Nova Friburgo ganha mais uma obra de história

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O município de Nova Friburgo ganha mais uma obra, o livro “Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas Abordagens”, que joga ainda mais luz sobre a sua rica história. O primeiro volume “Teia Serrana, Formação Histórica de Nova Friburgo”, lançado em fevereiro de 2003, contou com 11 artigos de historiadores, alguns dos quais são igualmente articulistas no segundo volume. Os coordenadores de ambas as obras foram João Raimundo de Araújo e Jorge Miguel Mayer, esse último falecido no dia 20 de março de 2018, e substituído por Ricardo da Gama Rosa Costa.

Os dois livros, nos quais participa, foram incentivados por Martin Nicoulin, autor da clássica obra “A Gênese de Nova Friburgo”.  Segundo os coordenadores João de Araújo e Ricardo Costa, os artigos do novo livro não são uma reinterpretação de assuntos já cogitados no primeiro tendo em vista que apresentam novos temas. Ainda segundo os coordenadores, existe uma correlação temático-temporal entre os artigos.

O texto de Martin Nicoulin “Os Friburguenses das duas Sarines”, o de Marieta de Moraes Ferreira, “Marianne Joset Salusse, uma mulher à frente de seu tempo” e o de Jorge Miguel Mayer, “As Malas Órfãs”, traduzem trajetórias de personagens diferentes que são ligados historicamente à migração suíça para a criação da Colônia de Nova Friburgo. Seja com o imigrante Jean-Antoine Musy ou através de Mariane Joset Salusse ou mesmo nas análises feitas a partir do conteúdo das malas de migrantes falecidos ao longo do trajeto, o leitor irá se emocionar com a leitura dos textos desses três historiadores.

Percorrendo o século 19, os artigos de Rodrigo Marretto “Insurgência escrava na Vila de Nova Friburgo (1820-1850)” e de Maria Janaína Botelho Corrêa e Selmo de Oliveira Santos, “Terras Frias, um ensaio sobre a Reforma Agrária na Fazenda Rio Grande”, demonstram certa unidade temática em torno da escravidão existente em Nova Friburgo. Mesmo tratando-se de objetos aparentemente diferentes, a conclusão que podemos inferir de sua leitura é a força da escravidão existente na região.

Já Maria Ana Qualigno, em “Ocupação e ressignificações do espaço urbano: o caso do Palácio Barão de Nova Friburgo (1871-1988)”, apresenta uma análise relacionada à história da ferrovia em Nova Friburgo, perpassando por momentos distintos da história local. Unindo aspectos econômicos e políticos, a autora discute a apropriação do espaço urbano em torno da criação da Estrada de Ferro Cantagalo, apresentando os momentos de sua grandeza e decadência até a sua extinção em 1964, já instalada a ditadura militar. Os artigos a seguir, a cargo de Maurício Raposo “A cidade e o integralismo, Nova Friburgo e a Ação Integralista Brasileira”, e de Sônia Regina Rebel de Araújo, “Diplomar a Mãe-Professora: Festas da Ordem no Colégio Nossa Senhora das Dores”, embora com temáticas diferentes, abordam aspectos histórico-culturais de Nova Friburgo.

De um lado, Maurício Raposo estuda o papel da Ação Integralista Brasileira em Nova Friburgo nos anos 1930, enquanto Sônia Rebel Araújo analisa a educação de mulheres em um colégio católico, na Escola Normal, nas décadas de 1950 e 60. São temas e abordagens diversos unidos por análises da política e da cultura no município, ambos mostrando facetas diferentes do pensamento conservador existente. Os artigos de Ricardo Gama Rosa Costa, “Nova Friburgo nos tempos de ditadura (1964-1985): A Burguesia vai ao Paraíso” e de João Raimundo de Araújo “Política e Economia em Nova Friburgo dos fins do Século 20 aos primórdios do século 21” abordam principalmente uma história do tempo presente, tendo como elemento de ligação o predomínio das práticas autoritárias desde 1964, até a atualidade.

Como sustentação material dos projetos políticos de diversos sujeitos históricos ao longo do tempo, os autores apresentam elementos importantes no campo da economia municipal e regional que explicam o sucesso desses atores políticos. É interessante perceber que Heródoto Bento de Mello foi o político que inaugurou no município o período da ditadura militar tornando-se prefeito em abril de 1964 e permaneceu atuante até primórdios de 2010.

Coube a ele a introdução no município de um comportamento liberal conservador, com práticas francamente autocráticas, que revela até hoje uma marca forte no comportamento político de boa parte da sociedade friburguense. O último artigo do livro, a cargo de Jorge Miguel Mayer, “Tesouro da Serra: Águas do Alto Macaé” traduz uma preocupação cara ao autor, a discussão sobre o meio-ambiente visto numa perspectiva histórica. A fotógrafa Regina Lo Bianco assina as imagens e ilustrações. O livro contou com o apoio financeiro da Associação Fribourg-Nova Friburgo, responsável pela publicação. O lançamento de “Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas Abordagens” será no dia 7 de fevereiro, às 18h, na Casa Suíça, em Conquista.

  • Foto da galeria

    Capa do livro Teia Serrana 2, Novos Temas, Novas-Abordagens

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    Integralismo em Nova Friburgo Ilustrações da fotógrafa Regina Lo Bianco

  • Foto da galeria

    O livro teve o apoio da Associação Fribourg-Nova Friburgo

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