqueles que servem na Cúria Romana”. Junto com o bispo estão “presbíteros e diáconos” (72-73), para uma “colaboração entre os ministros ordenados na Igreja sinodal” (74). É significativa, ainda, a experiência da “espiritualidade sinodal” (43-48), com a certeza de que “se faltar a profundidade espiritual pessoal e comunitária, a sinodalidade se reduz a um expediente organizacional” (44). Por isso, destaca-se, “praticado com humildade, o estilo sinodal pode tornar a Igreja uma voz profética no mundo de hoje” (47).
A conversão dos processos
Na terceira parte do Documento (79-108), é imediatamente destacado que “na oração e no diálogo fraterno, reconhecemos que o discernimento eclesial, o cuidado dos processos decisórios e o compromisso de prestar contas de nossas ações e de avaliar os resultados das decisões tomadas são práticas com as quais respondemos à Palavra que nos indica os caminhos da missão” (79). Em particular, “essas três práticas estão intimamente interligadas. Os processos decisórios necessitam do discernimento eclesial, que requer escuta em um clima de confiança, que a transparência e a prestação de contas sustentam.
A confiança deve ser mútua: aqueles que tomam as decisões precisam poder confiar e ouvir o Povo de Deus, que, por sua vez, necessita poder confiar em quem exerce a autoridade” (80). “O discernimento eclesial para a missão” (81-86), na verdade, “não é uma técnica organizativa, mas uma prática espiritual a ser vivida na fé” e “nunca é a afirmação de um ponto de vista pessoal ou de grupo, nem se resolve na simples soma de opiniões individuais” (82). “A articulação dos processos decisórios” (87-94), “transparência, prestação de contas, avaliação” (95-102), “sinodalidade e organismos de participação” (103-108) são pontos centrais das propostas contidas no Documento, surgidas da experiência do Sínodo.
A conversão dos laços
“Em um tempo em que muda a experiência dos lugares onde a Igreja está enraizada e peregrina, é necessário cultivar de novas formas a troca de dons e a interligação dos laços que nos unem, sustentados pelo ministério dos bispos em comunhão entre si e com o Bispo de Roma”: esta é a essência da quarta parte do Documento (109-139). A expressão “enraizados e peregrinos” (110-119) recorda que “a Igreja não pode ser compreendida sem o enraizamento em um território concreto, em um espaço e em um tempo onde se forma uma experiência compartilhada de encontro com Deus que salva” (110).
Também com uma atenção aos fenômenos da “mobilidade humana” (112) e da “cultura digital” (113). Nessa perspectiva, “caminhar juntos nos diferentes lugares como discípulos de Jesus na diversidade dos carismas e dos ministérios, assim como na troca de dons entre as Igrejas, é um sinal eficaz da presença do amor e da misericórdia de Deus em Cristo” (120). “O horizonte da comunhão na troca de dons é o critério inspirador das relações entre as Igrejas” (124). Daqui surgem os “laços pela unidade: Conferências episcopais e Assembleias eclesiais” (124-129). Particularmente significativa é a reflexão sinodal sobre “o serviço do bispo de Roma” (130-139). Justamente no estilo da colaboração e da escuta, “antes de publicar documentos normativos importantes, os Dicastérios são exortados a iniciar uma consulta das Conferências episcopais e dos organismos correspondentes das Igrejas Orientais Católicas” (135).
Formar um povo de discípulos missionários
“Para que o santo Povo de Deus possa testemunhar a todos a alegria do Evangelho, crescendo na prática da sinodalidade, necessita de uma formação adequada: antes de tudo, à liberdade de filhos e filhas de Deus na sequela de Jesus Cristo, contemplado na oração e reconhecido nos pobres”, afirma o Documento em sua quinta parte (140-151). “Uma das solicitações que emergiram com maior força e de todos os lados ao longo do processo sinodal é que a formação seja integral, contínua e compartilhada” (143).
Também nesse campo retorna a urgência da “troca de dons entre vocações diferentes (comunhão), sob a perspectiva de um serviço a ser prestado (missão) e em um estilo de envolvimento e de educação à corresponsabilidade diferenciada (participação)” (147). E “um outro âmbito de grande relevância é a promoção em todos os ambientes eclesiais de uma cultura de proteção (safeguarding), para tornar as comunidades lugares cada vez mais seguros para os menores e as pessoas vulneráveis” (150). Finalmente, “também os temas da doutrina social da Igreja, do compromisso pela paz e justiça, do cuidado da casa comum e do diálogo intercultural e inter-religioso devem ter maior difusão no Povo de Deus” (151).
Entrega a Maria
“Vivendo o processo sinodal – é a conclusão do Documento (154) – tomamos nova consciência de que a salvação a ser recebida e anunciada passa pelas relações. Vive-se e testemunha-se juntas. A história nos aparece tragicamente marcada pela guerra, pela rivalidade pelo poder, por mil injustiças e opressões. Contudo, sabemos que o Espírito colocou no coração de cada ser humano um desejo profundo e silencioso de relações autênticas e de laços verdadeiros. A própria criação fala de unidade e de compartilhamento, de variedade e interligação entre diferentes formas de vida.” O texto se conclui com a oração à Virgem Maria pela entrega “dos resultados deste Sínodo: ‘Ensina-nos a ser um Povo de discípulos missionários que caminham juntos: uma Igreja sinodal’” (155).
Fonte: Vatican News
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