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Quarentena

sexta-feira, 03 de abril de 2020

Este não é um “texto cabeça”. Definitivamente não é. Mas poderia ser. Está difícil dissociarmos nossa existência nesses dias da crise abissal enfrentada pela humanidade. Quem está tendo oportunidade de aprofundar suas reflexões com o coração aberto para o aprendizado, quem está fortalecido o bastante para encarar os perigos reais de frente e quem tem amor pelo próximo suficiente para pensar em ser útil uma hora dessas, provavelmente está crescendo e muito.

Este não é um “texto cabeça”. Definitivamente não é. Mas poderia ser. Está difícil dissociarmos nossa existência nesses dias da crise abissal enfrentada pela humanidade. Quem está tendo oportunidade de aprofundar suas reflexões com o coração aberto para o aprendizado, quem está fortalecido o bastante para encarar os perigos reais de frente e quem tem amor pelo próximo suficiente para pensar em ser útil uma hora dessas, provavelmente está crescendo e muito.

Tenho lido muitos comentários nas redes sociais finalizados pela hastag “vai planeta”. E essa expressão tem me remetido a uma sensação de esperança. Será que todas essas pessoas que fazem uso dela estão deveras apostando suas fichas na pandemia provocada pelo novo coronavírus como instrumento para nossa melhora enquanto humanidade? Será que elas têm razão? Seria possível sairmos melhores do caos? Todas as crises advindas serão mesmo presságios de bons acontecimentos?

Há momentos em que nos vemos em um beco em saída. Olhamos para um horizonte escuro e procuramos pelo sinal de luz. E por vezes, não o encontramos. Desesperamo-nos, pois estamos acostumados a esbanjar feixes de claridade por aí. Mas a realidade nua e crua nos mostra a escassez, nos revela que da noite para o dia, muitas coisas podem mudar drasticamente. Estamos preparados para encarar essa verdade?

Sinto estarmos vivendo um estado de profundas transformações e esforço-me para resgatar em meu arcabouço sentimental, as melhores ferramentas para verdadeiramente crer que serão para melhor, de alguma maneira. Fácil não está sendo. A “quarentena” mundial está fazendo doer a saúde, o coração, a saudade, o bolso, a paz, a fraternidade, a família, a fé.

O que estamos enfrentando, todos juntos, provoca as mais sensíveis dores e ouso dizer que de alguma delas, ninguém escapa. Não sei vocês, mas eu ando confusa até mesmo em relação aos métodos criados por nós para “tentarmos fazer o tempo passar”, para “aproveitarmos melhor o tempo em casa”, “para descansar nesses dias de isolamento”. Parece difícil de engolir. Não estamos todos imbuídos em simplesmente fazer o tempo passar. Não temos o que aproveitar. Ou temos?

Enquanto estamos confabulando sobre essas, hoje, superficialidades, tem gente morrendo, tem gente sofrendo, tem uma infinidade de pessoas preocupadas, angustiadas, apavoradas. Gente sem trabalho, gente passando fome. Há solidão, pobreza e falta de ar. O mundo não é o umbigo de quem está malhando em casa e escolhendo qual o cômodo de sua mansão confortável irá ostentar no próximo post.

Quando bravateamos a receita do prato maravilhoso, o ar puro respirado no quintal frondoso, os passeios ao ar livre sem ninguém no meio do caminho ou o trabalho em home office, podemos de alguma maneira estar afrontando aos que continuam dependendo dos transportes coletivos aglomerados para trabalhar, aos que estão na linha de frente nos serviços essenciais, aos que estão desesperados nos hospitais, aos familiares que estão rezando incessantemente pela cura de um ente querido contaminado.

Enquanto uns e outros investem todo seu tempo discutindo política de forma leviana e cega, que se recusam a pensar fora da caixa e a enxergar o mundo para além de si próprios, há outros milhares morrendo pela omissão e pelos erros de alguns outros que estão no poder. Tudo isso é muito duro de encarar. Acabamos por perceber, na doença e na tristeza, quem são as pessoas com quem não queremos manter relação depois, simplesmente porque não conseguem se conectar senão com suas próprias mazelas. Que ignoram as dores dos outros. Que desconhecem da empatia ou a usam em proveito próprio. Que jogam com interesses, esperanças, necessidades dos outros.

Está difícil crer em dias melhores. Mas eles chegarão. O tempo passará de qualquer maneira e quem sobreviver, poderá tentar retomar a vida e tomara que em outro patamar.

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A grande crise de 2020: como minimizar impactos negativos

sexta-feira, 03 de abril de 2020

É difícil trocar o tema quando se vive um momento histórico, não vai ser fácil voltar a falar de outros temas. Hoje, todavia, vou abordar possíveis medidas capazes de reduzir os impactos decorrentes da conjuntura atual; o coronavírus tem sido um agente devastador da saúde e economia global, mas quando associado, ainda, a guerra do petróleo que também estamos vivendo e pouco se fala, as consequências têm tomado proporções ainda maiores.

É difícil trocar o tema quando se vive um momento histórico, não vai ser fácil voltar a falar de outros temas. Hoje, todavia, vou abordar possíveis medidas capazes de reduzir os impactos decorrentes da conjuntura atual; o coronavírus tem sido um agente devastador da saúde e economia global, mas quando associado, ainda, a guerra do petróleo que também estamos vivendo e pouco se fala, as consequências têm tomado proporções ainda maiores.

Afinal, diante de tantas circunstâncias prejudiciais à qualidade de vida, como minimizar os impactos negativos? Esta é uma pergunta amplamente autoquestionável da população e também venho recebendo com certa frequência de meus clientes. Vamos às medidas amenizadoras.

O primeiro passo é refletir sobre o cotidiano, temos passado muito mais tempo dentro de nossas casas, isso aumenta o consumo de determinados serviços básicos – como água, luz e gás, por exemplo – e pode causar grandes alterações no valor a ser cobrado pelas concessionárias pela distribuição do serviço. Atente-se para consumos desmedidos e aproveite o momento para revisar se há possíveis desperdícios ao longo de sua infraestrutura residencial.

Contudo, vale a pena reforçar, o corte da distribuição de serviços básicos por inadimplência estão, por hora, cancelados. Em Nova Friburgo foi criado um Comitê Setorial de Crise para coordenar e supervisionar tais medidas referentes a concessão de serviços públicos. A nível estadual (Rio de Janeiro) e nacional, os respectivos parlamentos adotaram medidas para determinar a suspensão das interrupções dos serviços por, pelo menos, 60 dias. Mas é claro – e vale ressaltar –, caso você tenha recursos para arcar com os pagamentos, a boa fé do consumidor entra em vigor.

Partindo para outros aspectos de atos governamentais mediante a crise, algumas medidas também têm sido tomadas. O 13º salário da Previdência Social e abono salarial do PIS/Pasep serão adiantados e todos os pagamentos serão feitos até junho. Contudo, caro leitor, atente-se para um ponto extremamente – e faço questão de frisar – importante: até aqui, nenhuma medida apontada nesta coluna representa, de fato, injeção de capital na economia nacional. Então leve em consideração que muitos dos recursos responsáveis por basear os planejamentos de final/início de ano podem se desmantelar por chegarmos lá sem poder contar com esse dinheiro; então comece a estudar suas finanças e se planeje, pois o final de 2020 será completamente atípico para o seu bolso.

Agora vamos abordar a injeção de capital para conter a desaceleração econômica e manter a dignidade de cidadãos feitos reféns de tamanha crise. O Bolsa Família iniciará o processo de novos cadastramentos e alcançará mais um milhão de beneficiários dependentes do programa. Em complemento, haverá, também, o suporte do programa apelidado de “Coronavoucher”; medida responsável pela distribuição de um auxílio que pode variar de R$ 600 a R$ 1.200 para quem cumprir uma série de pré-requisitos.

Decidi escrever a coluna de hoje com um toque jornalístico, trazendo algumas informações indispensáveis para o momento e reunidas em um pequeno texto de leitura prática. Na próxima semana, penso em trazer algumas reflexões acerca do tema – não vai ser possível falarmos de outra coisa – a fim de trabalharmos nosso senso crítico e entender o que está havendo.

Não obstante, por hora, planeje-se

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Digitalização

quinta-feira, 02 de abril de 2020

Para pensar:
“Vamos conjugar o verbo amar com a própria vida.” Ana Nery

Para refletir:
“A enfermagem é uma arte; e realizá-la como arte requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!” Florence Nightingale

Digitalização

Para pensar:
“Vamos conjugar o verbo amar com a própria vida.” Ana Nery

Para refletir:
“A enfermagem é uma arte; e realizá-la como arte requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!” Florence Nightingale

Digitalização

Conforme a coluna havia antecipado, ocorreu mesmo nessa terça-feira, 31 de março, o processo licitatório para “contratação de empresa especializada para concessão de licença de uso de software com prestação de serviços de manutenção, suporte técnico e customizações para a área de gestão de saúde pública municipal, sistema de cadastro, consultas, faturamento, emergência, exames, farmácia, almoxarifado, internação, centro cirúrgico, atenção básica, business intelligence, prontuário eletrônico do paciente, aplicativo mobile, portal da transparência, registro de ponto mobile para atender às necessidades da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Friburgo”.

Esperança

Na prática, essa descrição toda se refere à tão necessária digitalização dos dados de nossa rede municipal de saúde pública, que, sendo devidamente executada, tem potencial para gerar enormes benefícios à gestão, aumentando o faturamento, o controle, a transparência e a eficiência dos serviços prestados.

O colunista acumulou muitos motivos para manter um pé atrás com a atual gestão municipal, mas entende que essa é uma notícia muito positiva e torce para que esse fio de esperança seja preservado e bem aproveitado.

Dados

A vencedora do pregão foi a empresa A4PM Analytics For Public Management LTDA, pelo valor de R$ 4.540.000,00.

Na tarde de ontem, 1º, quando esta coluna estava sendo fechada, a prefeitura estava em reunião com a empresa vencedora realizando um check list.

A coluna pretende acompanhar a realização deste trabalho com atenção, fiscalizando mas também abrindo espaço para divulgar os avanços que venham a ser obtidos.

Respiradores (1)

Uma das informações mais importantes para nossa população, neste momento de pandemia de Covid-19, diz respeito ao quadro de respiradores disponíveis para os friburguenses.

Pois bem, a coluna atualizou esses dados junto à rede pública, e os divide agora com os leitores.

Respiradores (2)

Neste momento existem 31 respiradores no Hospital Raul Sertã e outros seis na Maternidade, mas nem todos estão operacionais.

Quando do momento desta apuração, oito destes 37 estavam com algum tipo de defeito.

Além deles, outros 29 já foram comprados, mas ainda não existe data prevista para a entrega.

A coluna entende, inclusive, que o Palácio Barão de Nova Friburgo já considera alguma medida jurídica para assegurar o recebimento dos equipamentos o quanto antes.

Respiradores (3)

De fato, a apuração indica que a chegada de tais respiradores é de enorme importância, pois a maioria dos respiradores da rede pública já está sendo utilizada.

A coluna não tem os dados da rede particular, mas deixa o espaço aberto e convida os hospitais a entrarem em contato para dividir tais informações, a fim de que possamos manter esse quadro atualizado e assim tenhamos força para pressionar fornecedores ou outras esferas de governo no sentido de fortalecermos nossa rede de suporte.

Não podemos deixar, enfim, que alguém sofra entre nós por falta deste equipamento.

Transporte coletivo

O panorama em relação aos respiradores reforça ainda mais a importância do isolamento, e chama atenção para os pontos fracos de nossos esforços de prevenção.

Evidentemente um deles - talvez o maior deles - se encontra nos transportes coletivos, e precisamos dar a devida atenção ao tema.

Por aqui, a empresa Faol informa ao colunista que os ônibus estão sendo higienizados a cada viagem.

Uma medida de grande importância, que precisa continuar.

Transporte coletivo (2)

A coluna, todavia, continua a receber mensagens de leitores alertando para a escassez de ônibus em circulação e a grande lotação em algumas linhas e horários, que fragiliza todo o sacrifício do isolamento social e torna especialmente doloroso o sacrifício de quem está comprometendo a própria renda familiar em favor da segurança coletiva.

De modo específico, o colunista recebeu relatos vindos de Riograndina, dando conta da espera de aproximadamente uma hora na manhã desta quarta-feira pelo ônibus que seguiria para o Centro, e naturalmente o fez com grande quantidade de passageiros.

Espaço aberto

Cabe ao poder concedente se reunir com a concessionária para ver o que pode e precisa ser feito no sentido de proteger ao máximo quem precisa fazer deslocamentos desta natureza.

A coluna abre espaço para ajudar e dividir informações de interesse público com os leitores.

Casa de palha (1)

A coluna também não pode falar sobre respiradores sem se lembrar - pelo visto estamos ficando velhos - de apuração feita anos atrás pelo então vereador Cláudio Damião, quando da CPI da Saúde realizada no mandato passado.

À época foi levantado que dos 40 ventiladores pulmonares existentes, apenas 19 funcionavam. Os outros 21 estavam com defeito, e não havia reserva.

Pior: houve também um episódio no qual faltou energia, o gerador não funcionou, e os respiradores, aparentemente visto sem bateria, também não funcionaram.

Casa de palha (2)

Provavelmente é chover no molhado, mas o fato é que nossa cidade poderia estar muito mais bem preparada nesse momento se tivesse contado com uma classe política de melhor qualidade nas últimas décadas.

E isso, claro, passa fundamentalmente por mudar os parâmetros adotados no momento de votar.

Mesma mão

Será, enfim, que algum dia conseguiremos entender coletivamente que a mão que entrega o cheque é a mesma que desvia, abandona e mata?

Inclusive, não custa lembrar que tem político que agora (literalmente) faz campanha em favor do isolamento, mas que à época da CPI da Saúde fez de tudo para atrapalhar as investigações...

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A mesopotâmia fluminense

quinta-feira, 02 de abril de 2020

O município de São Sebastião do Alto possui uma benéfica posição geográfica. Situa-se entre dois importantes rios, o Grande e o Negro. É na localidade de Guarani que esses dois rios se encontram para formar o Rio Dois Rios que desagua no Paraíba do Sul. Em virtude dessa vantagem geográfica São Sebastião do Alto recebeu do prefeito Hermes Ferro a denominação de mesopotâmia fluminense. Logo, existe nesse município um grande potencial para o desenvolvimento da agricultura devido à riqueza de seus recursos hídricos.

O município de São Sebastião do Alto possui uma benéfica posição geográfica. Situa-se entre dois importantes rios, o Grande e o Negro. É na localidade de Guarani que esses dois rios se encontram para formar o Rio Dois Rios que desagua no Paraíba do Sul. Em virtude dessa vantagem geográfica São Sebastião do Alto recebeu do prefeito Hermes Ferro a denominação de mesopotâmia fluminense. Logo, existe nesse município um grande potencial para o desenvolvimento da agricultura devido à riqueza de seus recursos hídricos.

As primeiras sesmarias concedidas no território do atual município de São Sebastião do Alto datam do final do século 18. Francisco Clemente Pinto, primo do primeiro Barão de Nova Friburgo possuía fazendas em Ibipeba e Valão de Barro. Os grandes fazendeiros dessa região possuíam em média entre 100 e 200 escravos. São Sebastião de Alto era um importante produtor de café e deu ensejo a formação de uma elite cafeeira altense.

As terras de São Sebastião do Alto atraíram colonos suíços como os Dafflon, Leimgruber, Lutterbach e Wermellinger e no final do século 19 muitos colonos italianos. Merece destaque Cornélio de Souza Lima proprietário da Fazenda São Feliciano do Córrego dos Índios, que depois a rebatizou de Fazenda São Marcos. Ele estabeleceu em sua propriedade uma colônia de imigrantes italianos adotando o sistema de parceria agrícola. Nessa ocasião houve uma crise nacional de falta de mão-de-obra na lavoura que foi suprida com a vinda de colonos europeus, principalmente de italianos.

Entre as muitas famílias que vieram para a Fazenda São Marcos podemos citar as de Nicola e Pietro Temperini, Luigi Latini, Floriano Segalotti, Angelo Fratani, Carlo Badini, Luigi Sagretti, Pasquale Talarico, Constantino Castrini, Giovanni Pietrani, Ettore Bonan, Luigi Bollorini, Enrico Campagnucci, Secondo Bochimpani e Luigi Margaritini. Já a partir de 1920, o município diversifica sua atividade agrícola e expande a pecuária leiteira como alternativa ao declínio da produção de café.

Em 7 de dezembro de 1892, São Sebastião do Alto finalmente emancipou-se após passar por diversos processos de anexação a outros municípios. Porém, no ano de 1943, São Sebastião do Alto quase foi extinto por determinação do interventor do estado Ernani do Amaral Peixoto. Correu o risco de ter o seu território partilhado entre Itaocara e o novo município de Cordeiro que se pretendia criar. Graças ao empenho do prefeito Hermes Ferro o governador voltou atrás em sua decisão e os altenses mantiveram a sua autonomia. Essa campanha entrou na história do município como a Guerra da Autonomia.

Os dois políticos mais importantes e que governaram sucessivamente durante décadas São Sebastião do Alto foram os médicos Hermes Pereira Ferro e Antônio José Segalote Pontes. O censo econômico de 1960 revelou que São Sebastião do Alto possuía o segundo rebanho bovino do Estado do Rio perdendo apenas para Itaperuna. No ano seguinte foi considerado o maior produtor de feijão.

Atualmente a produção de legumes tem se destacado e notadamente o cultivo de tomate. No ano de 1962, iniciou-se a política de erradicação de cafezais antieconômicos através da criação do Gerca (Grupo Exclusivo da Recuperação Econômica da Cafeicultura). Milhões de cafezais antieconômicos, de baixa qualidade e de produtividade foram arrancados e os produtores rurais indenizados. Esse programa teve como objetivo diminuir a dependência do país da agricultura cafeeira. Abriu-se espaço para o incremento de outras culturas agrícolas e da pecuária nas áreas liberadas pela erradicação dos cafezais passando a ter uma produção agrária diversificada.

No entanto, a pecuária necessitava de pouca mão-de-obra e as outras culturas agrícolas que substituíram o café não absorveram os trabalhadores rurais que foram dispensados. Consequentemente inúmeros trabalhadores do campo ficaram sem emprego ocasionando o êxodo rural. Ainda que com tanto progresso, São Sebastião do Alto registrou ao longo de sua história um dos maiores índices de criminalidade do Estado do Rio de Janeiro.

Quando indaguei essa circunstância ao fazendeiro local Didymo Lopes Martins, ele me respondeu que a animosidade na região era em razão do clima muito quente. De fato, estudos científicos tem demonstrado que em lugares mais quentes o índice de violência é mais elevado. De acordo com os cientistas a violência aumentará no mundo inteiro em razão do aquecimento global.

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    A historiadora Janaína Botelho e pecuarista Luiz Latini no Vale do Muribeca

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    Fazenda Praia da Areia, típica casa de vivenda de S.S

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    Plantação de tomate em São Sebastião do Alto

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Vivendo em Família 24 horas por dia em quarentena - Parte 1

quinta-feira, 02 de abril de 2020

Muitas famílias estão num alto estresse por precisarem estar em casa o tempo todo em isolamento devido à pandemia do vírus corona. O que está ocorrendo? Perdeu-se o amor de uns pelos outros? Será que não mais existia amor e cada um empurrava o relacionamento com a barriga? E agora que marido e mulher têm de estar juntos o tempo todo surge a necessidade de ajustar os afetos do casal?

Muitas famílias estão num alto estresse por precisarem estar em casa o tempo todo em isolamento devido à pandemia do vírus corona. O que está ocorrendo? Perdeu-se o amor de uns pelos outros? Será que não mais existia amor e cada um empurrava o relacionamento com a barriga? E agora que marido e mulher têm de estar juntos o tempo todo surge a necessidade de ajustar os afetos do casal?

Agora precisamos encontrar maneiras de lidar com esta situação inesperada de tensão familiar. Claro, é mais tenso e conflituoso quanto maior era o desajuste já existente  entre o casal e os filhos. Quando escuto que algumas mães comentam que estão ficando loucas com seus filhos em casa neste momento de quarentena, me pergunto: Será que estas crianças são realmente terríveis? Será que estas mães deixavam seus filhos com babás, eletrônicos, TV, escola integral, avós, e agora não sabem como lidar com eles?

As crianças em isolamento social também sofrem. Podem ter medo, ansiedade, dúvidas, insegurança. Agora é hora de acolher seus filhos, orientá-los, deixá-los fazer perguntas e responder com cautela, verdade, carinho, e não com grosseria, impaciência e nervoso. Se seu filho ou filha está com medo, pare com tudo, deixe o celular de lado, desligue a TV, apague o fogo no fogão para não queimar a comida, e dê uns minutos de atenção para ele ou ela. Olhe nos olhos da criança, pergunte o que ela quer saber, o que está sentido. Deixe ela falar. Repito, deixe ela falar. Ela precisa e tem o direito de expressar medo, ansiedade, insegurança, e você, pai, você mãe, tem que estar ali para dar acolhimento para este pequenino, pequenina ou para este jovem. Esta é sua função como pai e como mãe.

Quando você orientar seu filho com o que ele quer saber, sem muitos detalhes, sem enfocar tragédias, sendo objetivo e usando linguagem que ele entenda, isto promoverá na criança proteção, segurança, e diminuirá a ansiedade dela. Se ela chorar e falar que está com medo, deixe ela chorar um pouquinho. Coloque-a no seu colo, faça um carinho nela, e diga que tudo vai ficar bem, que papai está ali, mamãe também, e que Deus nos ajuda e protege. Isto trará grande alívio para a criança. A criança tem sentimentos de angústia sim! Ela sabe que algo está ocorrendo e que não é bobagem, porque ela não está indo na escola, não está brincando com os amiguinhos no playground, na pracinha, no quintal de casa, ou mesmo na calçada. Então, dando acolhimento e orientação simples e verdadeira para ela, ela conseguirá lidar com este momento difícil para ela também.

Voltando à questão dos casais agora em confinamento em casa por causa da pandemia, este é um momento em que é possível cada um pensar no que está pendente no relacionamento, no que precisa conversar, ajustar, corrigir, entender, perdoar, e usar parte do tempo para conversar sobre isto. Agora é um tempo de oportunidade de não mais adiar o que está engasgado na vida conjugal. É boa hora de conversar para encontrar soluções e saídas para uma melhor qualidade de vida familiar.

Mas é verdade que os casais que já estavam pelas pontas em termos de brigas, talvez alguns em vias de separação, que já viviam distantes afetivamente, agora tendo que conviver o dia todo no mesmo ambiente, não é fácil, e pode sair muita faísca, e piorar tudo. Mas existe a opção de cada um, marido e esposa, parar e pensar consigo mesmo, decidindo que precisa fazer sua parte para lidar com esta situação não só de isolamento devido à uma pandemia, mas porque a situação conjugal precisa de soluções.

É também verdade que nos lares onde existia abusos, gritarias, violência, e agora talvez mais tenso devido a problemas financeiros, a situação fica agravada e necessita ajuda.

Vamos ver na coluna Saúde Mental e você da próxima quinta-feira, 9, algumas ideias do que fazer para minimizar, resolver, ou evitar conflitos em casa diante deste isolamento devido à Covid-19. Um grande e primeiro passo é cada um decidir, escolher lutar consigo mesmo para se controlar, e começar a pensar sozinho o que é necessário fazer da sua parte para evitar discussões, agressividade, ironia, críticas. Agora é hora de um ajudar o outro. Agora é hora de apoio e não de crítica. Agora é hora de se humilhar e deixar o orgulho de lado e reconhecer que todos estamos no mesmo barco. Não somos melhores e nem piores que ninguém. Pense nisso. Comece com isso. Respeite esta pessoa que está aí em sua casa.

Na segunda parte deste artigo trarei dicas práticas para um melhor convívio em casa neste momento de medo, insegurança, dúvidas, ansiedade e incerteza. Mas comece agora, decida agora ajudar a si e a todos se controlando emocionalmente para não perturbar ninguém dentro de casa.

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Ajustes necessários

quarta-feira, 01 de abril de 2020

Para pensar:
Encare a realidade como ela é, não como foi ou como você deseja que ela seja.” Jack Welch

Para refletir:
“A intuição precisa ser comandada pelo saber. Ela, só, não chega.” Milton Santos

Ajustes necessários

Para pensar:
Encare a realidade como ela é, não como foi ou como você deseja que ela seja.” Jack Welch

Para refletir:
“A intuição precisa ser comandada pelo saber. Ela, só, não chega.” Milton Santos

Ajustes necessários

A coluna nutre profundo respeito pelas instituições, e manifesta isso na prática muitas vezes abrindo mão de furos a fim de não esvaziar ou atrapalhar o trabalho de órgãos responsáveis por situações que merecem este tipo de atuação, mesmo quando esse trabalho demora muito a ser realizado.

E é com o respaldo desses anos de parceria que sentimos ser necessária uma conversinha entre amigos, para que possamos todos melhorar o trabalho em equipe nestes tempos em que oferecer informação de qualidade é algo que pode salvar vidas.

Precisa melhorar

A coluna não quer ser injusta com ninguém, nem irá deixar de ser producente enveredando pela busca por responsabilidades.

Partimos do princípio que estamos todos do mesmo lado e com os mesmos objetivos, e por isso este espaço acredita que ninguém irá se ofender quando dizemos - com muito respaldo para isso - que a situação aqui em Nova Friburgo não está sendo de forma alguma satisfatória no que diz respeito à atualização de informações oficiais.

É de se supor que todos tenham plena consciência disso.

Discrepância

Ultimamente a coluna tem sido procurada inclusive por profissionais da Saúde, angustiados com a grande discrepância entre os dados oficiais e a realidade observada cotidianamente e, sobretudo, com os efeitos dessa distância informativa sobre uma população que naturalmente é levada a acreditar que o contexto oferece menos riscos do que o que aqueles que se observa na prática.

Desde o início estamos dizendo que os números oficiais não deveriam reduzir o empenho preventivo, mas na prática sabemos que não é assim que funciona, ao menos para muitos.

Unificação de dados

A coluna também entende que muitas informações procedem da esfera estadual, e que os testes são insuficientes e os resultados demoram a chegar.

Mas existem muitas coisas que podemos e precisamos fazer para melhorar o que temos visto.

De imediato, as redes pública e particular precisam estar alinhadas e em constante comunicação para cruzamento de dados, e também para dar total transparência à população sobre o que estamos vivendo, por mais que alguns torçam o nariz para isso.

Desobstruir as vias

É preciso entender que a imprensa respeita o papel do governo como fonte oficial de informação, e ninguém que faça jornalismo responsável quer subverter isso.

Mas as informações não podem ser contidas, e quando não encontram uma via oficial suficientemente larga para que sejam escoadas acabam vazando por vias alternativas e eventualmente virando sensacionalismo e histeria antes mesmo de serem confirmadas.

A única forma de evitar isso é municiar a imprensa séria com dados e respostas em quantidade e qualidade maiores do que as que vêm sendo oferecidas atualmente.

Clareza

Esse espaço fica a disposição para reforçar a cobrança à esfera estadual, mas também espera que nossos próprios boletins sejam mais precisos, listando, por exemplo, testes positivos realizados também por via particular, testes positivos pós-óbito, e perfis dessas pessoas (gênero, idade, comorbidades, bairros...).

Da mesma forma todas as categorias listadas precisam estar bem explicadas, inclusive trazendo informações básicas como, por exemplo, se os números de suspeitos e internados já foram somados ou não.

Sinais

À população a coluna pode afirmar que o contato com muitos médicos nas redes pública e privada desenha um cenário no qual existem, aqui em Nova Friburgo, “dezenas de tomografias indicando quadros compatíveis com os efeitos da Covid-19”.

De acordo com uma fonte na Fiocruz, em todo o Sudeste o número de casos de mortes causadas por doenças respiratórias subiu 512% no mesmo período de 2019 para 2020, indicando que existem muitos casos não diagnosticados da doença no Brasil, e não há motivos para acreditar que por aqui seja exceção.

Eficácia

É importante enfatizar, por fim, que apesar do atraso e da subnotificação em relação a nossos números oficiais, já são sensíveis os efeitos positivos do isolamento social sobre a curva de contágio brasileira.

Tais esforços ainda podem e precisam melhorar, e para isso é importante que a população seja tratada de forma honesta e madura, a fim de que compreenda que a situação é mais séria do que pode parecer, mas as medidas que estamos adotando são eficazes e muito necessárias para a preservação de vidas.

Recomendação

Certamente voltaremos ao tema nos próximos dias, mas por ora a coluna recomenda fortemente que os leitores busquem, no YouTube, o programa Roda Viva com o biólogo Atila Iamarino, que foi ao ar na segunda-feira, 30 de março.

Como as informações têm se tornado obsoletas muito rapidamente, quanto antes os amigos leitores puderem ver, melhor.

Sessão virtual

O Plenário da Câmara Municipal irá votar, nesta quinta-feira, 2 de abril, a proposta que trata da implantação das sessões virtuais no Poder Legislativo de Nova Friburgo, em sessão ordinária marcada para às 10hs.

A medida pretende possibilitar o funcionamento do Plenário durante a emergência de saúde pública relacionada ao coronavírus.

Como

Se aprovada, a comunicação por áudio e vídeo entre os participantes das sessões será feita por meio de aplicativo multiplataforma para smarthfones previamente habilitado, através de conexão com a internet, que permita discussões e votações com transmissão instantânea. A matéria prevê ainda que o registro das votações, realizadas verbalmente, será feito por meio de ata.

Nestas sessões serão votadas apenas matérias de interesse público inadiável e/ou que se relacionem às ações de saúde pública de prevenção e contenção da Covid-19, que não possam aguardar a normalização da situação vivenciada.

Detalhes

Ainda segundo a resolução, as convocações serão feitas por WhatsApp 24 horas antes das sessões, e será possível apresentar emendas e/ou substitutivos aos projetos.

Pareceres das comissões permanentes ficam dispensados, exceto os da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e Comissão de Finanças, Orçamento, Tributação e Planejamento, que poderão ser apresentados por escrito ou verbalmente na sessão.

Para a apresentação de projetos legislativos desses conteúdos, a Secretaria de Expediente fará atendimento de segunda à sexta das 9h às 13h no Portal da Cidadania, na Rua Augusto Spinelli.

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Devolução de mercadorias

quarta-feira, 01 de abril de 2020

Devolução de mercadorias
A indústria friburguense e as confecções de médio e grande porte se deparam com um novo problema. Além dos estoques de seus galpões, cujas encomendas estavam prontas para serem despachadas, muitos compradores iniciaram o processo de devolução de produtos. Estão mandando de volta o que compraram. Em alguns casos, preferem pagar o fretamento da devolução do que ficar com a mercadoria.

Devolução de mercadorias
A indústria friburguense e as confecções de médio e grande porte se deparam com um novo problema. Além dos estoques de seus galpões, cujas encomendas estavam prontas para serem despachadas, muitos compradores iniciaram o processo de devolução de produtos. Estão mandando de volta o que compraram. Em alguns casos, preferem pagar o fretamento da devolução do que ficar com a mercadoria.

Pagamento da folha
A grande maioria com produções paradas, observando as medidas de restrição e seguindo conselhos da Organização Mundial de Saúde, demonstram preocupação em quitar as folhas de pagamento deste e dos próximos meses.

Emprego como prioridade
Reuniões virtuais entre os maiores empresários demonstram preocupação com a recessão que já vem se acumulando desde 2014. O que se sente é um grau de responsabilidade social em evitar ao máximo as demissões. O problema é que entre a intenção e a realidade há um grande abismo.

Sem caixa
Poucas, para não dizer raras, têm reservas para segurar a situação que se avizinha por mais de um mês. Com a projeção de retomada lenta de produção e venda, a situação se agrava. Consenso é que se torna primordial pacotes governamentais de incentivo e de financiamentos para evitar o colapso social do desemprego em larga escala.

Falta de condições
O problema maior é a demora de se tomar decisões. Entre o anúncio e a efetivação das medidas há um tempo considerado crítico. A burocracia é outra dificultadora. Ou seja, de nada adiantam as medidas aventadas, se não mudar ou afrouxar regras que praticamente inviabilizam a habilitação para se chegar aos supostos recursos.

Corrida contra o tempo
O mesmo ocorre com as medidas de socorro a autônomos, trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores individuais. Até o socorro chegar na ponta, grife-se - no bolso das famílias – lá se vai quase um mês. Será que todos tem essa possibilidade de espera?                     

Gasolina mais barata
Motoristas já percebem a grande queda no preço dos combustíveis nos postos de Nova Friburgo. Na maioria, o litro da gasolina está R$ 0,30 mais barato em comparação com duas semanas antes das restrições de circulação por conta do Covid-19.

Por que?
Dois fatores podem explicar o menor preço de meses: a queda no preço do barril de petróleo por conta da guerra comercial entre países asiáticos e do leste europeu e a baixa procura por conta da pandemia. Numa rápida pesquisa, o preço mais baixo que encontrei foi de R$ 4,19 a gasolina/litro e o mais alto R$ 4,99.

Grande queda
Antes da pandemia, não se encontrava em Nova Friburgo gasolina mais barata que R$ 4,69. Resta saber se os preços se manterão após a o retorno parcial das atividades. Se for pela guerra comercial internacional - deveriam. Se for pela pandemia tendem a aumentar. Mas mesmo assim, na conjunção dos fatores, uma queda deveria se manter.

Quando?
O retorno normal das atividades é discussão diária. A maioria dos especialistas em saúde, especificamente no Estado do Rio falam em pelo menos oito semanas. Dada a especificidade da situação do interior fluminense, hoje parcialmente isolado territorialmente da região metropolitana. Colhi a opinião do pneumologista Renato Abi-Râmia. Mesmo com menor número de casos e o isolamento sanitário, ele acredita também nesse prazo com o início de uma transição do isolamento total para o parcial.

Palavreando
“Se nós prestássemos mais atenção nos nossos poderes. Nós temos muitos poderes. O sorriso é um deles. É um poder magnífico que produz milagres. Preste atenção! Não existem milagres grandes ou pequenos. Milagre é milagre sempre”.

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    Frases de incentivo nas portas fechadas de lojas da Ariosto Bento de Mello. A empatia como remédio

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Leituras e releituras

quarta-feira, 01 de abril de 2020

A ira, o único pecado que, segundo o narrador, Deus se permite cometer

O grande poeta João Cabral de Mello Neto disse que estava velho demais para se arriscar com leituras novas, que poderiam não valer a pena, e que por isso não lia mais, só relia. Eu ainda não abri mão de leituras novas, mas sempre tive o hábito de revisitar livros que me ficaram na memória e na emoção. E agora, que um vírus, essa porcaria tão pequena que nem se pode enxergar, está nos assustando e nos obrigando a ficar em casa, tenho dedicado ainda mais tempo à releitura.

A ira, o único pecado que, segundo o narrador, Deus se permite cometer

O grande poeta João Cabral de Mello Neto disse que estava velho demais para se arriscar com leituras novas, que poderiam não valer a pena, e que por isso não lia mais, só relia. Eu ainda não abri mão de leituras novas, mas sempre tive o hábito de revisitar livros que me ficaram na memória e na emoção. E agora, que um vírus, essa porcaria tão pequena que nem se pode enxergar, está nos assustando e nos obrigando a ficar em casa, tenho dedicado ainda mais tempo à releitura.

De Machado de Assis, reli a obra-prima ”Quincas Borba”, prima de outros personagens de primeira, principalmente de seus primos Dom Casmurro e Brás Cubas. Na trama, o modesto e ingênuo professor Rubião fica milionário, ao se tornar herdeiro de Quincas Borba. Não convém dizer mais do que isso, talvez apenas acrescentar que Rubião vai conquistar a (falsa) amizade do casal Palha e apaixonar-se por Sofia, esposa do (falso) amigo. Amor de enlouquecer, como se verá ao longo do desenrolar dos acontecimentos. Não sendo possível nem conveniente contar aqui a história toda, transcrevo a única piada explícita desse livro cheio de humor tão amargo e irônico.

“Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona — um triste molambo de mulher, — chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela.

“ —  É minha, meu senhor; isto é tudo que eu possuía neste mundo.

“ — Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?”

Reli também “Xadrez, truco e outras guerras”, de José Roberto Torero. Narrativa que, com humor sutil e corrosivo, revela o quanto a ambição e vaidade dos poderosos podem custar caro, a cara e a vida dos humildes, que são esses que vão para a guerra, morrer no lugar dos que têm poder. Mais ou menos inspirado na Guerra do Paraguai, o livro trata da ira, o único pecado que, segundo o narrador, Deus se permite cometer.

Ambição, violência, amor e morte se misturam desde o palácio do rei até os campos de batalha, onde soldados dos dois lados se atacam irados, sem saber por que morrem e sem saber por que matam. Só como aperitivo, aí vão alguns trechos colhidos ao acaso durante a leitura:

“A vitória tem muitas mães, mas a derrota é sempre órfã”.

— Coronel, a ira é para o soldado o que o capim é para o jumento.

— Devo-lhe a vida./ — Então não me deves nada.

— Tens a língua afiada demais. / — Sempre é bom, se nos falta a faca.

— E quem será o novo inimigo?/ — O país do Leste./ — É um país pequeno e fraco./ — Eu sei. Por isso vou atacá-lo”.

— Se nos contentarmos em sermos como somos, nunca seremos o que poderíamos ser.

Agora tenho nas mãos “As coisas boas da vida”, de Rubem Braga, o “inimitável sabiá da crônica”, como o chamou Paulo Mendes Campos. Basta esse apelido para se perceber o cronista inigualável que Rubem Braga foi. Do livro, limito-me a transcrever esse trechinho em que ele lamenta o estado a que ficou reduzido o riacho que, quando menino, ele via passar ao lado de sua casa: “Não, esta crônica não pretende salvar o Brasil. Vem apenas dar um testemunho, perante a História, a Geografia e a Nação de uma agonia humilde: um córrego está morrendo. E ele foi o mais querido, o mais alegre, o mais terno amigo de minha infância”.

Bem, creio que os leitores, inteligentes como são, perceberam que, por falta de assunto, vali-me de autores que andei relendo nesses dias de reclusão forçada. Posso não ter sido muito criativo, mas o leitor não tem do que se queixar, porque, ao menos dessa vez, dei-lhe a oportunidade de ler textos de qualidade nesta coluna.

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As máscaras e o Covid-19

quarta-feira, 01 de abril de 2020

Muito se tem falado sobre as máscaras cirúrgicas simples e a N-95.  Nesses tempos de pandemia, as pessoas simplesmente passaram a compra-las indiscriminadamente e elas desapareceram do mercado. E o que pior, quando as achamos, são vendidas por preços abusivos. No entanto, qual o valor desse tão cobiçado objeto na atual situação em que estamos vivendo?

Muito se tem falado sobre as máscaras cirúrgicas simples e a N-95.  Nesses tempos de pandemia, as pessoas simplesmente passaram a compra-las indiscriminadamente e elas desapareceram do mercado. E o que pior, quando as achamos, são vendidas por preços abusivos. No entanto, qual o valor desse tão cobiçado objeto na atual situação em que estamos vivendo?

A máscara que as pessoas usam normalmente é a mais comum, feita em polipropileno não tecido (TNT), isenta de fibra de vidro, na cor branca, atóxica, não estéril e não inflamável. Pode ter um clique nasal para auxiliar a fixação junto ao rosto; já a N-95 é para proteção das vias respiratórias e redução da exposição contra certos aerodispersóides em uma faixa de tamanho de partículas de 0,1 a 10 micra (diâmetro aerodinâmico médio) ou maiores. É recomendado ainda para uso como barreira de nível médio (máscara cirúrgica) em procedimentos nos quais exista risco de respingos ou projeções de sangue e outros fluidos corpóreos potencialmente contagiosos sobre a face do usuário. Neste caso, deve ser utilizado em conjunto com protetor facial ou óculos de segurança, preferencialmente do tipo ampla visão.

Dito isso, de acordo com as recomendações de virologistas e da própria OMS (Organização Mundial da Saúde) o uso de máscaras de polipropileno, deveria ser somente feito pelas pessoas infectadas, impedindo assim a dispersão do vírus. O mais importante, para quem não está contaminado, é lavar as mãos com frequência ou com aplicação de álcool gel (quando esse é encontrado), evitando esfrega-las no rosto, olhos ou nariz. É importante manter os locais bem arejados, evitar concentração de pessoas e manter uma distância mínima de um metro e meio entre os indivíduos. A transmissão é feita pelas gotículas em suspensão no ar, provenientes da tosse, em particular, ou do contato das mãos com superfícies onde elas se depositam e, em seguida, passadas no rosto.

Quanto à N-95 ela é mais para uso do pessoal que trabalha em hospitais, principalmente em CTI onde, aliás, deve ser usada em conjunto com outros EPIs (equipamento de proteção individual); mesmo assim, muitos médicos e paramédicos têm se infectado, pois é muito importante a maneira como se retira esses equipamentos e é, aí, que pode ocorrer a contaminação.

Existe uma histeria coletiva com relação a atual pandemia, estimulada pela mídia mal intencionada, ávida em transmitir desgraças e mais desgraças, esquecendo que um alerta bem feito e bem substanciado é muito mais eficaz. Lembro-me da famosa enchente que assolou a cidade do Rio de Janeiro, em 1961. Foi a cobertura diária, mostrando a desgraça dos mais pobres, massacrando os ouvidos e olhos das pessoas com notícias a todo momento que alavancou a Rede Globo e a tornou líder de audiência a partir daí. Na pandemia atual, ela age da mesma maneira, em busca da retomada perdida da preferência do telespectador.

Confesso que desisti, pois estava chegando num ponto de estresse tamanho que, fatalmente, iria comprometer a minha saúde.  Hoje, respeitando esse período de quarentena, limito-me a assistir o Jornal da Record, às 19h45, a TV-5, francesa, aos filmes dos canais fechados e a uma boa leitura.

Mas, a cabeça não deixa de trabalhar, pois existe a certeza de que a quarentena horizontal vai levar a economia mundial à bancarrota, exceto os chineses, grande beneficiados por esta crise, por mais que o “embaixadorzinho de olhos rasgadinhos” fique irritado quando se toca nesse assunto. Regimes de esquerda sempre cultivaram a arte de mentir e quem nos garante que a situação na China voltou realmente à normalidade? Na realidade quem mais lucrou e está lucrando com a desgraça dos outros é a China, cuja economia vai sair desse período muito mais fortalecida.

Portanto, talvez o isolamento vertical, ou seja, dos idosos, imuno depressivos e crianças, pelo risco que essas podem trazer para os demais, seja uma condição a ser estudada, a partir de agora.

O Covid-19 é genuinamente “Made in Chine” e ainda é tempo de repensarmos e começarmos a recusar produtos daquele país. Podem ser mais baratos, mas às custas de trabalho escravo e cheios de risco.

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Pelas obras

quarta-feira, 01 de abril de 2020

“E que os tenhais em grande estima e amor por causa da sua obra.” – Paulo. (1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:13.)

Esta passagem de Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, é singularmente expressiva para a nossa luta cotidiana.

“E que os tenhais em grande estima e amor por causa da sua obra.” – Paulo. (1ª Epístola aos Tessalonicenses, 5:13.)

Esta passagem de Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, é singularmente expressiva para a nossa luta cotidiana.

 Todos experimentamos a tendência de consagrar a maior estima apenas àqueles que leiam a vida pela cartilha dos nossos pontos de vista. Nosso devotamento é sempre caloroso para quantos nos esposem os modos de ver, os hábitos enraizados e os princípios sociais; todavia, nem sempre nossas interpretações são as melhores, nossos costumes os mais nobres e nossas diretrizes as mais elogiáveis.

Daí procede o impositivo de desintegração da concha do nosso egoísmo para dedicarmos nossa amizade e respeito aos companheiros, não pela servidão afetiva com que se liguem ao nosso roteiro pessoal, mas pela fidelidade com que se norteiam em favor do bem comum.

Se amamos alguém tão-só pela beleza física, é provável que encontremos amanhã o objeto de nossa afeição a caminho do monturo.

Se estimamos em algum amigo apenas a oratória brilhante, é possível que esteja ele em aflitiva mudez, dentro em breve.

Se nos consagramos a determinada criatura só porque nos obedeça cegamente, é provável que estejamos provocando a queda de outros nos mesmos erros em que temos incidido tantas vezes.

É imprescindível aperfeiçoar nosso modo de ver e de sentir, a fim de avançarmos no rumo da vida superior.

Busquemos as criaturas, acima de tudo, pelas obras com que beneficiam o tempo e o espaço em que nos movimentamos, porque, um dia, compreenderemos que o melhor raramente é aquele que concorda conosco, mas é sempre aquele que concorda com o Senhor, colaborando com ele, na melhoria da vida, dentro e fora de nós.

Extraído do livro Fonte Viva; Espírito Emmanuel; Médium Francisco Cândido Xavier

CENTRO ESPÍRITA CAMINHEIROS DO BEM – 62 ANOS
Fundado em 13/10/1957
Iluminando mentes – Consolando corações

Rua Presidente Backer, 14 – Olaria - Nova Friburgo – RJ
Reuniões doutrinárias: quartas-feiras, 14h; quintas-feiras, 20h e domingos, 17h.
E-mail: caminheirosdobem@frionline.com.br
Visite a Banca do Livro Espírita na Avenida Alberto Braune.
Programa Atualidade Espírita, do 8º CEU, na TV Zoom, canal 10 – sábados, 9h.

 

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