O precioso legado de Elviro Martignoni

quinta-feira, 05 de março de 2020

Cerca de 3,8 milhões de imigrantes europeus entraram no Brasil entre os anos de 1887 e 1930. Os italianos formavam o grupo mais numeroso, vindo a seguir os portugueses e os espanhóis. Imigrou para Nova Friburgo no final do século 19, a família Martignoni e nos parece ter sido um dos primeiros imigrantes italianos a chegar à vila serrana. No ano de 1870, Elviro Ernesto Martignoni embarcou com o seu pai e o tio no porto de Gênova, na Itália e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em 2 de agosto daquele ano.

Elviro Martignoni estava prestes a fazer 16 anos de idade quando chegou à Vila de Nova Friburgo. Com 1,72 metros de altura, cabelos castanhos lisos, olhos azuis esverdeados e usando sempre cavanhaque e bigode, o belo italiano se casou aos 19 anos com Balbina Roza dos Santos, filha de imigrantes portugueses, tendo o casal 13 filhos. Elviro Martignoni fez uma viagem para a Europa por motivos pessoais e aproveitou a oportunidade para aperfeiçoar os seus conhecimentos em técnicas de pintura na cidade de Menton, no sul da França.

Em Nova Friburgo realizou pinturas no Teatro Victor Hugo que pertencia a Sociedade Musical Campesina e administrado por seu concunhado Fioravanti Andre Martinoya. Esse teatro foi vendido ao fazendeiro Manoel Amâncio de Souza Jordão, de Sumidouro, que passou a ser chamado de Teatro Dona Eugênia servindo a inúmeras companhias de ópera italiana que se apresentavam em Nova Friburgo.

Antônio Clemente Pinto, conde de São Clemente e seu irmão Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, conde de Nova Friburgo, perceberam a genialidade artística de Elviro Martignoni. Contrataram esse artista para pintar afrescos e quadros em suas residências. Martignoni trabalhou no palacete da família no Rio de Janeiro executando pinturas no teto na sala de banquetes, como “Diana, a caçadora”. Esse palacete posteriormente serviu de residência da presidência da República, conhecido como Palácio do Catete, e hoje abriga o Museu da República.

Em Nova Friburgo, na residência dos referidos condes, no solar da família no centro da cidade, pintou afrescos nas paredes, corredores, sala de recepção e cinco quadros de paisagens para a sala de jantar. Nos quadros retratou a cascata Pinel, a estrada da Castalha, subida de tropeiros na serra, a Fazenda São Lourenço e a Fazenda do Cônego. Esse prédio hoje pertence e abriga a Fundação Dom João VI.  Na chácara do chalet, hoje Nova Friburgo Country Clube, Elviro Martignoni executou pinturas como “Apolo e sua carruagem”, “Cupido com a tocha” e “As estações”.  Na casa de caça dos condes e atual Sanatório Naval de Nova Friburgo existem afrescos assinados por Martignoni. Tudo indica que Elias Antônio de Moraes, o segundo Barão das Duas Barras igualmente fez uso de seu trabalho.

Os afrescos de Martignoni no palacete do barão em Nova Friburgo estariam encobertos sob camadas de tinta. Esse prédio foi doado pela prefeitura para a Universidade Federal Fluminense. A construção da Catedral São João Batista teve início em 1851, e a obra finalizada em 1869, quase 20 anos após o início de sua construção. Na restauração realizada há alguns anos uma grande surpresa: o restaurador abrindo uma janela arqueológica, ao retirar com o bisturi diversas camadas de pinturas sobrepostas descobriu no presbitério uma pintura de Martignoni, em estilo neoclássico e eclético. Esse artista pintou e decorou igualmente outras igrejas no Rio de Janeiro.

Há indícios que Martignoni realizou diversas pinturas em residências em Nova Friburgo e em algumas casas de fazendas na região serrana. Muitas dessas pinturas foram feitas com ajuda de seu tio Giovanni Martignoni e posteriormente de seu filho Alberto Martignoni. A confecção e a pintura da bandeira da Campesina, guardada no centro de memória dessa sociedade musical são também de sua autoria.

Martignoni foi o idealizador e um dos fundadores no ano de 1894, da Sociedade União Beneficente e Humanitária dos Operários de Nova Friburgo. A SUBHO objetivava estimular a filantropia oferecendo amparo e seguridade aos trabalhadores que não tinham outro benefício além de seus salários. Em uma visita do presidente da República Getúlio Vargas a Nova Friburgo, em 1943, foi entregue uma cópia do estatuto dessa sociedade. Tudo indica que o bem elaborado estatuto da SUBHO pode ter sido aproveitado pelo presidente Getúlio Vargas na elaboração do estatuto da Previdência Social.

Elviro Ernesto Martignoni faleceu em 15 de novembro de 1929, aos 75 anos de idade em sua residência na Rua Padre Roberto Sabóia de Medeiros, 24, no Paissandu, onde morou a vida toda.  

  • Foto da galeria

    Elviro Martignoni chegou a Nova Friburgo em 1870

  • Foto da galeria

    João Ângelo Martignoni Teixeira, bisneto de Martignoni

  • Foto da galeria

    Pintura de Martignoni, na chácara do chalet, no Country Club

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