Vivendo em Família 24 horas por dia em quarentena - Parte 1

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 02 de abril de 2020

Muitas famílias estão num alto estresse por precisarem estar em casa o tempo todo em isolamento devido à pandemia do vírus corona. O que está ocorrendo? Perdeu-se o amor de uns pelos outros? Será que não mais existia amor e cada um empurrava o relacionamento com a barriga? E agora que marido e mulher têm de estar juntos o tempo todo surge a necessidade de ajustar os afetos do casal?

Agora precisamos encontrar maneiras de lidar com esta situação inesperada de tensão familiar. Claro, é mais tenso e conflituoso quanto maior era o desajuste já existente  entre o casal e os filhos. Quando escuto que algumas mães comentam que estão ficando loucas com seus filhos em casa neste momento de quarentena, me pergunto: Será que estas crianças são realmente terríveis? Será que estas mães deixavam seus filhos com babás, eletrônicos, TV, escola integral, avós, e agora não sabem como lidar com eles?

As crianças em isolamento social também sofrem. Podem ter medo, ansiedade, dúvidas, insegurança. Agora é hora de acolher seus filhos, orientá-los, deixá-los fazer perguntas e responder com cautela, verdade, carinho, e não com grosseria, impaciência e nervoso. Se seu filho ou filha está com medo, pare com tudo, deixe o celular de lado, desligue a TV, apague o fogo no fogão para não queimar a comida, e dê uns minutos de atenção para ele ou ela. Olhe nos olhos da criança, pergunte o que ela quer saber, o que está sentido. Deixe ela falar. Repito, deixe ela falar. Ela precisa e tem o direito de expressar medo, ansiedade, insegurança, e você, pai, você mãe, tem que estar ali para dar acolhimento para este pequenino, pequenina ou para este jovem. Esta é sua função como pai e como mãe.

Quando você orientar seu filho com o que ele quer saber, sem muitos detalhes, sem enfocar tragédias, sendo objetivo e usando linguagem que ele entenda, isto promoverá na criança proteção, segurança, e diminuirá a ansiedade dela. Se ela chorar e falar que está com medo, deixe ela chorar um pouquinho. Coloque-a no seu colo, faça um carinho nela, e diga que tudo vai ficar bem, que papai está ali, mamãe também, e que Deus nos ajuda e protege. Isto trará grande alívio para a criança. A criança tem sentimentos de angústia sim! Ela sabe que algo está ocorrendo e que não é bobagem, porque ela não está indo na escola, não está brincando com os amiguinhos no playground, na pracinha, no quintal de casa, ou mesmo na calçada. Então, dando acolhimento e orientação simples e verdadeira para ela, ela conseguirá lidar com este momento difícil para ela também.

Voltando à questão dos casais agora em confinamento em casa por causa da pandemia, este é um momento em que é possível cada um pensar no que está pendente no relacionamento, no que precisa conversar, ajustar, corrigir, entender, perdoar, e usar parte do tempo para conversar sobre isto. Agora é um tempo de oportunidade de não mais adiar o que está engasgado na vida conjugal. É boa hora de conversar para encontrar soluções e saídas para uma melhor qualidade de vida familiar.

Mas é verdade que os casais que já estavam pelas pontas em termos de brigas, talvez alguns em vias de separação, que já viviam distantes afetivamente, agora tendo que conviver o dia todo no mesmo ambiente, não é fácil, e pode sair muita faísca, e piorar tudo. Mas existe a opção de cada um, marido e esposa, parar e pensar consigo mesmo, decidindo que precisa fazer sua parte para lidar com esta situação não só de isolamento devido à uma pandemia, mas porque a situação conjugal precisa de soluções.

É também verdade que nos lares onde existia abusos, gritarias, violência, e agora talvez mais tenso devido a problemas financeiros, a situação fica agravada e necessita ajuda.

Vamos ver na coluna Saúde Mental e você da próxima quinta-feira, 9, algumas ideias do que fazer para minimizar, resolver, ou evitar conflitos em casa diante deste isolamento devido à Covid-19. Um grande e primeiro passo é cada um decidir, escolher lutar consigo mesmo para se controlar, e começar a pensar sozinho o que é necessário fazer da sua parte para evitar discussões, agressividade, ironia, críticas. Agora é hora de um ajudar o outro. Agora é hora de apoio e não de crítica. Agora é hora de se humilhar e deixar o orgulho de lado e reconhecer que todos estamos no mesmo barco. Não somos melhores e nem piores que ninguém. Pense nisso. Comece com isso. Respeite esta pessoa que está aí em sua casa.

Na segunda parte deste artigo trarei dicas práticas para um melhor convívio em casa neste momento de medo, insegurança, dúvidas, ansiedade e incerteza. Mas comece agora, decida agora ajudar a si e a todos se controlando emocionalmente para não perturbar ninguém dentro de casa.

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O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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