Blog de janainabotelho_18837

A mesopotâmia fluminense

quinta-feira, 02 de abril de 2020

O município de São Sebastião do Alto possui uma benéfica posição geográfica. Situa-se entre dois importantes rios, o Grande e o Negro. É na localidade de Guarani que esses dois rios se encontram para formar o Rio Dois Rios que desagua no Paraíba do Sul. Em virtude dessa vantagem geográfica São Sebastião do Alto recebeu do prefeito Hermes Ferro a denominação de mesopotâmia fluminense. Logo, existe nesse município um grande potencial para o desenvolvimento da agricultura devido à riqueza de seus recursos hídricos.

O município de São Sebastião do Alto possui uma benéfica posição geográfica. Situa-se entre dois importantes rios, o Grande e o Negro. É na localidade de Guarani que esses dois rios se encontram para formar o Rio Dois Rios que desagua no Paraíba do Sul. Em virtude dessa vantagem geográfica São Sebastião do Alto recebeu do prefeito Hermes Ferro a denominação de mesopotâmia fluminense. Logo, existe nesse município um grande potencial para o desenvolvimento da agricultura devido à riqueza de seus recursos hídricos.

As primeiras sesmarias concedidas no território do atual município de São Sebastião do Alto datam do final do século 18. Francisco Clemente Pinto, primo do primeiro Barão de Nova Friburgo possuía fazendas em Ibipeba e Valão de Barro. Os grandes fazendeiros dessa região possuíam em média entre 100 e 200 escravos. São Sebastião de Alto era um importante produtor de café e deu ensejo a formação de uma elite cafeeira altense.

As terras de São Sebastião do Alto atraíram colonos suíços como os Dafflon, Leimgruber, Lutterbach e Wermellinger e no final do século 19 muitos colonos italianos. Merece destaque Cornélio de Souza Lima proprietário da Fazenda São Feliciano do Córrego dos Índios, que depois a rebatizou de Fazenda São Marcos. Ele estabeleceu em sua propriedade uma colônia de imigrantes italianos adotando o sistema de parceria agrícola. Nessa ocasião houve uma crise nacional de falta de mão-de-obra na lavoura que foi suprida com a vinda de colonos europeus, principalmente de italianos.

Entre as muitas famílias que vieram para a Fazenda São Marcos podemos citar as de Nicola e Pietro Temperini, Luigi Latini, Floriano Segalotti, Angelo Fratani, Carlo Badini, Luigi Sagretti, Pasquale Talarico, Constantino Castrini, Giovanni Pietrani, Ettore Bonan, Luigi Bollorini, Enrico Campagnucci, Secondo Bochimpani e Luigi Margaritini. Já a partir de 1920, o município diversifica sua atividade agrícola e expande a pecuária leiteira como alternativa ao declínio da produção de café.

Em 7 de dezembro de 1892, São Sebastião do Alto finalmente emancipou-se após passar por diversos processos de anexação a outros municípios. Porém, no ano de 1943, São Sebastião do Alto quase foi extinto por determinação do interventor do estado Ernani do Amaral Peixoto. Correu o risco de ter o seu território partilhado entre Itaocara e o novo município de Cordeiro que se pretendia criar. Graças ao empenho do prefeito Hermes Ferro o governador voltou atrás em sua decisão e os altenses mantiveram a sua autonomia. Essa campanha entrou na história do município como a Guerra da Autonomia.

Os dois políticos mais importantes e que governaram sucessivamente durante décadas São Sebastião do Alto foram os médicos Hermes Pereira Ferro e Antônio José Segalote Pontes. O censo econômico de 1960 revelou que São Sebastião do Alto possuía o segundo rebanho bovino do Estado do Rio perdendo apenas para Itaperuna. No ano seguinte foi considerado o maior produtor de feijão.

Atualmente a produção de legumes tem se destacado e notadamente o cultivo de tomate. No ano de 1962, iniciou-se a política de erradicação de cafezais antieconômicos através da criação do Gerca (Grupo Exclusivo da Recuperação Econômica da Cafeicultura). Milhões de cafezais antieconômicos, de baixa qualidade e de produtividade foram arrancados e os produtores rurais indenizados. Esse programa teve como objetivo diminuir a dependência do país da agricultura cafeeira. Abriu-se espaço para o incremento de outras culturas agrícolas e da pecuária nas áreas liberadas pela erradicação dos cafezais passando a ter uma produção agrária diversificada.

No entanto, a pecuária necessitava de pouca mão-de-obra e as outras culturas agrícolas que substituíram o café não absorveram os trabalhadores rurais que foram dispensados. Consequentemente inúmeros trabalhadores do campo ficaram sem emprego ocasionando o êxodo rural. Ainda que com tanto progresso, São Sebastião do Alto registrou ao longo de sua história um dos maiores índices de criminalidade do Estado do Rio de Janeiro.

Quando indaguei essa circunstância ao fazendeiro local Didymo Lopes Martins, ele me respondeu que a animosidade na região era em razão do clima muito quente. De fato, estudos científicos tem demonstrado que em lugares mais quentes o índice de violência é mais elevado. De acordo com os cientistas a violência aumentará no mundo inteiro em razão do aquecimento global.

  • Foto da galeria

    A historiadora Janaína Botelho e pecuarista Luiz Latini no Vale do Muribeca

  • Foto da galeria

    Fazenda Praia da Areia, típica casa de vivenda de S.S

  • Foto da galeria

    Plantação de tomate em São Sebastião do Alto

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Sapucaia: uma história desconhecida de Friburgo

quinta-feira, 26 de março de 2020

O município de Sapucaia atualmente é constituído por cinco distritos, Sapucaia, Anta, Jamapará, Nossa Senhora da Aparecida e Pião. Esse artigo objetiva informar sobre a nossa relação com o distrito de Nossa Senhora da Aparecida, uma história desconhecida de Nova Friburgo. Na primeira metade do século 19, nos arredores da Vila de Nova Friburgo os povoados vão se desenvolvendo notadamente pelo assentamento de colonos suíços e alemães que abandonam o distrito colonial. Capelas curadas são construídas e se tornam freguesias em razão de seu crescimento econômico e da população. 

O município de Sapucaia atualmente é constituído por cinco distritos, Sapucaia, Anta, Jamapará, Nossa Senhora da Aparecida e Pião. Esse artigo objetiva informar sobre a nossa relação com o distrito de Nossa Senhora da Aparecida, uma história desconhecida de Nova Friburgo. Na primeira metade do século 19, nos arredores da Vila de Nova Friburgo os povoados vão se desenvolvendo notadamente pelo assentamento de colonos suíços e alemães que abandonam o distrito colonial. Capelas curadas são construídas e se tornam freguesias em razão de seu crescimento econômico e da população. 

Além da Freguesia de São João Batista, sede da vila surgem as freguesias de Nossa Senhora da Aparecida (1842), Nossa Senhora da Conceição do Paquequer (1844), São José do Ribeirão (1857) e Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão da Sebastiana (1862). Porém, em 1847, Nova Friburgo perdeu a freguesia de Nossa Senhora da Aparecida que é incorporada ao município de Magé. Os colonos suíços abandonaram o distrito colonial possivelmente por duas razões. Inicialmente pela má qualidade da terra de alguns lotes que receberam. Por outro lado, um dos motivos da diáspora foi o período da história agrária do Brasil que favorecia os posseiros. 

Bastava tomar posse de terras devolutas, ou seja, terras abandonadas que retornavam ao domínio do governo geral e dar-lhes uma atividade produtiva durante um ano consecutivo. A seguir pleiteavam o reconhecimento dessa posse não havendo contestação de terceiros confrontantes. Esse dispositivo legal será possível tão somente até o ano de 1850, já que a Lei de Terras coibiu essa prática. A família Leimgruber pode ter obtido terras através da lei de sesmarias que vigorou até o ano de 1822, ou por meio da posse. 

Banhada pelo Rio Paraíba do Sul, Sapucaia era habitada pelos índios puri. Como as terras eram próprias para o cultivo do café muitos se aventuraram para essa região a exemplo do major José de Souza Brandão, futuro Barão de Aparecida, os Leimgruber e outras famílias suíças. O colono suíço Anton Ignaz Leimgruber tomou posse de terras nessa região e por sua interveniência elevou-a a curato de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. O patriarca da família Ignaz Leimgruber, casado com Luzia Hartmann chegou ao Brasil em dezembro de 1819, acompanhado dos filhos Anton Ignaz, Fridolin, Johann Batista, Marcus, Maria Carolina e Fidel. A ascensão patrimonial da família foi surpreendente. 

Em relação aos filhos do patriarca há o registro de que Marcus Leimgruber adquiriu a Fazenda São Feliciano onde hoje é o município de São Sebastião do Alto, Fidel Leimgruber adquiriu a Fazenda São Pedro do Monte Alegre na Freguesia de Nossa Senhora do Monte do Carmo, Fridolin Leimgruber tinha uma posse na Freguesia de Santa Rita do Rio Negro, em Cantagalo, e Johann Batista Leimgruber possuía igualmente uma posse em São Sebastião do Alto. O que mais enriqueceu na cafeicultura foi o primogênito Anton Ignaz Leimgruber.

De acordo com o almanaque Laemmert, de 1848, ele está entre os principais fazendeiros de café da Freguesia de Aparecida. Era casado com Mariana Ubelhard, filha de Vicente Ubelhard, igualmente colono suíço que migrara para essa região. Com o falecimento de Anton Ignaz seu único filho Manoel Ubelhard Leimgruber herda um expressivo patrimônio. Conhecido como Manduca, Manoel Leimgruber era graduado em engenharia e mecânica com formação na Inglaterra e na Alemanha. Além de produtor de café era proprietário de uma indústria de fundição no Rio de Janeiro. Fabricava variados tipos de peças de metal como rodas d’água, arquibancadas, cremalheiras para a ferrovia, placas, grades, etc. Em 1878, quando fora participar de uma feira de produtos metalúrgicos na Alemanha conheceu a raça zebu ongole proveniente da Índia e passou a importar lotes de touros e vacas. 

Foi na Fazenda Santo Antônio de Sapucaia que Manoel Leimgruber desenvolveu a criação dessa raça e iniciou a atividade econômica da pecuária no Estado do Rio de Janeiro. O município de Nova Friburgo fazia divisa com Minas Gerais e tinha um território bem mais extenso no século 19. Depois de perder Nossa Senhora da Aparecida ao longo do século foi perdendo outras freguesias para a formação de municípios como Sumidouro, Teresópolis e Bom Jardim. 

A história da família Leimgruber na Fazenda Santo Antônio de Sapucaia é mais um exemplo do êxito dos colonos suíços que abandonaram o distrito colonial.

  • Foto da galeria

    Fazenda Santo Antônio de Sapucaia. (Fotos: Acervo pessoal)

  • Foto da galeria

    Raça zebu ongole proveniente da Índia

  • Foto da galeria

    Carroça dos eventos realizados na Fazenda Santo Antônio

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A epidemia de febre amarela em Nova Friburgo

quinta-feira, 19 de março de 2020

A primeira grande epidemia de febre amarela no Brasil ocorreu no ano de 1685, trazida pelos navios negreiros que transportavam escravos africanos. Terrível e mortífero flagelo teve início em Recife-PE onde aportou um tumbeiro trazendo o mosquito Aedes Aegypti, vetor que somente seria conhecido muitos séculos depois como transmissor da doença.

A primeira grande epidemia de febre amarela no Brasil ocorreu no ano de 1685, trazida pelos navios negreiros que transportavam escravos africanos. Terrível e mortífero flagelo teve início em Recife-PE onde aportou um tumbeiro trazendo o mosquito Aedes Aegypti, vetor que somente seria conhecido muitos séculos depois como transmissor da doença.

Essa epidemia perdurou por quase 15 anos com pequenos intervalos de calmaria. Do norte propagou-se para o sul do país causando milhares de vítimas principalmente entre os brancos e os indígenas, poupando os africanos. A epidemia de febre amarela no Brasil iria se manifestar novamente em 1849, em Salvador-BA, alastrando-se novamente pelo país.

No Rio de Janeiro essa epidemia ceifou vidas de senadores, ministros, aristocratas e burgueses induzindo essas personalidades de prol a se refugiarem nas partes altas da cidade, como no bairro de Santa Teresa, e nos subúrbios. A partir de então, as epidemias de febre amarela serão intermitentes em quase todas as províncias do Brasil. No Rio de Janeiro adquiriu caráter endêmico-epidêmico e passou a ser evitada por viajantes ficando conhecido como o túmulo do estrangeiro.

A Junta Central de Higiene Pública criada para combater a epidemia aconselhava os habitantes a não se aproximarem dos pântanos que exalavam miasmas e se acreditava ser a causa da doença. A ignorância sobre a sua etiologia ocorreria até que o médico baiano Filogônio Lopes Utinguassu aventasse pela primeira vez no país a tese de que a febre amarela era transmitida por um mosquito, hipótese que seria confirmada pelos médicos de Cuba.

No ano de 1850, em decorrência de uma epidemia de febre amarela ocorrida na Corte, o Imperador D. Pedro II é aconselhado a retirar-se com a família para a Imperial Fazenda do Córrego Seco que ganharia, por decreto, status de vila com o nome de Petrópolis. É bem provável que nessa ocasião tenha sido recomendada a vila de Nova Friburgo reconhecida pela salubridade de seu clima e notadamente porque a família imperial tinha duas propriedades no município, as fazendas Córrego Dantas e São José. Mas Petrópolis venceu pela proximidade com o Rio de Janeiro.

D. Pedro II iniciaria, desde então, o hábito entre a elite do deslocamento para regiões serranas durante a canícula, ou seja, na estação de calor intenso em que a febre amarela matava milhares de pessoas de todas as classes sociais. O município de Nova Friburgo já era procurado por tuberculosos desde a fundação da vila e ressurge no mapa da geografia médica como um local salubre por suas condições climáticas e mesológicas. Já na República, beneficia-se cada vez mais do infortúnio das epidemias na capital federal.

Conforme a imprensa local, Nova Friburgo era a segunda cidade do Estado do Rio de Janeiro mais procurada pelos veranistas cariocas ultrapassada apenas por Petrópolis. Essa migração impulsionou a economia local, notadamente o comércio, a hotelaria e a construção civil na edificação de casas para aluguel. Um detalhe importante é que estes cariocas ficavam aproximadamente seis meses em Nova Friburgo, chegando normalmente em novembro e partindo entre abril e maio.

A fama da salubridade do clima friburguense tornava o município seguro e nunca fora registrado um caso de epidemia dessa doença. Os veranistas que não alugavam casas se hospedavam nos confortáveis hotéis como o Hotel Central, hoje Colégio Nossa Senhora das Dores, hotéis Leuenroth, Engert e Salusse, sendo esses os mais procurados.

Por conta desses veranistas, companhias italianas permaneciam em média dois meses em Nova Friburgo a exemplo da Companhia Lírica Italiana Verdini & Rotoli, representando óperas no Teatro Dona Eugênia como Lucrécia Borgia de Donizzetti, Carmen de Georges Bizet, Aida de Giuseppe Verdi e Fausto de Goethe, para ficar em alguns exemplos. Soirées eram promovidas nos hotéis onde se dançava quadrilha, valsa, polca e mazurcas.

Durante o dia os veranistas faziam passeios campestres pelos arrabaldes da cidade, estando na moda os picnics, comendo-se sandwiches regados a champanhe Veuve Clicquot. Corridas de cavalos eram promovidas pelo Friburgo Jockey Club no prado de Conselheiro Paulino, aos domingos. As epidemias de febre amarela no Rio de Janeiro mudariam o cotidiano de Nova Friburgo durante algumas décadas. 

  • Foto da galeria

    A elite friburguense que participava dos picnics

  • Foto da galeria

    Os jardins do outrora Hotel Central, hoje um colégio

  • Foto da galeria

    Isolamento de uma residência no Rio de Janeiro

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Conselheiro Paulino - A Fazenda Ponte de Tábuas

quinta-feira, 12 de março de 2020

O distrito de Conselheiro Paulino possui atualmente uma população estimada de mais de 40 mil habitantes. Abriga inúmeras fábricas do setor metalmecânico e recentemente confecções da moda íntima. Responde pela terceira arrecadação do município ficando atrás do Centro e do distrito de Campo do Coelho. Com o seu expressivo parque industrial, Conselheiro Paulino poderia ser o primeiro em arrecadação, mas como as notas fiscais são emitidas pelos escritórios dessas empresas, no centro da cidade, perde a geração dessa receita.

O distrito de Conselheiro Paulino possui atualmente uma população estimada de mais de 40 mil habitantes. Abriga inúmeras fábricas do setor metalmecânico e recentemente confecções da moda íntima. Responde pela terceira arrecadação do município ficando atrás do Centro e do distrito de Campo do Coelho. Com o seu expressivo parque industrial, Conselheiro Paulino poderia ser o primeiro em arrecadação, mas como as notas fiscais são emitidas pelos escritórios dessas empresas, no centro da cidade, perde a geração dessa receita.

Conselheiro Paulino recebeu o status de distrito no ano de 1952, em razão de sua importância econômica no setor agrícola. Antes de alterar o seu nome para Conselheiro Paulino toda a região era conhecida como Ponte de Tábuas, nome de uma das maiores propriedades rurais no século 19, da Vila de Nova Friburgo. Foi na bucólica paisagem de Conselheiro Paulino que se escolheram na década de 1960, dois símbolos para representar o turismo de Nova Friburgo, a Pedra do Cão Sentado e o Alto do Catete e Furnas, conhecida como cachoeira Véu das Noivas.

Mesmo sendo considerado um distrito urbano restam-lhe enclaves rurais com uma linda paisagem como a Fazenda da Laje, o sítio do Manoel do Queijo, o Parque dos Lagos no Córrego Fundo, o Sítio dos Afonsos e o Catete. O desmembramento de imensas propriedades rurais, a exemplo da Fazenda Ponte de Tábuas, deu origem a diversos sítios iniciando-se o cultivo de lavouras como milho, feijão, abóbora, batata, inhame e mandioca.

Com o passar dos anos essas culturas vão se diversificando sendo introduzido o plantio de alho, chuchu, hortaliças e frutas cítricas, para ficar apenas em alguns exemplos. Com a chegada de imigrantes japoneses em Conselheiro Paulino no segundo quartel do século 20 foram introduzidas flores de corte e novas técnicas de plantio como o uso de estacas na lavoura e as estufas.

Gradativamente alguns agricultores de Conselheiro Paulino foram migrando da lavoura branca para o cultivo de flores de corte. De Fazenda Ponte de Tábuas a região passou a ser denominada de Conselheiro Paulino em homenagem ao conselheiro do Império, Paulino José Soares de Sousa, político conservador que exerceu inúmeras funções públicas e parlamentares. Possivelmente o tributo foi em razão da estação de trem instalada na localidade que pode ter contado com a interveniência de Paulino de Sousa quando administrou o alongamento da Estrada de Ferro Leopoldina até Macuco, onde tinha a Fazenda Val de Palmas.

A estação ferroviária de Conselheiro Paulino foi inaugurada em 1889. Na Fazenda da Laje existe uma gigantesca estrutura em pedra para suportar uma ponte de ferro por onde passava o trem. Na tragédia climática de 2011, a ponte de ferro não resistiu aos abalos e desabou ficando a ferragem caída no Rio Grande.

Entre as famílias da elite local havia Alberto Pinheiro, nascido em 1906, e que durante 50 anos foi o maior produtor de flores de Conselheiro Paulino. Em 1850, ocorreu uma fuga de escravos na Fazenda Ponte de Tábuas quando pertencia ao comendador Boaventura Ferreira de Maciel. A história dessa fuga foi objeto de um livro e de artigos acadêmicos. O processo judicial dessa revolta de escravos é um dos documentos mais instigantes sobre a escravidão em Nova Friburgo.

Clarindo da Rocha Teixeira, conhecido como Tio Dongo, herdou de seu pai, o Coronel Teixeira, a Fazenda Ponte de Tábuas. Nasceu no ano da abolição da escravidão, em 6 de março de 1888 e morreu com 81 anos de idade, em 15 de julho de 1969. Após a sua morte muitos loteamentos surgiram do que restou da Fazenda Ponte de Tábuas. Tudo indica que o declínio da atividade agrícola e da plantação de flores em Conselheiro Paulino foi em razão do fim da linha férrea, que inviabilizou a dinâmica de distribuição dos produtos para o mercado.

A necessidade de se construir residências para abrigar os habitantes de municípios vizinhos, que se mudaram para Nova Friburgo para trabalhar nas indústrias, igualmente concorreu para que as propriedades rurais se transformassem em loteamentos residenciais. Em razão disso, fazendas e sítios foram dando lugar a inúmeros loteamentos sem planejamento urbanístico por parte da prefeitura municipal.

Além do desmembramento da Fazenda Ponte de Tábuas e da Fazenda da Laje, o loteamento Jardim Marajó é resultado da fragmentação da fazenda de João Alberto Knust, nascido em 9 de dezembro de 1858, descendente de suíços alemães. Os eventos tradicionais de Conselheiro Paulino são a festa da padroeira Santa Teresinha, na última semana do mês de setembro até 1º de outubro e o Festival de Folia de Reis que reúne folias de diversos municípios.  

 

 

  • Foto da galeria

    Família Afonso, produtores de flores de corte

  • Foto da galeria

    Os primeiros loteamentos em Conselheiro Paulino

  • Foto da galeria

    Parque dos lagos no córrego fundo enclave rural em Conselheiro Paulino

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O precioso legado de Elviro Martignoni

quinta-feira, 05 de março de 2020

Cerca de 3,8 milhões de imigrantes europeus entraram no Brasil entre os anos de 1887 e 1930. Os italianos formavam o grupo mais numeroso, vindo a seguir os portugueses e os espanhóis. Imigrou para Nova Friburgo no final do século 19, a família Martignoni e nos parece ter sido um dos primeiros imigrantes italianos a chegar à vila serrana. No ano de 1870, Elviro Ernesto Martignoni embarcou com o seu pai e o tio no porto de Gênova, na Itália e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em 2 de agosto daquele ano.

Cerca de 3,8 milhões de imigrantes europeus entraram no Brasil entre os anos de 1887 e 1930. Os italianos formavam o grupo mais numeroso, vindo a seguir os portugueses e os espanhóis. Imigrou para Nova Friburgo no final do século 19, a família Martignoni e nos parece ter sido um dos primeiros imigrantes italianos a chegar à vila serrana. No ano de 1870, Elviro Ernesto Martignoni embarcou com o seu pai e o tio no porto de Gênova, na Itália e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em 2 de agosto daquele ano.

Elviro Martignoni estava prestes a fazer 16 anos de idade quando chegou à Vila de Nova Friburgo. Com 1,72 metros de altura, cabelos castanhos lisos, olhos azuis esverdeados e usando sempre cavanhaque e bigode, o belo italiano se casou aos 19 anos com Balbina Roza dos Santos, filha de imigrantes portugueses, tendo o casal 13 filhos. Elviro Martignoni fez uma viagem para a Europa por motivos pessoais e aproveitou a oportunidade para aperfeiçoar os seus conhecimentos em técnicas de pintura na cidade de Menton, no sul da França.

Em Nova Friburgo realizou pinturas no Teatro Victor Hugo que pertencia a Sociedade Musical Campesina e administrado por seu concunhado Fioravanti Andre Martinoya. Esse teatro foi vendido ao fazendeiro Manoel Amâncio de Souza Jordão, de Sumidouro, que passou a ser chamado de Teatro Dona Eugênia servindo a inúmeras companhias de ópera italiana que se apresentavam em Nova Friburgo.

Antônio Clemente Pinto, conde de São Clemente e seu irmão Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, conde de Nova Friburgo, perceberam a genialidade artística de Elviro Martignoni. Contrataram esse artista para pintar afrescos e quadros em suas residências. Martignoni trabalhou no palacete da família no Rio de Janeiro executando pinturas no teto na sala de banquetes, como “Diana, a caçadora”. Esse palacete posteriormente serviu de residência da presidência da República, conhecido como Palácio do Catete, e hoje abriga o Museu da República.

Em Nova Friburgo, na residência dos referidos condes, no solar da família no centro da cidade, pintou afrescos nas paredes, corredores, sala de recepção e cinco quadros de paisagens para a sala de jantar. Nos quadros retratou a cascata Pinel, a estrada da Castalha, subida de tropeiros na serra, a Fazenda São Lourenço e a Fazenda do Cônego. Esse prédio hoje pertence e abriga a Fundação Dom João VI.  Na chácara do chalet, hoje Nova Friburgo Country Clube, Elviro Martignoni executou pinturas como “Apolo e sua carruagem”, “Cupido com a tocha” e “As estações”.  Na casa de caça dos condes e atual Sanatório Naval de Nova Friburgo existem afrescos assinados por Martignoni. Tudo indica que Elias Antônio de Moraes, o segundo Barão das Duas Barras igualmente fez uso de seu trabalho.

Os afrescos de Martignoni no palacete do barão em Nova Friburgo estariam encobertos sob camadas de tinta. Esse prédio foi doado pela prefeitura para a Universidade Federal Fluminense. A construção da Catedral São João Batista teve início em 1851, e a obra finalizada em 1869, quase 20 anos após o início de sua construção. Na restauração realizada há alguns anos uma grande surpresa: o restaurador abrindo uma janela arqueológica, ao retirar com o bisturi diversas camadas de pinturas sobrepostas descobriu no presbitério uma pintura de Martignoni, em estilo neoclássico e eclético. Esse artista pintou e decorou igualmente outras igrejas no Rio de Janeiro.

Há indícios que Martignoni realizou diversas pinturas em residências em Nova Friburgo e em algumas casas de fazendas na região serrana. Muitas dessas pinturas foram feitas com ajuda de seu tio Giovanni Martignoni e posteriormente de seu filho Alberto Martignoni. A confecção e a pintura da bandeira da Campesina, guardada no centro de memória dessa sociedade musical são também de sua autoria.

Martignoni foi o idealizador e um dos fundadores no ano de 1894, da Sociedade União Beneficente e Humanitária dos Operários de Nova Friburgo. A SUBHO objetivava estimular a filantropia oferecendo amparo e seguridade aos trabalhadores que não tinham outro benefício além de seus salários. Em uma visita do presidente da República Getúlio Vargas a Nova Friburgo, em 1943, foi entregue uma cópia do estatuto dessa sociedade. Tudo indica que o bem elaborado estatuto da SUBHO pode ter sido aproveitado pelo presidente Getúlio Vargas na elaboração do estatuto da Previdência Social.

Elviro Ernesto Martignoni faleceu em 15 de novembro de 1929, aos 75 anos de idade em sua residência na Rua Padre Roberto Sabóia de Medeiros, 24, no Paissandu, onde morou a vida toda.  

  • Foto da galeria

    Elviro Martignoni chegou a Nova Friburgo em 1870

  • Foto da galeria

    João Ângelo Martignoni Teixeira, bisneto de Martignoni

  • Foto da galeria

    Pintura de Martignoni, na chácara do chalet, no Country Club

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A reforma agrária na Fazenda Rio Grande

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Em Campo do Coelho, terceiro distrito, a Fazenda Rio Grande vinha sendo paulatinamente alienada e suas glebas dando origem a outras propriedades rurais comumente conhecidas como sítios. No entanto, havia duas dessas glebas nessa fazenda denominadas de Serra Nova e Serra Velha onde estavam instaladas 66 famílias colonas. O proprietário colocou à venda as glebas onde estavam instaladas essas famílias. Vieram muitos interessados ver a propriedade aumentando a apreensão entre os colonos sobre o seu destino, caso a alienação se efetivasse.

Em Campo do Coelho, terceiro distrito, a Fazenda Rio Grande vinha sendo paulatinamente alienada e suas glebas dando origem a outras propriedades rurais comumente conhecidas como sítios. No entanto, havia duas dessas glebas nessa fazenda denominadas de Serra Nova e Serra Velha onde estavam instaladas 66 famílias colonas. O proprietário colocou à venda as glebas onde estavam instaladas essas famílias. Vieram muitos interessados ver a propriedade aumentando a apreensão entre os colonos sobre o seu destino, caso a alienação se efetivasse.

Porém, o fato de haver muitos colonos na propriedade dificultou a venda. Foi quando o proprietário propôs alienar as glebas de Serra Nova e de Serra Velha aos próprios colonos, com a interveniência do Fundo de Terras e da Reforma Agrária, através do Banco da Terra, que tinha um programa de linha de crédito fundiário. Para a efetivação da Reforma Agrária o CMDRS, Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, teria que aprovar a certificação de elegibilidade, ou seja, de que a propriedade teria condição necessária para ser explorada na atividade agrícola.

Como já havia colonos há muitas décadas cultivando nessa propriedade, preencheu, de imediato, essa condição. Para adquirirem a propriedade, os colonos criaram duas associações, a Associação Serra Nova dos Trabalhadores Rurais do Município de Nova Friburgo, com 22 famílias e a Associação Serra Velha de Trabalhadores Rurais do Município de Nova Friburgo, com 26 famílias. Nem todas as famílias colonas se interessaram pela compra.

O financiamento feito aos produtores rurais deveria ser integralizado no prazo de 20 anos, em parcelas anuais e sucessivas, sendo o valor das prestações pago em conjunto pelos agricultores das respectivas associações. Em 2022, está previsto o pagamento da última parcela. A gleba Serra Nova da Fazenda Rio Grande tem a dimensão de 220 hectares. Já a de Serra Velha possui 261,2 hectares. Na reforma agrária, o fracionamento da propriedade se fez respeitando a ocupação dos lotes pelos colonos alicerçado nos contratos anteriormente realizados com o proprietário. Logo, as frações não são de igual dimensão e cada um se tornou proprietário da área em que já se encontrava estabelecido.

Alguns questionaram esse modelo de divisão alegando que as áreas deveriam ser demarcadas na mesma dimensão já que pagariam valor idêntico. No entanto, mancomunou-se, entre a maioria dos associados, que cada família colona se manteria nas terras em que já cultivava, ainda que umas fossem maiores do que as outras e as prestações iguais. A aquisição estava condicionada aos produtores rurais residirem no imóvel, darem uma atividade produtiva à sua fração, explorando-a economicamente, cumprirem a legislação ambiental e não poderem vender, gravar, ceder ou transferir a terceiros.

A culminância de interesses convergiu na reforma agrária pacífica, estimulou a formação de líderes, do empoderamento local, manteve a produção agrícola de expressivo número de agricultores familiares e evitou o êxodo rural. É uma referência exitosa no Estado do Rio de Janeiro. O principal objetivo da reforma agrária é a desconcentração e o parcelamento da propriedade fundiária rural.

De todos os distritos agrícolas de Nova Friburgo é no terceiro distrito onde melhor se desenvolve o associativismo. As necessidades e os interesses comuns impulsionaram os agricultores familiares a agirem de forma coletiva através das associações para obtenção de seus objetivos. São organizações autônomas, de adesão voluntária e de gestão democrática, sem interferência de qualquer órgão governamental.

Atualmente existem, em Nova Friburgo, 30 associações rurais, sendo o município com a maior rede associativista do Brasil. Outra ação facilitadora da reforma agrária foi a existência do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável com a participação dos produtores rurais. Já o Sindaf, Sindicato de Agricultores Familiares de Nova Friburgo, o primeiro no Estado do Rio de Janeiro nessa categoria, melhorou a articulação entre os produtores rurais do município. A reforma agrária na Fazenda Rio Grande encontrou ambiente propício para se efetivar, evitando a evasão no campo com impactos sociais desastrosos.

Texto extraído do livro “Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas Abordagens”, coordenado por João Raimundo de Araújo e Ricardo da Gama Rosa Costa.

  • Foto da galeria

    Ceasa de Friburgo, onde fica a sede Sindicato de Agricultores Familiares (Acervo pessoal)

  • Foto da galeria

    Fazenda Rio Grande onde ocorreu a reforma agrária (Acervo pessoal)

  • Foto da galeria

    Lavoura no distrito do Campo do Coelho (Acervo pessoal)

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O carnaval do Fin du Siècle em Nova Friburgo

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

O carnaval de Nova Friburgo demarcava posições sociais e estabelecia territórios, fazendo emergir ao mesmo tempo e no mesmo espaço realidades distintas e comportamentos diversos. Enquanto a elite buscava o estilo europeizado inspirado na commedia dell’arte, as classes média e popular traziam resquícios da festa colonial como o retumbante zé-pereira, com batuque de bumbos atroadores, e o indesejável entrudo.

O carnaval de Nova Friburgo demarcava posições sociais e estabelecia territórios, fazendo emergir ao mesmo tempo e no mesmo espaço realidades distintas e comportamentos diversos. Enquanto a elite buscava o estilo europeizado inspirado na commedia dell’arte, as classes média e popular traziam resquícios da festa colonial como o retumbante zé-pereira, com batuque de bumbos atroadores, e o indesejável entrudo.

No carnaval do final do século 19, em Nova Friburgo, reinava a patuscada, a alegria, a gargalhada, as momices, o rebuliço, o entusiasmo e o chiste. O povo avultava pelas ruas da cidade sequioso de ver e ouvir a ideia e a pilhéria. Os mascarados faziam estripulias e os mais espirituosos faziam rir com seus ditos chistosos. Eram três dias de prazer, risos, galhofas, gritos, gargalhadas, cambalhotas, músicas, danças, pilhérias e o espírito a correr. Os rapazes proferiam ditos espirituosos enquanto as moças confusas tentavam identificar quem estava por detrás das máscaras.

Confetes, serpentinas, pétalas de rosas, versos e a pilhéria fina, delicada e “piramidal” estavam “na ponta” nos dias consagrados ao rei momo. Dominós formados por rapazes e gentis senhoritas percorriam a cidade propalando suas pilhérias espirituosas e provocando gargalhadas no povo que esperava ansioso por eles. Os foliões mascarados costumavam percorrer, além dos estabelecimentos comerciais, as residências vestidos de dançarina, dominós ou de mademoiselle fin du siècle expondo a pilhéria engraçada e críticas à intendência municipal o que provocava deliciosas gargalhadas.

Os populares tentavam a todo custo descobrir quem estava por detrás das máscaras. Manter-se no anonimato era crucial, o grande desafio dos foliões e o entusiasmo da festa. Usando voz em falsete e procurando esconder características que pudessem identificá-lo, o folião friburguense se rejubilava se permanecesse no anonimato durante os festejos.

 Os mascarados repetiam em Nova Friburgo constantemente a velha e conhecida frase, você me conhece?  Soberbo préstito de carruagens ricamente enfeitado com folhagens, bandeirolas, galhardetes e arcos de penachos conduziam cavalheiros, damas e crianças. A ornamentação artística das carruagens formava um luxuoso e florido cortejo que desfilava imponente pelas alamedas das praças do centro da cidade.

Costumava também ser promovida pelos veranistas a batalha das flores, influência do carnaval de Nice, na França. A batalha das flores consiste numa renhida luta entre as carruagens nos quais os foliões atiravam as flores que ornavam os respectivos veículos uns contra os outros. Com as sociedades musicais à frente e soados os primeiros acordes, o florido préstito dos alegres combatentes desfilava garboso.

As toaletes das senhoras e gentis senhoritas eram customizadas com flores, as mesmas que engalanavam os veículos. Dado o sinal, os alegres lutadores iniciavam a batalha em que eram atiradas as flores que ornavam as carruagens. Subiam pelos ares rosas, camélias, orquídeas e papoulas numa luta renhida sob uma miríade de flores odoríficas. O entusiasmo era delirante. Os bailes eram nos hotéis da cidade e notadamente no Salusse e no Central.

Igualmente nessas soirées carnavalescas o anonimato era fundamental e os mascarados apenas poderiam retirar seus disfarces à meia-noite. Nos salões as damas trajavam fantasias como camponesa bretã, botão de rosa, fada azul, primavera, normanda, esgrimista, crisântemo, margarida, pierrot, alsaciana, marquesa, camponesa suíça, borboleta, entre outras.

Esses bailes eram organizados com muita antecedência já que os veranistas começavam a chegar à Nova Friburgo em novembro e permanecendo até o mês de abril do ano seguinte na cidade. Isso se deve às epidemias de febre amarela que assolavam o Rio de Janeiro durante o verão, período da canícula, ou seja, do calor intenso. Essa antecedência da vinda dos veranistas garantia o sucesso da festa carnavalesca, pois havia muito tempo para planejar as carruagens, as fantasias e elaborar os ditos espirituosos. Esse texto foi extraído do livro O cotidiano de Nova Friburgo no final do século 19.

  • Foto da galeria

    Na Praça Paissandu desfila uma carruagem ornada de flores

  • Foto da galeria

    Típica carruagem do carnaval fin du siècle em Nova Friburgo

  • Foto da galeria

    Batalha das Flores em Nova Friburgo. Acervo Castro

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Conhecendo o Centro de Memória Martin Nicoulin na Fazenda Santan

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

O retorno do historiador suíço Martin Nicoulin a Nova Friburgo na semana passada foi por um motivo nobre. Ele veio para o lançamento do livro “Teia Serrana 2, novos temas, novas abordagens”. Martin Nicoulin é um historiador suíço que escreveu o antológico livro “A gênese de Nova Friburgo” que trata da imigração de colonos suíços para o Brasil, no século 19, cuja obra motivou a produção de outras publicações, algumas partindo de seu livro.

O retorno do historiador suíço Martin Nicoulin a Nova Friburgo na semana passada foi por um motivo nobre. Ele veio para o lançamento do livro “Teia Serrana 2, novos temas, novas abordagens”. Martin Nicoulin é um historiador suíço que escreveu o antológico livro “A gênese de Nova Friburgo” que trata da imigração de colonos suíços para o Brasil, no século 19, cuja obra motivou a produção de outras publicações, algumas partindo de seu livro.

Martin sempre foi um incentivador dos historiadores locais e ambos os volumes de Teia Serrana tiveram o seu apoio, assim como a busca de recursos para a sua publicação. No dia seguinte ao lançamento, o simpático e carismático historiador suíço foi até a Fazenda Santana, em Cantagalo, inaugurar um Centro de Memória em sua homenagem. A iniciativa partiu do atual proprietário da fazenda, o médico Renato Monnerat.

A Fazenda Santana era um latifúndio produtor de café com imensa importância no século 19, pertencente aos Sousa Brandão, os barões de Cantagalo. Médico e produtor rural Augusto de Souza Brandão, o segundo Barão de Cantagalo, plantava na Fazenda Santana café do tipo java, maragojipe, Libéria e marta. Sua propriedade tinha uma dimensão aproximada de 800 alqueires com 1,5 milhão de pés de café.

Durante uma visita de um grupo de suíços à Fazenda Santana, por ocasião do bicentenário de Nova Friburgo, presenciei uma situação interessante. Quando Renato Monnerat explicou que a dimensão dessa propriedade no passado era de 800 alqueires, o prefeito de um dos cantões se espantou e disse, “Era maior que o meu cantão”. Lembrando que cabem 142 Suíças em todo o território brasileiro. Todo o trabalho era realizado por 295 escravos. No entanto, com o fim do trabalho escravo o segundo Barão de Cantagalo se vê diante de uma crise financeira e bem endividado por falta de braços na lavoura.

José Heggendorn Monnerat, dono de diversas propriedades rurais arrematou a Fazenda Santana no ano de 1900, em leilão em praça pública. A família Monnerat era nessa ocasião uma das maiores fortunas da Região Serrana, provavelmente superando os Clemente Pinto, filhos do primeiro Barão de Nova Friburgo. Na sucessão hereditária a Fazenda Santana ficou pertencendo a Sebastião Monnerat Lutterbach que manteve a produção de café, mas diversificou sua atividade econômica com a lavoura branca e a criação de gado leiteiro da raça guzerá.

Introduziu ainda na fazenda uma fábrica de laticínios produzindo manteiga, queijo e requeijão com a marca Santana. O tetraneto de Sebastião Monnerat Lutterbach, o médico Renato Monnerat adquiriu essa fazenda dos herdeiros pois é um apaixonado pela história da diáspora de sua família para Cantagalo. Renato Monnerat descende de um único tronco familiar dos Monnerat.

O patriarca François Xavier Monnerat, sua esposa e sete filhos partiram da Suíça chegando ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1820. Seguiram para a Vila de Nova Friburgo se estabelecendo no distrito colonial. Em 1837, somente 17 anos após a sua chegada, a família adquiriu a Fazenda Rancharia, hoje situada no município de Duas Barras e que na ocasião era Cantagalo.

Além de se dedicarem ao cultivo do café eram igualmente tropeiros. Atualmente a extensão da Fazenda Santana é bem menor do que fora no passado em razão de seu desmembramento. Martin Nicoulin ficou encantado com a propriedade. Estava surpreso com a trajetória dos Monnerat ao longo do século 19, e da aquisição pela família de tantas propriedades na região. Não faltou emoção tanto de Martin Nicoulin quanto de Renato Monnerat ao inaugurarem o Centro de Memória em que criador e criatura se confraternizaram. Martin o criador da história das famílias suíças e Renato a criatura, descendente do patriarca François Xavier.

O Centro de Memória da Fazenda Santana tem dois pavimentos. Em uma das instalações está exibido o antigo maquinário da fazenda como o engenho de fubá, o descaroçador de feijão, as imensas caixas de madeira em que era depositado o açúcar fabricado, os instrumentos de arado, entre outras preciosidades. Martin Nicoulin sempre espirituoso fez questão de tocar nos grãos de café expostos simbolicamente no Cento de Memória exaltando que foi esse o produto que fez a fortuna de alguns colonos suíços.

Uma das perguntas que fiz à ele nessa ocasião foi de como explicava quão os Monnerat haviam amealhado tamanha fortuna algumas décadas depois de sua chegada a Cantagalo. Ele deu uma explicação simples. Foram duas as condições favoráveis. As terras férteis da região e o cultivo do café, o ouro verde, o principal produto de exportação do Brasil Império. 

  • Foto da galeria

    A família Monnerat recebe Martin Nicoulin na Fazenda Santana

  • Foto da galeria

    Martin Nicoulin em momento de descontração na Fazenda-Santana

  • Foto da galeria

    O café proporcionou a riqueza dos Monnerat em Cantagalo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A prostituta e a estação do trem

quinta-feira, 06 de fevereiro de 2020

O título da matéria pode parecer estranho aos amantes da memória do trem no Brasil, mas logo explico. Certa ocasião, dirigindo um documentário na Estação de Trem Visconde de Itaboraí, conhecida como Visconde, uma prostituta que residia no outrora escritório da estação se aproximou de mim. Ela estava intrigada e queria saber por que eu estava fazendo imagens de um lugar tão sujo e insalubre como a estação de Visconde. Para quem não conhece a antiga estação ela está totalmente abandonada, os ambientes internos repletos de fezes de pombos e de animais mortos.

O título da matéria pode parecer estranho aos amantes da memória do trem no Brasil, mas logo explico. Certa ocasião, dirigindo um documentário na Estação de Trem Visconde de Itaboraí, conhecida como Visconde, uma prostituta que residia no outrora escritório da estação se aproximou de mim. Ela estava intrigada e queria saber por que eu estava fazendo imagens de um lugar tão sujo e insalubre como a estação de Visconde. Para quem não conhece a antiga estação ela está totalmente abandonada, os ambientes internos repletos de fezes de pombos e de animais mortos. O ambiente é tão insalubre que sequer havia sido ocupado por indigentes como normalmente acontece em locais abandonados. Feita a indagação respondi à espirituosa prostituta que era de meu interesse fazer imagens daquela estação ainda que estivesse em péssimo estado de conservação. Foi então que ela me disse algo que jamais esqueci. Naquele momento da vida, ela se sentia como aquela estação, abandonada. Ela escrevera um texto que me deu em que dialogava com a estação. Reproduzo aqui um pequeno extrato. “Ela(refere-se a estação) me disse sorrindo, entristecida, um dia eu já tive vida, muitos passaram aqui alegremente, foram felizes” ao que a prostituta responde “eu também já fui nova e feliz e hoje sou abandonada e sofrida.” Ela estabeleceu uma comparação interessante. No passado aquele local era cheio de gente bonita e alegre e hoje se encontra totalmente sujo e largado. Ela também já fora um dia linda e desejada e agora se encontra fisicamente acabada. O diálogo é bem simples, mas o que me marcou foi a comparação da situação física daquele local com a sua decrepitude. O objetivo dessa matéria é trazer informação sobre as outrora estações de trem de Nova Friburgo e o destino de cada uma delas. Iniciemos pela Estação Nova Friburgo no centro da vila, na Rua General Argolo, atual Alberto Braune. O trecho da linha férrea subindo a serra foi inaugurado em 18 de dezembro de 1873, com a presença do Imperador D. Pedro II. Bernardo Clemente Pinto na ocasião foi agraciado com o título de 2° Barão de Nova Friburgo pelo desafio de ter trazido a linha férrea até a região serrana. O transporte ferroviário chega à Nova Friburgo em função das fazendas de café em Cantagalo pertencente à família Clemente Pinto. Já não era mais plausível que um produto de exportação com expressivo volume fosse transportado por tropas de mulas. Até então se misturavam passageiros e cargas no centro da vila, na Estação Nova Friburgo, o que já estava se tornando cada vez mais inconveniente. Em razão disso, em 15 de junho de 1933, foi inaugurada uma estação somente de carga na Chácara do Gambá, denominada de Estação Friburgo-Cargas e que hoje abriga o 11° Batalhão da Polícia Militar. Dois anos depois o prédio da Estação Nova Friburgo foi demolido dando lugar a uma estação mais elegante, em estilo colonial e inaugurado em junho de 1935. Infelizmente sua fachada foi modificada com a supressão de seus alinhados arcos e hoje abriga a Prefeitura Municipal de Nova Friburgo. Outra estação de trem era a Estação do Rio Grande, atual Riograndina, inaugurada em primeiro de maio de 1876. As terras férteis banhados pelo Rio Grande fizeram da região um importante produtor de milho, feijão, mandioca, entre outros produtos. Dessa estação seguia-se para os municípios da região serrana como Bom Jardim, Macuco, Cordeiro, Cantagalo, etc. A Estação do Rio Grande abriga atualmente um Ponto de Cultura e está muito bem conservada, com destaque para a ponte de ferro. O distrito de Conselheiro Paulino era outrora um latifúndio denominado de Fazenda da Ponte de Tábua. O desmembramento da Fazenda da Ponte de Tábua deu origem a pequenas propriedades rurais que se dedicavam a lavoura branca. Para o escoamento dessa produção agrícola a região foi contemplada com uma estação de trem que leva o nome de um importante político saquarema, Conselheiro Paulino. A estação ferroviária foi inaugurada em 1889, cujo trecho seguia para Sumidouro até alcançar o município de Além Paraíba. Era a nossa ligação pela via férrea com o Estado de Minas Gerais. Era situada em frente ao campo de futebol do pastão, mas a estação não existe mais. Havia também uma pequena parada no alto da serra denominada de Estação de Mury e que servia para escoar os produtos da lavoura dos agricultores de Lumiar e São Pedro da Serra. As estações eram também um espaço de sociabilidade para assistir às chegadas e partidas dos trens. Era um programa da família inteira principalmente nos dias do trem de passeio. Tombadas como patrimônio histórico, as estações de trem são lugares de memória da velha maria fumaça. 

  • Foto da galeria

    Década de 1920 ao fundo a estação de trem do seculo 19 (Acervo Fundação D João V)

  • Foto da galeria

    Estação de trem de Conselheiro Paulino, inaugurada em 1889

  • Foto da galeria

    Estação de trem em Riograndina. (Acervo Riograndinaemfoco)

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Nova Friburgo ganha mais uma obra de história

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O município de Nova Friburgo ganha mais uma obra, o livro “Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas Abordagens”, que joga ainda mais luz sobre a sua rica história. O primeiro volume “Teia Serrana, Formação Histórica de Nova Friburgo”, lançado em fevereiro de 2003, contou com 11 artigos de historiadores, alguns dos quais são igualmente articulistas no segundo volume. Os coordenadores de ambas as obras foram João Raimundo de Araújo e Jorge Miguel Mayer, esse último falecido no dia 20 de março de 2018, e substituído por Ricardo da Gama Rosa Costa.

O município de Nova Friburgo ganha mais uma obra, o livro “Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas Abordagens”, que joga ainda mais luz sobre a sua rica história. O primeiro volume “Teia Serrana, Formação Histórica de Nova Friburgo”, lançado em fevereiro de 2003, contou com 11 artigos de historiadores, alguns dos quais são igualmente articulistas no segundo volume. Os coordenadores de ambas as obras foram João Raimundo de Araújo e Jorge Miguel Mayer, esse último falecido no dia 20 de março de 2018, e substituído por Ricardo da Gama Rosa Costa.

Os dois livros, nos quais participa, foram incentivados por Martin Nicoulin, autor da clássica obra “A Gênese de Nova Friburgo”.  Segundo os coordenadores João de Araújo e Ricardo Costa, os artigos do novo livro não são uma reinterpretação de assuntos já cogitados no primeiro tendo em vista que apresentam novos temas. Ainda segundo os coordenadores, existe uma correlação temático-temporal entre os artigos.

O texto de Martin Nicoulin “Os Friburguenses das duas Sarines”, o de Marieta de Moraes Ferreira, “Marianne Joset Salusse, uma mulher à frente de seu tempo” e o de Jorge Miguel Mayer, “As Malas Órfãs”, traduzem trajetórias de personagens diferentes que são ligados historicamente à migração suíça para a criação da Colônia de Nova Friburgo. Seja com o imigrante Jean-Antoine Musy ou através de Mariane Joset Salusse ou mesmo nas análises feitas a partir do conteúdo das malas de migrantes falecidos ao longo do trajeto, o leitor irá se emocionar com a leitura dos textos desses três historiadores.

Percorrendo o século 19, os artigos de Rodrigo Marretto “Insurgência escrava na Vila de Nova Friburgo (1820-1850)” e de Maria Janaína Botelho Corrêa e Selmo de Oliveira Santos, “Terras Frias, um ensaio sobre a Reforma Agrária na Fazenda Rio Grande”, demonstram certa unidade temática em torno da escravidão existente em Nova Friburgo. Mesmo tratando-se de objetos aparentemente diferentes, a conclusão que podemos inferir de sua leitura é a força da escravidão existente na região.

Já Maria Ana Qualigno, em “Ocupação e ressignificações do espaço urbano: o caso do Palácio Barão de Nova Friburgo (1871-1988)”, apresenta uma análise relacionada à história da ferrovia em Nova Friburgo, perpassando por momentos distintos da história local. Unindo aspectos econômicos e políticos, a autora discute a apropriação do espaço urbano em torno da criação da Estrada de Ferro Cantagalo, apresentando os momentos de sua grandeza e decadência até a sua extinção em 1964, já instalada a ditadura militar. Os artigos a seguir, a cargo de Maurício Raposo “A cidade e o integralismo, Nova Friburgo e a Ação Integralista Brasileira”, e de Sônia Regina Rebel de Araújo, “Diplomar a Mãe-Professora: Festas da Ordem no Colégio Nossa Senhora das Dores”, embora com temáticas diferentes, abordam aspectos histórico-culturais de Nova Friburgo.

De um lado, Maurício Raposo estuda o papel da Ação Integralista Brasileira em Nova Friburgo nos anos 1930, enquanto Sônia Rebel Araújo analisa a educação de mulheres em um colégio católico, na Escola Normal, nas décadas de 1950 e 60. São temas e abordagens diversos unidos por análises da política e da cultura no município, ambos mostrando facetas diferentes do pensamento conservador existente. Os artigos de Ricardo Gama Rosa Costa, “Nova Friburgo nos tempos de ditadura (1964-1985): A Burguesia vai ao Paraíso” e de João Raimundo de Araújo “Política e Economia em Nova Friburgo dos fins do Século 20 aos primórdios do século 21” abordam principalmente uma história do tempo presente, tendo como elemento de ligação o predomínio das práticas autoritárias desde 1964, até a atualidade.

Como sustentação material dos projetos políticos de diversos sujeitos históricos ao longo do tempo, os autores apresentam elementos importantes no campo da economia municipal e regional que explicam o sucesso desses atores políticos. É interessante perceber que Heródoto Bento de Mello foi o político que inaugurou no município o período da ditadura militar tornando-se prefeito em abril de 1964 e permaneceu atuante até primórdios de 2010.

Coube a ele a introdução no município de um comportamento liberal conservador, com práticas francamente autocráticas, que revela até hoje uma marca forte no comportamento político de boa parte da sociedade friburguense. O último artigo do livro, a cargo de Jorge Miguel Mayer, “Tesouro da Serra: Águas do Alto Macaé” traduz uma preocupação cara ao autor, a discussão sobre o meio-ambiente visto numa perspectiva histórica. A fotógrafa Regina Lo Bianco assina as imagens e ilustrações. O livro contou com o apoio financeiro da Associação Fribourg-Nova Friburgo, responsável pela publicação. O lançamento de “Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas Abordagens” será no dia 7 de fevereiro, às 18h, na Casa Suíça, em Conquista.

  • Foto da galeria

    Capa do livro Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas-Abordagens

  • Foto da galeria

    Integralismo em Nova Friburgo Ilustrações da fotógrafa Regina Lo Bianco

  • Foto da galeria

    O livro teve o apoio da Associação Fribourg-Nova Friburgo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.