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Não caiu de podre, foi incompetência mesmo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Como tudo só acontece ao Botafogo, eis que faltando três rodadas para o término do Campeonato Brasileiro de 2020, o alvinegro carioca já está rebaixado; só lhe resta agora perder os últimos jogos, terminar na lanterna, após uma pífia participação na competição, a pior em sua história outrora gloriosa, pois quem vive do passado é museu.

Como tudo só acontece ao Botafogo, eis que faltando três rodadas para o término do Campeonato Brasileiro de 2020, o alvinegro carioca já está rebaixado; só lhe resta agora perder os últimos jogos, terminar na lanterna, após uma pífia participação na competição, a pior em sua história outrora gloriosa, pois quem vive do passado é museu.

Sua apaixonada torcida amarga uma terceira queda, também uma novidade entre os clubes do Rio de Janeiro, infelizmente escabreada, pois assim como aconteceu com o Cruzeiro, de Belo Horizonte-MG, sua volta à elite do futebol brasileiro não vai ser fácil, como o foi nas outras duas quedas. Cada diretoria que passa se esmera em incompetência e, como os sucessivos presidentes são todos oriundos do grupo de Carlos Augusto Montenegro, nada vai mudar.

O atual elenco (vamos deixar de fora os da base, pois esses são o nosso futuro, mas lhes falta experiência) é um dos piores que já vestiram a, então, gloriosa camisa da estrela solitária, e os componentes da diretoria achavam que a solução era trocar técnicos, como se esses tivessem condições de ensinar fundamentos do futebol aos nossos cabeças de bagre. Pior, num clube que deve perto de R$ 1 milhão, trazer o japonês Keisuke Honda, de 34 anos e o marfinense Salomon Kalou, também de 34 anos, com salários mais altos foi uma irresponsabilidade. Afinal, o clube está com as finanças combalidas e mesmo com toda a pompa e circunstância que os dois reforços internacionais chegaram, foram uma decepção, não contribuindo em nada com as suas presenças em campo. Muita pólvora para pouco festim.

O mais triste é que as diretorias que se sucederam, presas de uma incompetência monumental, jamais atentaram para a necessidade de atrair a torcida, com um time que fosse barato, mas competitivo, pois isso alavancaria o marketing do clube, atraindo investidores e aumentando a venda de uniformes, e outros objetos com a marca do Botafogo. Quem, de sã consciência vai se animar em investir num clube falido, de segunda divisão, muito mais para cair para a série C, em 2021, do que voltar à série A.

Jogadores desmotivados, não comprometidos com o time, que conseguiram em 34 rodadas quatro vitórias, 12 empates e 18 derrotas. Já totalmente descrentes com o destino do time, preferiram, alguns, frequentar as baladas, muito mais emocionantes que um campo de futebol. Matematicamente rebaixado para a segundona, tem tudo para terminar o campeonato na última colocação, lanterna da maior competição do Brasil. Sem falar que fora a Copa do Brasil, que qualquer timinho de interior disputa a primeira fase, está fora da Sul Americana e da Libertadores da América, dois torneios que trazem dinheiro, para aqueles que passam de fase. O Botafogo de 2021 vai ficar restrito às cotas de televisão da série B, muito inferiores ao da série A, ao que conseguir amealhar de cotas do Campeonato Carioca, também muito baixas e da Copa do Brasil, onde sempre sobra pelo caminho.

É triste, muito triste ver o clube do coração prostrado, sem nenhuma perspectiva de se levantar e voltar aos tempos em que era respeitado e impunha respeito aos adversários. A nós torcedores só resta a oração, e temos de rezar muito, pois o futuro é escuro, sem nenhuma luz ao final do túnel.

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A razão da dor

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Raquel, antiga servidora da residência de Cusa, ergueu a voz para indagar do mestre por que motivo a dor se convertia em aflição nos caminhos do mundo.

Não era o homem criação de Deus? Não dispõe a criatura do abençoado concurso dos anjos? Não vela o céu sobre os destinos da humanidade?

Jesus fitou na interlocutora o olhar firme e considerou:

Raquel, antiga servidora da residência de Cusa, ergueu a voz para indagar do mestre por que motivo a dor se convertia em aflição nos caminhos do mundo.

Não era o homem criação de Deus? Não dispõe a criatura do abençoado concurso dos anjos? Não vela o céu sobre os destinos da humanidade?

Jesus fitou na interlocutora o olhar firme e considerou:

— A razão da dor humana procede da proteção divina. Os povos são famílias de Deus que, à maneira de grandes rebanhos, são chamados ao aprisco do alto. A Terra é o caminho. A luta que ensina e edifica é a marcha. O sofrimento é sempre o aguilhão que desperta as ovelhas distraídas à margem da senda verdadeira.

Alguns instantes se escoaram mudos e o mestre voltou a ponderar:

— O excesso de poder favorece o abuso, a demasia de conforto, não raro, traz o relaxamento, e o pão que se amontoa, de sobra, costuma servir de pasto aos vermes que se alegram no mofo...

Reparando, porém, que a assembleia de amigos lhe reclamava explicação mais ampla, elucidou fraternalmente:

— Um anjo, por ordem do eterno pai, tomou à própria conta um homem comum, desde o nascimento. Ensinou-lhe a alimentar-se, a mover os membros e os músculos, a sorrir, a repousar e a asilar-se nos braços maternos. Sem afastar-se do protegido, dia e noite, deu-lhe as primeiras lições da palavra e, em seguida, orientou-lhe os impulsos novos, favorecendo-lhe o ensejo de aprender a raciocinar, a ler, a escrever e a contar. Afastava-o, hora a hora, de influências perniciosas ou mortíferas de espíritos infelizes que o arrebatariam, por certo para o sorvedouro da morte.

Soprando-lhe ao pensamento ideias iluminadas aos clarões do infinito bem, através de mil modos de socorro imperceptível, garantiu-lhe a saúde e o equilíbrio do corpo. Dava-lhe medicamentos invisíveis, por intermédio do ar e da água, da vestimenta e das plantas. Vezes sem conta, salvou-o do erro, do crime e dos males sem remédio que atormentam os pecadores.

Ao amanhecer, o pajem celestial acorria, atento, preparando-lhe dia calmo e proveitoso, defendendo-lhe a respiração, a alimentação e o pensamento, vigiando-lhe os passos, com amor, para melhor preservar-lhe os dons; ao anoitecer, postava-se-lhe à cabeceira, amparando-lhe o corpo contra o ataque de gênios infernais, aguardando-o, com maternal cuidado, para as doces instruções espirituais nos momentos de sono. No transcurso da vida, guiou-lhe os ideais, auxiliou-o a selecionar as emoções e a situar-se em trabalho digno e respeitável; clareou-lhe o cérebro jovem, insuflou-lhe entusiasmo santo, rumo à vida superior, e estimulou-o a formar um reino de santificação e serviço, progresso e aperfeiçoamento, num lar...

O homem, todavia, que nunca se lembrara de agradecer as bênçãos que o cercavam, fez-se orgulhoso e cruel, diante dos interesses alheios. Ele, que retinha tamanhas graças do céu, jamais se animou a estendê-las na Terra e passou simplesmente a humilhar os outros com a glória de que fora revestido por seu devotado e invisível benfeitor. Quando experimentou o primeiro desgosto, que ele mesmo provocou menosprezando a lei do amor universal, que determina a fraternidade e o respeito aos semelhantes, gesticulou, revoltado, contra o céu, acusando o supremo Senhor de injusto e indiferente.

Aflito, o anjo guardião procurava levantar-lhe o ideal de bondade, quando um anjo maior se aproximou dele e ordenou que o primeiro dissabor do tutelado endurecido por excesso de regalias se convertesse em aflição. Rolando, mentalmente, de aflição em aflição, o homem começou a recolher os valores da paciência, da humildade, do amor e da paz com todos, fazendo-se, então, precioso colaborador do pai, na criação.

Finda a historieta, esperou Jesus que Raquel expusesse alguma dúvida, mas emudecendo a servidora, dominada pela meditação que os ensinamentos da noite lhe sugeriam, o culto da Boa Nova foi encerrado com ardente oração de júbilo indefinível.

Extraído do livro “Jesus no lar”; espírito Neio Lúcio; médium Francisco Cândido Xavier

 

CENTRO ESPÍRITA CAMINHEIROS DO BEM – 63 ANOS
Fundado em 13/10/1957
Iluminando mentes – Consolando corações

Rua Presidente Backer, 14 – Olaria - Nova Friburgo – RJ
E-mail: caminheirosdobem@frionline.com.br
Programa Atualidade Espírita, do 8º CEU, na TV Zoom, canal 10 – sábados, 9h.

 

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A VOZ DA SERRA é uma sucessão de grandes impressões!

terça-feira, 09 de fevereiro de 2021

Pela importância de seu teor, é um constante desafio para mim, quando embarco na plataforma “Z”. É o ponta pé inicial do embarque literário, tendo na bagagem um caderno sempre apreciável. Literalmente, eu diria, como Drummond, “a dangerosíssima viagem...”. Mas, há perigo no embarque, Elisabeth? – alguém poderá me perguntar, e já respondo: o perigo é não conter a emoção e  me embebedar com cada palavrinha disposta na folha impressa. Festejar a data de 7 de fevereiro,  Dia Nacional do Gráfico, é imprimir gratidão aos profissionais que “dão forma à nossa informação”.

Pela importância de seu teor, é um constante desafio para mim, quando embarco na plataforma “Z”. É o ponta pé inicial do embarque literário, tendo na bagagem um caderno sempre apreciável. Literalmente, eu diria, como Drummond, “a dangerosíssima viagem...”. Mas, há perigo no embarque, Elisabeth? – alguém poderá me perguntar, e já respondo: o perigo é não conter a emoção e  me embebedar com cada palavrinha disposta na folha impressa. Festejar a data de 7 de fevereiro,  Dia Nacional do Gráfico, é imprimir gratidão aos profissionais que “dão forma à nossa informação”. Agora a gente entende melhor como é que A VOZ DA SERRA dá conta de noticiar fatos de última hora e a edição não perder a hora de estar nas bancas e no portão dos assinantes. Essa magia tem nomes: Nilson, Vitor, Louro, Gilberto e quem mais avançar o horário de encerrar o expediente. Quem ama o que faz, não perde a hora, ganha mais tempo de vida pelo prazer da realização. É isso que se vê em cada depoimento colhido por Alan Andrade.

Da primeira Bíblia impressa aos livros eletrônicos de hoje, Johannes Gutenberg ficaria impressionado com os avanços da tipografia. Nós mesmos, dos atuais tempos, somos surpreendidos com mais e mais tecnologias facilitadoras da comunicação. Folheamos as páginas do jornal, sentimos o cheiro de sua impressão, sem nos darmos conta do trabalho que deu a sua preparação: das buscas pelo factual, da veracidade de suas pesquisas, das reportagens, da credibilidade, do estresse em cima da hora, quando a pressa tem que ser amiga da perfeição, tudo ganha corpo e vem à luz, no parto da impressão gráfica. Eu digo honestamente: tenho dificuldade de colocar o jornal para forrar um chão. Vejo rostos, vejo vidas, vejo dedicação de meus colegas, vejo almas, enfim.

Vê-se também no semblante da impressão gráfica, a estampa de sofrimento de toda equipe, ao elaborar matérias que nos chocam, como é o caso do assalto à Galera dos Legumes, em Campo do Coelho, que provocou, inclusive, a morte de dois funcionários e do dono da distribuidora de hortifrutis, Cristiano Fernandes. O jovem empresário, em foto sorridente, traduz nosso sentimento de tristeza pelas vítimas, pelos feridos, pelas pessoas de bem que estavam trabalhando. Em matéria sobre a violência no Rio de Janeiro, a triste constatação de que a criminalidade avança para os municípios do interior.

A bandeira amarela tremula no mastro da pandemia e, nem de longe, pode ser considerada um sinal de adeus ao coronavírus. Já tem gente falando que “a pandemia está indo embora”. Se fosse, já iria tarde, mas não é bem assim. A classificação da bandeira é mais um protocolo do que a resolução ou diminuição dos riscos. É como um tiro no escuro, eu penso. Os cuidados continuam. E quanto ao processo de vacinação, Nova Friburgo está em modo lento, em comparação com cidades vizinhas, cujo fato já está explicado pelo número maior da população. Os estudos científicos apontam que não há como comparar a eficácia das vacinas; o importante é que se tome a que estiver disponível. O retorno das aulas presenciais é controverso e uma coisa é certa: retomar sem que haja vacinação para todos os envolvidos, será como cutucar onça com vara curta.

Em “Há 50 anos”, o prefeito eleito, dr. Feliciano Costa, após ter sofrido “melindrosa intervenção cirúrgica” foi a causa de o Legislativo se deslocar para o “nosocômio” afim de tomar-lhe o juramento legal. O Executivo, que deixava o cargo,  também compareceu ao local para transmitir as funções ao novo prefeito. Isso em 3 de fevereiro de 1971. Avançando para 2021, o prefeito atual, com um mês de atuação, visitou o “nosocômio, não para se internar, mas para tomar pé da situação do nosso hospital. Falando em política, a Câmara de Vereadores, presidida pelo vereador Wellington Moreira, começou a cortar gastos, com ações de moralização dos trabalhos, inclusive, com o corte de celulares oferecidos e pagos pela casa. O presidente ressaltou que “tais medidas geram resistência”, mas reconhece que a população apoiará cada uma delas...”.  Boas falas. Como diz o ditado: sabendo usar, não vai faltar! Feliz cidade para todos nós!

 

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O 20° aniversário da Júlia

terça-feira, 09 de fevereiro de 2021

No último domingo, 7, no bar da Associação de Moradores do Conjunto Residencial Maria Teresa, junto a familiares e com todos as precauções neste tempo de pandemia, a querida jovem Júlia Constantino dos Santos (foto) comemorou os seus  20 anos de idade completados ontem, 8. Nesta ocasião feliz, enviamos nossas congratulações a Júlia com cumprimentos extensivos aos seus pais Anair e Solimar Santos.

Campesina bem presenteada

No último domingo, 7, no bar da Associação de Moradores do Conjunto Residencial Maria Teresa, junto a familiares e com todos as precauções neste tempo de pandemia, a querida jovem Júlia Constantino dos Santos (foto) comemorou os seus  20 anos de idade completados ontem, 8. Nesta ocasião feliz, enviamos nossas congratulações a Júlia com cumprimentos extensivos aos seus pais Anair e Solimar Santos.

Campesina bem presenteada

O presidente Carlos Magno (Maguinho), assim como toda diretoria e membros da banda Campesina Friburguense estão felizes e muito agradecidos ao deputado federal Marcelo Calero e também, ao ex-presidente da Câmara Municipal, ex-vereador Alexandre Cruz, que ajudou nos encaminhamentos com o parlamentar.

Isso, por que o deputado Calero, após assinatura datada de 31 de dezembro de 2020, através da Fundação Nacional de Artes, conseguiu a liberação de uma emenda parlamentar de R$ 200 mil para que assim a Campesina faça aquisição de instrumentos, inclusive sem nenhuma contrapartida por parte da banda.

Mateus é dez

 O vereador Isaque Demani e a querida esposa Fabiana tem um motivo especial para celebrar esta terça-feira, 9. É que para alegria também dos irmãos Miguel e Ana Luíza, assim como demais familiares, o filho Mateus Demani (foto) está completando seu 10° aniversário. Parabéns ao galãzinho Mateus, bem como aos seus pais e família.

Parabéns, dr. Renato!

Um grande abraço de felicitações para o querido médico dr. Renato Henrique Gomes da Silva, que ontem, 8, aniversariou para satisfação também dos seus familiares e amigos.

Verdades verdadeiras

No grande universo de postagens das redes sociais, com uma imensidão de bobagens e poucas coisas boas, esta vale à pena trazer a baila para reflexão geral.

"Éramos todos humanos, mas a religião nos separou, a política nos dividiu, o dinheiro nos classificou, até que um vírus nos igualou".

Com idade nova

Esta linda gatinha da foto, a Alícia, filha do simpático casal Júnior e Joária, completou seu 1° aninho na última sexta-feira, 5.

Por esta alegre razão, assim como fez o titio Isaque e demais parentes, nossos parabéns para os pais Joária & Júnior com votos de um mundo de felicidades para a linda Alícia.

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    O 20° aniversário da Júlia

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    Mateus é dez

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    Com idade nova

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A sinceridade do coração

terça-feira, 09 de fevereiro de 2021

A liturgia do último domingo, 7, nos apresentou a figura de Jó. O homem justo e piedoso que foi acometido por grandes perdas e é conhecido em nossos ditos populares como uma pessoa paciente. Quem nunca usou ou ouvir alguém usar a expressão “paciência de Jó” ao enfrentar as provações da vida?

A liturgia do último domingo, 7, nos apresentou a figura de Jó. O homem justo e piedoso que foi acometido por grandes perdas e é conhecido em nossos ditos populares como uma pessoa paciente. Quem nunca usou ou ouvir alguém usar a expressão “paciência de Jó” ao enfrentar as provações da vida?

Contudo, as palavras destacadas pela liturgia dominical nos apresentam um homem angustiado e desesperado diante a tanta dor que recai sobre a sua vida: “Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento” (Jó 7, 2-3).

Parece uma contradição. Palavras como estas proferidas por quem é conhecido por suportar com resignação os maiores sofrimentos, injúrias e injustiças. Mas não o é!

A angústia de Jó é também a minha, a sua e de toda a humanidade. Ouvimos pela boca do profeta Jeremias que Deus tem um projeto de felicidade para nós (cf. Jr 29,11). Por isso, quando nos deparamos com a limitação, com a dor e com a finitude, é natural que nosso coração se angustie e busque respostas.

Em seu olhar atento e misericordioso, Deus não escuta as palavras proferidas por Jó como uma blasfêmia, mas como fruto da transparência de um coração que confia. A sinceridade expressada nestas circunstâncias são o modelo mais perfeito de oração, pois nela se revela a consciência sobre a própria vida e a reflexão sobre sua condição.

O catecismo da Igreja Católica, repetindo o ensinamento de Santa Teresa do Menino Jesus, afirma que “a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria” (§ 2558).

Assim, as palavras de Jó são uma perfeita oração que deve ser almejada por toda a humanidade. Modelo de uma alma que se abre totalmente a Deus como um amigo, com quem não se tem segredos.

Infelizmente, ao longo dos séculos fomos preenchendo com formalismos, ressalvas e proibições nossa relação com Deus. Transformamos nossa oração em escolhas polidas de palavras, nos esquecendo que ele é capaz de enxergar nossos corações e conhecer o que está no mais íntimo de nós, conhecendo a nós mais que nós mesmos.

Poderíamos então pensar: qual o sentido da oração? Por que haveríamos então de pedir se Deus conhece o que precisamos? Porque a oração é expressão máxima de humildade e reconhecimento do poder de Deus que tudo pode realizar em nosso favor. “A atitude de pedir deve ser tomada sobretudo por nossa causa, pois quem não pede e não quer pedir fecha-se em si mesmo” (YouCat, 486).

Enfim, a oração é, ao mesmo tempo, fruto do conhecimento de si mesmo manifestado na sinceridade e transbordamento do coração a Deus, em quem confia e se entrega. É como nos disse o Papa Francisco: “A consciência de que nas dificuldades podemos sempre dirigir-nos ao Senhor, e de que Ele jamais refuta nossas invocações, é um grande motivo de alegria” (Angelus, 16 dez. 2020).

Por isso, não podemos negar a nossa dor, ela é, na verdade, a fonte e o alimento de nossa relação com aquele que nos criou para o bem e a felicidade. E assim podemos alcançar a resposta de Deus à nossa angústia, não por palavras, mas por sua constante presença.

 

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Trova, a borboleta que pousa em nossa alma

terça-feira, 09 de fevereiro de 2021

Nesta semana, andando com tranquilidade pela Praça Getúlio Vargas, observei,
mais uma vez, as trovas presas aos postes, colocadas em 2018, quando a cidade de
Nova Friburgo comemorou 200 anos. Que lindeza literária! As trovas são delicadas
meninas que dançam pelos vales da nossa cidade. Mas, depois deste momento de
orgulhoso encanto, fui tomada por uma sensação quase oposta, carregada pela
pergunta: por que o friburguense não valoriza suas conquistas, sua história e sua

Nesta semana, andando com tranquilidade pela Praça Getúlio Vargas, observei,
mais uma vez, as trovas presas aos postes, colocadas em 2018, quando a cidade de
Nova Friburgo comemorou 200 anos. Que lindeza literária! As trovas são delicadas
meninas que dançam pelos vales da nossa cidade. Mas, depois deste momento de
orgulhoso encanto, fui tomada por uma sensação quase oposta, carregada pela
pergunta: por que o friburguense não valoriza suas conquistas, sua história e sua
gente? Parece que há uma indiferença reinante, um certo desleixo com o passado, que
nos presenteia todos os dias com realizações que mudaram as circunstâncias de
épocas passadas, os modos de pensar, de viver e criar. Enfim, não fazemos parte de
uma geração espontânea, somos, sim, a síntese de todas as construções realizadas, de
modo que o passado se faz presente em todos os momentos da atualidade.
Nova Friburgo é o Berço dos Jogos Florais desde 1960! Quem sabe que
anualmente a cidade reúne e premia trovadores de vários estados do Brasil e países do
mundo? Enquanto cidade da trova acolheu grandes artistas da palavra poética, como
JG de Araújo Jorge, hoje continua sendo embelezada por Elisabeth Souza Cruz,
presidente da União Brasileira de Trovadores, Sérgio Bernardo e outros trovadores.
Da mesma forma que Nova Friburgo foi criada por um Decreto Real, por Lei
Municipal recebeu o título de Cidade da Trova em 2004. Trova é literatura, é uma
composição poética de quatro versos de sete sílabas, que traz a voz do povo, revela
sentimentos nobres, brinca com as situações de vida, recita o amor, a tristeza e o
sonhar. A trova desperta a vontade de viver, estimula boas reflexões sobre as relações
humanas e mostra que a vida tem a beleza do beija-flor. É a borboleta que pousa em
nossa alma e nos enleva.

Longe de ser invasão,
Ser dependência ou acinte,
Tu és amor, a razão
Para o meu dia seguinte

Elisabeth Souza Cruz, Jogos Florais 2020

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Prefeito Dr. Feliciano Costa toma posse em hospital

sábado, 06 de fevereiro de 2021

Edição de 6 e 7 de fevereiro de 1971
Pesquisado por Fernando Moreira

Edição de 6 e 7 de fevereiro de 1971
Pesquisado por Fernando Moreira

Manchetes:
Ônibus Friburgo-Niterói e Friburgo-Guanabara -
A nova administração municipal determinou que as empresas de ônibus que operam as linhas de Friburgo para Niterói e Guanabara, retirassem suas agências de venda de passagens da estação rodoviária recém-inaugurada, bem como suspendessem todo e qualquer movimento no acanhadíssimo ponto de embarque e desembarque da Rua Alberto Braune, junto à sede da prefeitura. A razão da decisão é o fato de faltarem obras e acabamento no prédio, que foi ocupado sem a devida “vistoria” técnica e baseada num simples “autorizo” sem qualquer legalidade, como alvará de licença, expedido pela Diretoria da Fazenda.
Segundo informações que obtivemos, as obras de acabamento do prédio da rodoviária foram avaliadas em mais de 200 milhões de cruzeiros e demandarão prazo superior a 20 dias para a sua conclusão. A firma Quevedo, dublê de construtora e concessionária, deverá explicar a razão da pressa em solicitar aceite de obras inacabadas.

Mandato terminado - Com o encerramento da última sessão legislativa da Assembleia fluminense, terminou o mandato de deputado do industrial Álvaro de Almeida, prestigiado homem público e atual presidente do MDB de Friburgo. Tendo cessado a incumbência que o nosso eleitorado confiou a Álvaro, uma pausa se estabelece. Ele, no entanto, continua em plena militância política e já se preparando para intervir nas eleições daqui a 21 meses. Com a saída de Álvaro de Almeida das funções eletivas, o nosso povo ficou sem seu advogado

A posse do dr. Feliciano Costa - O novo prefeito que os friburguenses elegeram em 15 de novembro de 1970 e que tomou posse no último dia 3, sofreu recentemente melindrosa intervenção cirúrgica, estando, felizmente, em vias de restabelecimento. O ilustre médico que pela segunda vez governa o município, é um prestigiado homem público, experimentado político que já exerceu importantes cargos, tais como deputado e secretário do Trabalho, fazendo por merecer constantes elogios. Capitão de Mar e Guerra, médico, no gozo da reforma por tempo de serviço, o dr. Feliciano Costa tem parte de sua vida dedicada ao atendimento de párias da sociedade, possuindo um enorme coração e invejável capacidade de trabalho. De muito tempo, militamos em campos políticos antagônicos e não passa pela nossa cabeça desviar, um milímetro sequer, as nossas convicções. Nesta tenda de trabalho, sempre fizemos justiça aos méritos pessoais, profissionais e mesmo político do recém-eleito chefe do executivo da nossa cidade, dele recebendo atenções constantes o que aliás sempre nos sensibilizou. Nos assuntos políticos partidários, os rumos têm sido diferentes, o que jamais obstou considerações mútuas que atravessaram incólumes as barreiras da nefasta politicagem. Os que fazem este semanário levam ao dr. Feliciano Costa os votos de total restabelecimento.

Prazo do ISS - O Departamento da Receita, da Secretaria da Fazenda, comunica aos contribuintes do Imposto Sobre Serviços, profissionais liberais e autônomos, médicos, advogados, engenheiros, dentistas, desenhistas, químicos, contadores, agrimensores, representantes, barbeiros, sapateiros, inclusive motoristas profissionais, que o prazo para pagamento do referido tributo, sem multa, juros de mora e correção monetária, termina no próximo dia 28 do corrente.
 
Pílulas:
Ao que sabemos, pela primeira vez no Brasil um prefeito e um vice-prefeito prestaram compromisso e o primeiro entrou em exercício das funções em quarto de hospital. Por estar hospitalizado, o prefeito de Friburgo, dr. Feliciano Costa, após ter sofrido melindrosa intervenção cirúrgica, o Legislativo deslocou-se para o nosocômio e tomou-lhe o juramento legal. Da mesma forma, o executivo que deixou o cargo também transportou-se para o mesmo local, transmitindo-lhe as funções. O MDB local assentiu em tudo, colocou-se à disposição da família do doente para o que fosse necessário e seus liderados receberam instruções para que nada objetivassem no sentido do que fosse resolvido pela comissão organizadora. 
 
Sociais:
A VOZ DA SERRA registra os aniversários de: Laércio Knust Bravo e Américo Antônio Ventura (7); Margarida Ventura Chaves, Maria Luiz Pestre Aor, Leny Ennes Cariello, Clarice Cunha e Fernando Namen (9); Alberto Paulo Künzel e Sebastião Rodrigues Banjar (10); Humberto El-Jaick, Marinette Almeida, Maria José Jordão, Denise Dutra da Costa, Suely Segal e Roxana Vilarinho  (11); Gilse Ventura Coutinho e Lair Ventura Lugon (12).  

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Coisa de energia

sexta-feira, 05 de fevereiro de 2021

Tudo estava empoeirado. Parecia não existir ninguém ali, aliás, parecia que ninguém trabalhava, conversava, tomava uma xícara de café ou lia um livro naquele ambiente. Era até difícil imaginar o tanto de decisões que poderiam ter sido tomadas naquela sala de reuniões ou a troca de olhares entre os anfitriões. Nas caixas havia sinais de que alguém passara por ali; havia folhas brancas, novas, entre as amareladas e gastas pelo tempo. Nas prateleiras, tesouros em forma de livros novos dividiam espaço com as “relíquias” do século passado.

Tudo estava empoeirado. Parecia não existir ninguém ali, aliás, parecia que ninguém trabalhava, conversava, tomava uma xícara de café ou lia um livro naquele ambiente. Era até difícil imaginar o tanto de decisões que poderiam ter sido tomadas naquela sala de reuniões ou a troca de olhares entre os anfitriões. Nas caixas havia sinais de que alguém passara por ali; havia folhas brancas, novas, entre as amareladas e gastas pelo tempo. Nas prateleiras, tesouros em forma de livros novos dividiam espaço com as “relíquias” do século passado. Sim, o século passado estava logo ali – deu-se conta de que ele próprio já era uma antiguidade de outra época.

Tomado por uma curiosidade de entender aquele local, prosseguiu, afinal de contas, passaria lá todos os seus dias, quando não algumas noites. Avistou um computador que chamaria de seu muito em breve. Imaginou se teria internet, acesso aos programas dos quais precisava para trabalhar e lembrou-se da necessidade de abrir sua caixa de e-mail. Aproximou-se, viu uma luz acesa no equipamento abaixo e respirou aliviado por não ser o único por ali.

 Percebeu, então, a escuridão a que estava submerso. Sentiu a energia presa, uma angústia no peito, a sensação de que aquilo era estranho, feio, sem vida. Pôs-se a refletir em como mudar, recomeçar, dar novo sentido e reescrever aquela história. Sabia que o trabalho seria grandioso, mas não havia como fugir, vez que aceitara a missão e era homem de palavra. E mais, queria realmente fazer da lagarta a borboleta e ser o promotor daquela metamorfose antinatural.

 Luz! Era isso. Queria que a luz entrasse e fizesse morada por entre aquelas prateleiras, passando pelas janelas que percebeu serem bem grandes e se instalando por ali como o dono de tudo. Que simples. Correu para o interruptor e acendeu as luzes, algo que tragado pela energia sombria do local esquecera-se completamente de fazer. Ufa, melhorou. Abriu as janelas, deixou o vento circular e recebeu da natureza uma brisa especial. Providenciou uma limpeza de tudo. Contou com ajuda, mas arregaçou as mangas e propôs-se a promovê-la. Foi um processo lindo.

Enquanto limpava tudo aquilo, percebeu que purificava ao mesmo tempo a sua própria alma. Colocou flores por todos os cantos, fez um café tão caprichado que seu cheiro espalhou-se por tudo. Os livros em ordem. Poltronas prontas a convidar o próximo leitor. O chão com o brilho que merecia. Viu beleza naquele lugar. Sentiu desejo de ali ficar, motivou-se a trabalhar, quis receber pessoas, recomeçar. Sentiu que a transformação se deu também em seu interior. Recomeçaria em outro nível, com outra energia e daria seu melhor com menos esforço e mais alegria. Pronto. A luz entrou.

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O que te faz acionista?

sexta-feira, 05 de fevereiro de 2021

Já parou para pensar o que acontece quando você compra ações através da Bolsa de Valores? Entender o conceito por trás do homebroker (plataforma de negociação das corretoras de valores) é fundamental para fazer parte da filosofia das companhias e viver a tese dos seus investimentos. Entender os objetivos e modelos de negócio das empresas é tão fundamental quanto refletir os seus valores – ambientais, sociais, trabalhistas e muitos outros – ao seu portfólio de ações.

Já parou para pensar o que acontece quando você compra ações através da Bolsa de Valores? Entender o conceito por trás do homebroker (plataforma de negociação das corretoras de valores) é fundamental para fazer parte da filosofia das companhias e viver a tese dos seus investimentos. Entender os objetivos e modelos de negócio das empresas é tão fundamental quanto refletir os seus valores – ambientais, sociais, trabalhistas e muitos outros – ao seu portfólio de ações. Contudo, antes de partirmos direto para esses propósitos, vamos rever alguns conceitos a fim de democratizar o conhecimento presente neste texto. Comecemos, então, definindo a Bolsa de Valores. Para tornar possível os negócios em setor de bolsas, é necessário que empresas de infraestrutura de mercado financeiro exerçam atividades primordiais, como – de acordo com a própria bolsa de valores brasileira – a “criação e administração de sistemas de negociação, compensação, liquidação, depósito e registro para todas as principais classes de ativos, desde ações e títulos de renda fixa corporativa até derivativos de moedas, operações estruturadas e taxas de juros e de commodities”. No Brasil, existe apenas uma empresa responsável por exercer tais atividades, a B3 – Brasil, Bolsa, Balcão. Ao redor do mundo, existem diversas outras; como as Nasdaq e a Bolsa de Nova York, nos Estados Unidos; a Bolsa de Valores de Londres, na Inglaterra; a Bolsa de Valores de Frankfurt, na Alemanha e por aí vai. Contudo, isso pode ficar ainda mais simples quando tomamos consciência de as bolsas globais serem como uma feira (essas de frutas, legumes e carnes) onde encontram-se vendedores e compradores dispostas a negociar determinado produto. Todavia, nessa grande e tecnológica feira da bolsa de valores, negociam-se as empresas. Mas, então, como chegar nessa “feira da bolsa de valores”? Antes de mais nada, é necessário tornar-se cliente de alguma corretora ou banco de investimentos, pois as instituições financeiras são as responsáveis por realizar a comunicação entre você e a bolsa de valores. Feito, é através do homebroker, plataforma de negociação disponibilizada na sua conta da corretora de valores, que você poderá comprar suas ações; e a partir daí começa a sua jornada por boas escolhas. Falemos delas! Compor um portfólio de ações não é fácil; mas o conceito é simples! Comprar ações te faz acionista: um pequeno sócio de determinada companhia/empresa. Portanto, é importante compor o seu portfólio com ações de empresas que julga ser coerente tornar-se sócio. Não faz sentido algum comprar determinado papel (nomenclatura técnica sinônima a “ação”) de uma empresa sem saber, nem mesmo, quais os produtos e/ou serviços tal empresa oferece para a sociedade. É a partir daqui que você começa a pôr seus valores em questão: procure entender o propósito da companhia; sua relação e responsabilidade com a sociedade; entenda se os produtos e/ou serviços são realmente relevantes e rentáveis. Além de toda essa filosofia de investimentos, entra também a visão fundamentalista; é somente aqui que você analisa os resultados das empresas e, caso bons ou minimamente promissores, adiciona-as ao seu portfólio. Mas lembre-se, ponto fundamental é diversificação. Uma carteira bem distribuída, com algumas boas empresas e de diferentes setores são fundamentais para diminuir os riscos de mercado (os riscos que toda empresa está sujeita). Mais importante que começar a investir, é entender a filosofia por trás do investimento. E isso é bastante simples!

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De Beuclair: os médicos dos escravos

quinta-feira, 04 de fevereiro de 2021

Antes de iniciar a narrativa sobre a família De Beauclair, cabe uma indagação. Por que os fazendeiros produtores de café passaram a contratar médicos para cuidar especificamente de seus escravos? A lei Eusébio de Queiroz de 1850, que proibiu o tráfico negreiro no Atlântico Sul com o continente africano fez aumentar extraordinariamente o preço dos escravos. Os fazendeiros abastados e com significativo plantel de escravos passaram a recorrer aos serviços de médicos europeus que vinham para o Brasil na segunda metade do século 19.

Antes de iniciar a narrativa sobre a família De Beauclair, cabe uma indagação. Por que os fazendeiros produtores de café passaram a contratar médicos para cuidar especificamente de seus escravos? A lei Eusébio de Queiroz de 1850, que proibiu o tráfico negreiro no Atlântico Sul com o continente africano fez aumentar extraordinariamente o preço dos escravos. Os fazendeiros abastados e com significativo plantel de escravos passaram a recorrer aos serviços de médicos europeus que vinham para o Brasil na segunda metade do século 19. Antes da mencionada lei, os escravos enfermos eram tratados pelos próprios senhores que faziam uso de remédios à base de ervas, as mezinhas caseiras, ou mesmo delegando o tratamento aos escravos curandeiros, figura tradicional da cultura africana. Ser escravo no Brasil, como nos ensina Kátia Mattoso era trabalhar entre 15 a 17 horas ao dia. O tempo de vida do escravo no eito não passava de sete anos e as enfermidades advinham tanto da excessiva jornada como das condições insalubres de trabalho. Stanley Stein em “Grandeza e decadência do café no Vale do Paraíba” nos informa que os médicos se estabeleciam em fazendas, em pontos centrais nas áreas agrícolas de determinado município, e atendiam a chamados das fazendas vizinhas. O mais comum dos males nas fazendas de café era o bicho-de-pé. Uma vez introduzido na parte carnuda e calejada do pé carcomia os dedos e a sola produzindo úlceras e incapacitando o escravo para o trabalho. Eram também doenças comuns entre os escravizados a tuberculose, cólicas, prisão de ventre, convulsões, tosse comprida e a erisipela, resultando esta última em elefantíase ou lepra. Os escravos padeciam de infecções respiratórias em razão de atividades como descascar e peneirar os grãos de café que produziam um pó fino prejudicial à saúde, afetando-lhes os pulmões, a pele e os olhos. Entrevistei Mary Beauclair que me trouxe informações sobre os seus ancestrais, os alemães De Beauclair que vieram para Cantagalo trabalhar nas fazendas de café como médicos. O seu bisavô Johann Adolpho Rouville de Beauclair era médico e nasceu em Hessen, na Alemanha. Veio para o Brasil acompanhado de seu irmão igualmente médico Victor Leopold de Beauclair. Johann Adolpho casou-se em Cantagalo em 8 de junho de 1858 com Ângela Elvira de Roure. Já Victor Leopold se casou com Emma Dietrich, filha do vice-cônsul suíço em Cantagalo Heinrich Dietrich. Cabe aqui uma explicação sobre os Beauclair. Não obstante serem alemães herdaram do tataravô Jean Pierre Rouville de T. de Beauclair, nascido em Paris, o nome de família francês. O trisavô era Louis Nicolas Rouville Dicté de Beauclair. Beauclair é uma comuna francesa no departamento de Meuse que em 2010 tinha 83 habitantes. De acordo com a historiadora Anne Proença em sua tese de mestrado “Vida de médico no interior fluminense, a trajetória de Carlos Éboli em Cantagalo e Nova Friburgo”, no ano de 1855 Johann Adolpho constava no Almanak Laemmert como médico em Cantagalo. Possivelmente foi neste ano que os irmãos Beauclair chegaram ao Brasil para trabalhar em Cantagalo, atendendo a uma demanda por médicos nas unidades de produção de café pelo motivo já apontado. Segundo Proença, Johann Adolpho atendia na Fazenda Tanques e em outras propriedades rurais, sendo que todos os médicos que atuavam nas fazendas também realizavam atendimentos na localidade. Já Victor Leopold atendia na Fazenda Macapá, em São Fidélis, de propriedade do Barão de Nova Friburgo, mas fazia também atendimento na corte. Logo, as grandes fazendas de café tinham o seu próprio médico e uma construção isolada servia de hospital. Os médicos Johann Adolpho e Victor Leopold retornaram para a Europa, mas tudo indica que não foi essa a intenção do primeiro deles. Adolpho além de médico da Fazenda Tanques era sócio efetivo da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Portanto, parecia ter deitado raízes no Brasil. A Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional posicionou-se pela abolição gradual da escravidão, apoiou a política de colonização com a distribuição de pequenos lotes para estrangeiros e brasileiros e o sistema de parceria na lavoura cafeeira. Incentivou também a expansão da pequena propriedade rural e criticava o latifúndio improdutivo. De acordo com o historiador Henrique Bon, o filho de Victor Leopold, cujo nome é homônimo ao do pai, nascido em 1874, em Cantagalo, cursou medicina em Zurich. Aventureiro, praticava o balonismo, tendo no ano de 1907 sido o primeiro a transpor os Alpes entre a Suíça e a Itália no balão Le Cognac. Filiado ao aeroclube da França recebeu de Santos Dumont um prêmio por ter permanecido em voo ininterrupto durante 56 horas, batendo um recorde. Seus feitos foram registrados nos anais do balonismo mundial. Mesmo sendo um alpinista experiente, Victor de Beauclair morreu com a esposa em 15 de agosto de 1929, ao escalar o Matterhorn na fronteira entre a Suíça e a Itália. Por outro lado, dois filhos de Johann Adolpho, Frederico e Jacob Adolf retornaram ao Brasil e Mary descendeu do tronco familiar do segundo. Seu pai Álvaro Beauclair, filho de Jacob Adolf nasceu em Cantagalo e tinha 82 anos quando a concebeu. Já o filho de Frederico, o mestre cervejeiro Albano Beauclair, estabeleceu em Nova Friburgo, em 1893, a fábrica de cerveja Beauclair produzindo a cerveja Friburgo Brau, com maquinário importado da Alemanha. Mary Beauclair escreveu um livro sobre a sua família nos presenteando com mais detalhes sobre a interessante história de seus ancestrais.

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