A mesopotâmia fluminense

quinta-feira, 02 de abril de 2020

O município de São Sebastião do Alto possui uma benéfica posição geográfica. Situa-se entre dois importantes rios, o Grande e o Negro. É na localidade de Guarani que esses dois rios se encontram para formar o Rio Dois Rios que desagua no Paraíba do Sul. Em virtude dessa vantagem geográfica São Sebastião do Alto recebeu do prefeito Hermes Ferro a denominação de mesopotâmia fluminense. Logo, existe nesse município um grande potencial para o desenvolvimento da agricultura devido à riqueza de seus recursos hídricos.

As primeiras sesmarias concedidas no território do atual município de São Sebastião do Alto datam do final do século 18. Francisco Clemente Pinto, primo do primeiro Barão de Nova Friburgo possuía fazendas em Ibipeba e Valão de Barro. Os grandes fazendeiros dessa região possuíam em média entre 100 e 200 escravos. São Sebastião de Alto era um importante produtor de café e deu ensejo a formação de uma elite cafeeira altense.

As terras de São Sebastião do Alto atraíram colonos suíços como os Dafflon, Leimgruber, Lutterbach e Wermellinger e no final do século 19 muitos colonos italianos. Merece destaque Cornélio de Souza Lima proprietário da Fazenda São Feliciano do Córrego dos Índios, que depois a rebatizou de Fazenda São Marcos. Ele estabeleceu em sua propriedade uma colônia de imigrantes italianos adotando o sistema de parceria agrícola. Nessa ocasião houve uma crise nacional de falta de mão-de-obra na lavoura que foi suprida com a vinda de colonos europeus, principalmente de italianos.

Entre as muitas famílias que vieram para a Fazenda São Marcos podemos citar as de Nicola e Pietro Temperini, Luigi Latini, Floriano Segalotti, Angelo Fratani, Carlo Badini, Luigi Sagretti, Pasquale Talarico, Constantino Castrini, Giovanni Pietrani, Ettore Bonan, Luigi Bollorini, Enrico Campagnucci, Secondo Bochimpani e Luigi Margaritini. Já a partir de 1920, o município diversifica sua atividade agrícola e expande a pecuária leiteira como alternativa ao declínio da produção de café.

Em 7 de dezembro de 1892, São Sebastião do Alto finalmente emancipou-se após passar por diversos processos de anexação a outros municípios. Porém, no ano de 1943, São Sebastião do Alto quase foi extinto por determinação do interventor do estado Ernani do Amaral Peixoto. Correu o risco de ter o seu território partilhado entre Itaocara e o novo município de Cordeiro que se pretendia criar. Graças ao empenho do prefeito Hermes Ferro o governador voltou atrás em sua decisão e os altenses mantiveram a sua autonomia. Essa campanha entrou na história do município como a Guerra da Autonomia.

Os dois políticos mais importantes e que governaram sucessivamente durante décadas São Sebastião do Alto foram os médicos Hermes Pereira Ferro e Antônio José Segalote Pontes. O censo econômico de 1960 revelou que São Sebastião do Alto possuía o segundo rebanho bovino do Estado do Rio perdendo apenas para Itaperuna. No ano seguinte foi considerado o maior produtor de feijão.

Atualmente a produção de legumes tem se destacado e notadamente o cultivo de tomate. No ano de 1962, iniciou-se a política de erradicação de cafezais antieconômicos através da criação do Gerca (Grupo Exclusivo da Recuperação Econômica da Cafeicultura). Milhões de cafezais antieconômicos, de baixa qualidade e de produtividade foram arrancados e os produtores rurais indenizados. Esse programa teve como objetivo diminuir a dependência do país da agricultura cafeeira. Abriu-se espaço para o incremento de outras culturas agrícolas e da pecuária nas áreas liberadas pela erradicação dos cafezais passando a ter uma produção agrária diversificada.

No entanto, a pecuária necessitava de pouca mão-de-obra e as outras culturas agrícolas que substituíram o café não absorveram os trabalhadores rurais que foram dispensados. Consequentemente inúmeros trabalhadores do campo ficaram sem emprego ocasionando o êxodo rural. Ainda que com tanto progresso, São Sebastião do Alto registrou ao longo de sua história um dos maiores índices de criminalidade do Estado do Rio de Janeiro.

Quando indaguei essa circunstância ao fazendeiro local Didymo Lopes Martins, ele me respondeu que a animosidade na região era em razão do clima muito quente. De fato, estudos científicos tem demonstrado que em lugares mais quentes o índice de violência é mais elevado. De acordo com os cientistas a violência aumentará no mundo inteiro em razão do aquecimento global.

  • Foto da galeria

    A historiadora Janaína Botelho e pecuarista Luiz Latini no Vale do Muribeca

  • Foto da galeria

    Fazenda Praia da Areia, típica casa de vivenda de S.S

  • Foto da galeria

    Plantação de tomate em São Sebastião do Alto

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.