Aos filhos, no Dia dos Pais

Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

terça-feira, 08 de agosto de 2023

Finalmente conseguira superar os obstáculos que por tanto tempo haviam impedido aquele abraço tão longamente planejado. 

Começo confessando que a narrativa original não é minha. Ouso reproduzi-la porque acho que pode ser uma leitura interessante, sobretudo para os filhos no Dia dos Pais, e porque tenho certeza de que seu autor nunca virá a saber da apropriação indébita que fiz do que ele escreveu e que, se por milagre viesse a saber, não me processaria. Afinal, há tantos filmes, livros e músicas sobre Jesus e não há notícia de que ele tenha condenado alguém por assim se aproveitar de sua história. Além do mais, eu li isso há tanto tempo que nem me lembro onde. Vou contar como melhor puder, esperando não distorcer demais o texto original.

Um homem importante, vamos chamá-lo João, ainda jovem se afastara do pai, a quem chamaremos Antônio. Há muitos anos eles não se viam. Um dia, Antônio escreveu ao filho, manifestando o desejo de vê-lo e de reatar a convivência perdida. Convidava-o a visitá-lo, e sugeria que ele levasse a família consigo. João achou boa a ideia e combinou com a esposa que dentro de um mês iriam à cidade onde morava aquele homem tão próximo na genealogia, mas agora distante no espaço e sobretudo no tempo. Na data prevista, contudo, o time da escola onde a filha estudava tinha um jogo importante, e ela era líder de torcida. Não houve jeito senão adiar a viagem.

Nova visita foi planejada, para dois meses depois. Nesse meio tempo, João enviou algum dinheiro para Antônio, que retribuiu mandando pequenos presentes para os netos. Dessa vez a visita estava certa, tudo cuidadosamente previsto. Mas eis que, quando se aproximava o dia da partida, o patrão precisou ausentar-se do trabalho por algum tempo, e João assumiu temporariamente o lugar do chefe na direção da firma.  Assim, pela segunda vez, a viagem não pôde ser realizada.

Também a mulher queria que a visita se concretizasse e escreveu ao sogro, confirmando o reencontro, agora com menos de um mês de espera e enviando-lhe um delicado presente. Ansioso e emocionado, Antônio ficou aguardando a família. Mas antes que ela aparecesse, um ataque cardíaco o atingiu. Informado pelo hospital, João falou por telefone com o pai. "Eu estou bem, filho. Não se apresse". E João não se apressou.

Chegou o Natal, João novamente enviou dinheiro para “o Velho", e recebeu em troca presentes para todos da família. A nora ganhou uma joia que havia pertencido à falecida sogra. Novamente pai e filho se falaram por telefone, e combinaram se reunir em breve. Mas sempre algum acontecimento inesperado e importante para João e sua família impedia que o encontro se realizasse: uma cirurgia da esposa, a celebração do Dia das Mães, o frio excessivo.

Os meses foram passando e sempre os imprevistos acontecendo. Até que um dia João realizou a viagem, embora sozinho e às pressas. Finalmente conseguira superar os obstáculos que por tanto tempo haviam impedido aquele abraço tão longamente planejado. 

E verdadeiramente tanto se apressou que chegou ainda a tempo de assistir ao sepultamento do pai.

"Por que eu não vim antes?", se perguntava chorando. Mas ele, melhor do que ninguém, sabia a resposta.

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No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

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