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Os Puris, povo indígena de Nova Friburgo

quinta-feira, 11 de junho de 2020

No início do século 19, os indígenas Puri habitavam a Fazenda do Córrego d’Anta reservada como patrimônio pessoal de D. João VI, por ocasião da fundação do município de Nova Friburgo. O juiz Cansanção de Sinimbu informou na ocasião que o Aviso de 3 de dezembro de 1819, determinou removê-los para um aldeamento a fim de não incomodarem os imigrantes suíços que eram esperados na colônia. Na Fundação D. João VI há, inclusive, uma correspondência de 23 de novembro de 1824, com a referência de que os indígenas foram empregados para abrir picadas nas glebas doadas aos colonos suíços.

No início do século 19, os indígenas Puri habitavam a Fazenda do Córrego d’Anta reservada como patrimônio pessoal de D. João VI, por ocasião da fundação do município de Nova Friburgo. O juiz Cansanção de Sinimbu informou na ocasião que o Aviso de 3 de dezembro de 1819, determinou removê-los para um aldeamento a fim de não incomodarem os imigrantes suíços que eram esperados na colônia. Na Fundação D. João VI há, inclusive, uma correspondência de 23 de novembro de 1824, com a referência de que os indígenas foram empregados para abrir picadas nas glebas doadas aos colonos suíços.

O pesquisador Carlos Jayme Jaccoud fez um relato de que em Córrego d’Anta foi encontrado um machado de pedra polida na propriedade de sua família. No terceiro distrito de Nova Friburgo, em Salinas, localizei na propriedade de Almir Tardin um precioso acervo de artefatos indígenas encontrados na região. Os índios puri e coroado habitavam a região serrana e noroeste fluminense onde havia igualmente os koropós e Goytakas As duas etnias puri e coroado formaram um mesmo povo compartilhando a língua e a cultura.

O povo puri é originário dos quatro estados do Sudeste, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Ocuparam tradicionalmente toda a região banhada pela bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Os indígenas botocudos foram representados como os mais ferozes, antropófagos e rudes. O ataque a um quartel no Vale do Rio Doce motivou D. João VI, em 1808, a declarar guerra contra os botocudos.

A historiadora Txâma Xambé (txamapuri@hotmail.com) nos informa que a denominação botocudo era depreciativa e se aplicava majoritariamente aos borum, que viriam a se chamar posteriormente Krenak. Era comum chamar de botocudo ao indígena resistente ao aldeamento e à catequização, o que na prática incluía os puri, considerados pelo governo como selvagens. Os termos tapuia, botocudo e índio bravo se cruzam nos registros e no imaginário da época em oposição aos índios mansos, de catequização viabilizada pelo uso de línguas tupi, conhecidas pelos colonizadores.

Conforme os historiadores Tutushamum e Txâma Xambé, os puri sofreram um processo de genocídio e etnocídio ao longo dos séculos 18 e 19 com a expropriação de seus territórios, diáspora da população sobrevivente e negação de sua existência pelo Estado e pela história oficial. No entanto, a memória da identidade puri permanece viva nas regiões ocupadas tradicionalmente por esse povo. Atualmente, os povos indígenas tem obtido cada vez mais o reconhecimento de seu verdadeiro lugar na história, na cultura e na sociedade, desafiando a política assimilacionista que pretendia extingui-los.

Em 2011, o historiador Tutushamum (indiopuri@gmail.com) deu início a um projeto denominado de Movimento Txemím Puri, composto por puris dos quatro estados anteriormente mencionados. Realizam pesquisas sobre a história, a língua e a cultura de seu povo, promovem o ensino bem como o uso de sua língua e realizam o registro dos saberes de anciãs e anciãos das comunidades puri, preservando suas práticas culturais.

O movimento Txemím Puri igualmente apoia educadores interessados em incluir conteúdos de história e cultura puri em seu trabalho pedagógico. Possui as publicações “Vocabulário Bilíngue Kwaytikindo-Português” e “Povo Puri, História, Cultura e (R)Existência”, volume 1. É o primeiro livro sobre história, língua e cultura Puri produzido por puris, disponibilizado aos educadores. Participa do movimento o escritor e contador de histórias Dauá Puri (dauasilva.puri@gmail.com) que costuma realizar oficinas de contação de lendas e tradições puri.

Uma das preciosidades do movimento Txemím é o resgate de cânticos puri com a sua tradução e que passo a transcrever. O primeiro canto é o “Kanaremundê, Ho bugure”. Hô bugure ita naji. Gwaxantl’eh, gwaxantl’eh, gwaxantl’eh, gwaxantl’eh. Ah, ah kanjana, Maxe tx’mba. Oh, os inimigos foram vencidos. Pular, pular, pular, pular. Eu, eu, bebida. Comer, Beber. O segundo canto é “Kanaremundê Petara”. Petara, petara, poteh, miripon. Ximan xuteh, okora dieh. Lua, lua, luz da noite. Caminho bom, você no céu. O terceiro “Kanaremundê Tangwetá”. Hê hê, hê hê, hê hê hê, hê hê. Tangweta tangwa txo. Ñawera txori kemun. Hê hê, hê hê, hê hê hê, hê hê. Ey lakareh, omrin, apon. Ah sate prike txo.Hê hê, hê hê, hê hê hê, hê hê. A sombra observa o macaco. Ñawera caminha na floresta. Hê hê, hê hê, hê hê hê, hê hê. Meu braço, arco, flecha. Eu vejo irmãos, irmãs. Finalmente o canto “Kanaremundê Tenu-Ahi”. Tenu-ahi, opê potê, tenu-ahi, Tenu-ahi, axe maxe, tenu-ahi. Tenu-ahi, petara sayma, tenu-ahi. Tenu-ahi, ñaman ñamaytu, tenu-ahi. Tenu-ahi, txuri sayma, tenu-ahi. Tenu-ahi, sate makapon, tenu-ahi. Grato, luz do sol, grato. Grato, alimento da terra, grato. Grato, lua brilhante, grato. Grato, frescor da água, grato. Grato, estrela brilhante, grato. Grato, amor dos irmãos, grato.

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    À direita, o historiador Tutushamum criador do Movimento Txemím Puri

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    Os Puri, indígenas que habitavam Nova Friburgo

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    Txâma Xambé, historiadora do Movimento Txemím Puri

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A Fazenda do Cônego

quinta-feira, 04 de junho de 2020

O bairro Cônego pertence ao primeiro distrito de Nova Friburgo. Em um passado remoto era denominado de Fazenda do Cônego, propriedade que pertencia a Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Até a década de 1830, após a subida da Serra da Boa Vista, a entrada em Nova Friburgo era feita pela Fazenda do Cônego. Há quem afirme que a localidade tem esse nome pelo fato de um cônego, amigo do barão, ter se hospedado em sua propriedade por muitos anos. Mas não há comprovação.

O bairro Cônego pertence ao primeiro distrito de Nova Friburgo. Em um passado remoto era denominado de Fazenda do Cônego, propriedade que pertencia a Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo. Até a década de 1830, após a subida da Serra da Boa Vista, a entrada em Nova Friburgo era feita pela Fazenda do Cônego. Há quem afirme que a localidade tem esse nome pelo fato de um cônego, amigo do barão, ter se hospedado em sua propriedade por muitos anos. Mas não há comprovação.

Na Fundação Dom João VI existem duas telas pintadas pelo artista italiano Elviro Martignoni retratando a Fazenda do Cônego. Essas telas ficavam expostas na sala de jantar do solar do Barão de Nova Friburgo, no centro da cidade. A Fazenda do Cônego possuía uma área de terras aproximada de 1.200 alqueires, sendo parte cultivada e parte em mata e capoeira. Havia uma casa de vivenda, um moinho, duas senzalas com uma enfermaria em uma delas e uma cozinha para os escravos.

As outras benfeitorias consistiam em uma casa para os empregados, rancho, galinheiro, pombal, estrebaria, ceva e viveiro para pássaros. Parece-nos ter sido sua atividade econômica voltada para a construção civil, pois havia uma olaria com forno, estufa, engenhos movidos por água para serrar, máquinas para aplainar, para fabricar tijolos e tubos, para purificar e amassar o barro, para prensar ladrilhos, para tornear ferro e madeira, além de outros engenhos, entendendo-se a palavra engenho como máquina. Havia trilhos da estrada de ferro e um carro costumava partir da Fazenda do Cônego até a Vila de Nova Friburgo possivelmente para transportar o material de construção fabricado na propriedade.

O bairro de Olaria deve o seu nome à atividade de fabricação de telhas, tijolos e canos em cerâmica na Fazenda do Cônego. Albert Henschel, fotógrafo da Casa Imperial fez imagens dessa propriedade a pedido do imperador D. Pedro II quando esteve em Nova Friburgo, no final do século 19.

O bairro do Cônego é banhado pelo rio de mesmo nome. Assim como o Rio Santo Antônio, o Rio Cônego nasce no maciço do Caledônia. O encontro de suas águas em frente a Igreja Luterana, no Paissandu, forma o Rio Bengalas. A Fazenda do Cônego era local de passagem de tropas de mulas. Na primeira metade do século 20, os agricultores das Terras Trias, como era conhecido o distrito do Campo do Coelho comercializavam no centro de Nova Friburgo os produtos de sua lavoura.

Havia alguns caminhos pelo qual passavam as tropas. Uma dessas rotas atravessava a localidade de Cardinot e a Várzea Grande, na Fazenda do Cônego, até alcançar o centro da cidade. Na sucessão hereditária a fazenda do barão é desmembrada em diversos sítios. No centro da Praça do Cônego há o busto do lavrador José Pires Barroso, proprietário de um desses sítios. Desde a Várzea Grande até a Grota Funda ele possuía uma imensa propriedade rural.

O velho Barroso, como era conhecido plantava chuchu, abóbora, inhame, batata doce, frutas, hortaliças e se dedicava a apicultura e a criação de carpas. Destacou-se igualmente na década de 1950, no cultivo de flores, replantio florestal de eucaliptos e foi pioneiro na plantação de trigo. Nesse bairro ainda existe uma área com extensa plantação de flores de corte, mas não pertence a família Barroso.

A família Cunha foi também um dos mais importantes produtores rurais nessa região. Até a metade do século 20 a maior parte da população de Nova Friburgo vivia na área rural. Paulatinamente, os sítios da Fazenda do Cônego foram dando lugar a ruas e a outros logradouros públicos, os charcos sendo aterrados e iniciando-se a construção de residências.

Denominado de arraial na década de 1950, a Fazenda do Cônego possuía uma população exclusivamente operária que trabalhava na Fábrica de Rendas Arp. Curiosamente, as modestas habitações foram dando lugar a belíssimas residências de veranistas cariocas e niteroienses que escolheram o Cônego para passar as temporadas de férias. No entanto, atualmente isso não ocorre e o Cônego tornou-se um bairro das classes média e alta friburguense.

As denominações de alguns locais foram alteradas. De Fazenda do Cônego passa a ser chamado apenas de Cônego. Várzea Grande é hoje conhecida como Vargem Grande. A grande quantidade de restaurantes coloca o bairro como o que melhor representa a gastronomia da cidade. Os seus edifícios com gabarito baixo acompanham de forma harmoniosa a característica bucólica do bairro. A cada momento nos deparamos com belíssimas residências antigas que nos remete a lembrança da paisagem rural da outrora Fazenda do Cônego.

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    José Pires Barroso em seu sítio, hoje bairro do Cônego

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    Plantação de trigo na Fazenda do Cônego

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    A Fazenda do Cônego foi desmembrada em sítios

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O jockey club do Nova Suíça Country Clube

quinta-feira, 28 de maio de 2020

O turfe foi introduzido no Brasil no século 19 pelos ingleses e ganhou importância como esporte entre a elite brasileira. No ano de 1883, surgiu em Nova Friburgo um clube atlético denominado “General Osório” que promovia corridas de cavalo na rua de mesmo nome. Já o Clube Atlético Bargossi solicitou permissão à Câmara Municipal para colocar postes de raia na Praça do Suspiro em razão das corridas de cavalo realizadas aos domingos e dias santificados.

O turfe foi introduzido no Brasil no século 19 pelos ingleses e ganhou importância como esporte entre a elite brasileira. No ano de 1883, surgiu em Nova Friburgo um clube atlético denominado “General Osório” que promovia corridas de cavalo na rua de mesmo nome. Já o Clube Atlético Bargossi solicitou permissão à Câmara Municipal para colocar postes de raia na Praça do Suspiro em razão das corridas de cavalo realizadas aos domingos e dias santificados.

Por iniciativa da família do primeiro Barão de Nova Friburgo, os Clemente Pinto, foi fundado em 22 de abril de 1881, o Jockey Club de Nova Friburgo. A família inaugurou quatro anos depois o prado do Jockey Club Cantagalense no palacete do Gavião, no município de Cantagalo, onde possuía diversas fazendas de café. O primeiro presidente do Jockey Club de Nova Friburgo foi Antônio Clemente Pinto, barão, visconde e conde de São Clemente, fazendo parte desse seleto clube Augusto Marques Braga, Pedro Eduardo Salusse, entre outros.

No conselho fiscal participaram Elias Antônio de Moraes, o segundo Barão de Duas Barras e o empresário do ramo hoteleiro, Carlos Engert. Não se pode precisar, mas em dado momento o Jockey Club de Nova Friburgo se extinguiu. Em 30 de abril de 1911 foi fundado o Friburgo Jockey Club igualmente formado pela elite local por iniciativa de Octávio Veiga, Galdino do Valle Filho e do coronel Galiano Emílio das Neves Júnior, os dois últimos inimigos políticos acirrados.

Nessa ocasião, havia em Nova Friburgo dois prados, o Entre Rios, no distrito de Lumiar e o prado de corridas de Conselheiro Paulino. Esse último tinha sua sede social no Hotel Salusse. Nos dias de campeonatos, pela manhã, muitos se dirigiam a Estação da Leopoldina para recepcionar os atletas de outros municípios, a exemplo do Rio de Janeiro. Segundo o jornal A Paz, “as arquibancadas apresentavam o que de mais elegante possui a nossa sociedade”.

Transcorridas algumas décadas, uma das iniciativas mais interessantes foi a de Murilo Cury, que criou o Nova Suíça Country Club, no bairro de São Geraldo. Diferentemente dos outrora clubes atléticos não havia a competição de corridas de cavalo, mas tão somente salto sobre obstáculos. Em todo fim de semana havia um evento e os campeonatos ocorriam pouco mais de uma vez ao ano. Vinham muitos cariocas que se hospedavam no Hotel Sans Souci, no bairro das Braunes. Existia até mesmo um mapa para orientar os que vinham de outras cidades.

Murilo Cury era filho de um general e por isso entre os frequentadores havia muitos militares. Segundo os moradores de São Geraldo que têm até hoje a lembrança desse espaço de sociabilidade, além de cariocas vinham igualmente participantes de Cordeiro, Bom Jardim e até mesmo de fora do Brasil. Os proprietários dos cavalos vinham todos os fins de semana para exercitar os animais.

Carlos Alberto Martins, morador do bairro foi o único friburguense contratado como jóquei já que os demais vinham de outros municípios. Temos imagens dessas competições onde podemos ver cavaleiros e amazonas em suas montarias no Parque Hípico do Nova Suíça Country Club. Havia locais para desembarque de animais, estrebarias, pista com diversos obstáculos e uma sede social onde os apreciadores do turfe almoçavam e passavam todo o dia. Os eventos ocorriam sempre aos sábados e domingos.

Os antigos moradores de São Geraldo se recordam do burburinho dos animados fins de semana. Ainda que sendo restrita a entrada nesse seleto clube, os moradores do bairro podiam assistir esses eventos do alto dos morros e alguns até mesmo de suas casas. Segundo eles era uma alegria enorme ver a movimentação do bairro com tão animados visitantes.

De acordo com as imagens percebemos que o divertimento não era tão somente a atividade esportiva, mas igualmente o desfrute do delicioso clima da serra friburguense. Havia nas instalações do Nova Suíça Country Club a fonte Santa Terezinha com água ferruginosa bicabornatada, que segundo os frequentadores proporcionava vantagens terapêuticas. Esse clube funcionou na década de 60 do século 20 durante aproximadamente seis anos. Porém, foi extinto por uma fatalidade.

Murilo Cury ao se submeter a uma cirurgia plástica no nariz teve complicações na operação e faleceu. Como esse espaço não estava regularizado nos moldes de outros clubes sociais, sendo tão somente propriedade particular de Cury, com o falecimento de seu timoneiro os eventos esportivos e sociais deixaram de realizar-se na hípica. Entrevistei alguns moradores de São Geraldo que vivenciaram a “belle époque” no bairro. Todos eles falam com muita saudade da vida efêmera do Nova Suíça Country Clube. 

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    Um mapa para orientar a chegada na Hípica

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    Fim de semana no Parque Hípico em São Geraldo

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    Hípica Nova Suíça Country Club em São Geraldo

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    Havia uma sede social onde os apreciadores do turfe almoçavam

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Do cauim a aguardente - A vida cotidiana dos índios coroados e puris

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Habitavam a província fluminense nas regiões serrana e noroeste os índios das tribos Coroado e Puri. Vamos conhecer neste artigo algumas práticas culturais e a vida cotidiana dessas tribos sob o olhar de viajantes que tiveram contato com eles no século 19. São eles o mineralogista John Mawe, o botânico francês Auguste de Saint-Hilarie, o pintor francês Jean Baptiste Debret, o paleontólogo, médico, geólogo e zoólogo alemão Hermann Burmeister e o barão suíço Johann Von Tschudi.

Habitavam a província fluminense nas regiões serrana e noroeste os índios das tribos Coroado e Puri. Vamos conhecer neste artigo algumas práticas culturais e a vida cotidiana dessas tribos sob o olhar de viajantes que tiveram contato com eles no século 19. São eles o mineralogista John Mawe, o botânico francês Auguste de Saint-Hilarie, o pintor francês Jean Baptiste Debret, o paleontólogo, médico, geólogo e zoólogo alemão Hermann Burmeister e o barão suíço Johann Von Tschudi.

Na tribo, enquanto os homens se dedicam tão somente à caça e a pesca, as mulheres e filhos executam trabalhos domésticos como cuidar da pequena roça, da alimentação e da fabricação de vasilhas em cerâmica. Parece que herdamos do indígena o churrasco. Quando as mulheres da tribo recebiam a caça a limpavam, sapecavam e a cortavam em pedaços enfiados na ponta de pequenos espetos. Acendiam o fogo e colocavam os espetos por cima de um braseiro.

Em outra ocasião pegaram um boi a laço, cavaram a terra, fizeram um buraco enchendo-o de galhos e em seguida acenderam o fogo. Quando a madeira se transformava em carvão colocavam sobre o braseiro ardente o pedaço de carne envolvido na pele. Adicionavam mais galhos sobre a carne e ateavam fogo novamente. A carne cozida entre duas brasas conservava todo o sabor de seu suco. Notem que não faziam uso do sal e da pimenta. Existia uma operação que competia exclusivamente às mulheres. Tratava-se da mastigação de substâncias vegetais necessárias à composição das bebidas espirituosas, o cauim, licor com o qual se embebedavam nos seus divertimentos.

As mulheres reunidas dedicavam várias horas consecutivas à mastigação dos grãos de milho. Depois de triturados eram cuspidos dentro de um vasilhame. Esta pasta fermentava na água quente durante 12 a 16 horas. Após essa primeira fase de preparação era despejada em um grande recipiente para novamente fermentar, sendo misturada a uma maior quantidade de água igualmente quente. Durante essas duas operações agitava-se esse líquido com uma vareta. Esse licor espirituoso manipulado sem cessar sobre o fogo devia ser consumido ainda quente. A batata-doce e a mandioca podiam produzir o mesmo resultado. Porém, as mulheres preferiam o grão de milho por ser mais agradável para mastigação. Frutos como a ananás, o caju, entre outros, produziam pela maceração licores extremamente capitosos que os indígenas bebiam com paixão.

Todos os viajantes mencionavam o problema do alcoolismo entre os indígenas produzido pela aguardente, que tem teor alcoólico muito maior do que o cauim.  Os moços não bebiam, os de mais idade faziam-no com moderação e os mais velhos em excesso. Cada um comprava um copo de aguardente e fazia-o rodar de boca em boca até esvaziá-lo. Depois era a vez do outro.

Para se obter o favor de um índio ou mesmo remunerá-lo por um serviço prestado bastava presenteá-lo com algumas garrafas de aguardente. Normalmente quando se presenteava apenas um deles originava-se uma briga geral e o homem ou a mulher que pegava primeiro a garrafa bebia todo o seu conteúdo para não compartilhar com os demais. Dando-se preferência a um deles, os outros do grupo se tornavam insolentes e desenfreados até que obtivessem o mesmo favor. Quando embriagados ficavam agressivos “tornando-se repugnantes e animalescos”, sendo necessário prendê-los.

Os homens e as mulheres lançavam gritos agudos e os espectadores riam como se assistissem a um espetáculo engraçado. Os “negros” gostavam de incitar os índios a beberem ainda mais para divertirem-se com as cenas “de brutalidade animalesca”. Em seu estado inconsciente jaziam embriagados e sem sentido no chão. Ninguém se incomodava com essas cenas. Esse comportamento dos índios dava grande satisfação aos “pretos”, pois se sentiam superiores, assim como os brancos se acham superiores em relação à eles, observou Burmeister.

Para satisfazerem a paixão que tinham pela aguardente trabalhavam nas habitações portuguesas; porém, mal possuíam com que embebedar-se, entregavam-se a indolência. Cenas de decadência dos indígenas como essas descritas pelos viajantes, não contextualizam que a degradação desses povos tinham origem na usurpação de suas terras coletivas por posseiros fazendo uso da violência e pela política de miscigenação incentivada pelo governo.

No próximo mês, vamos conhecer os traços físicos dos índios coroados e puris, sobre suas choças, a moral e o matrimônio nessas tribos. 

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    Homens brancos chegam a tribo dos Puri, presenteando-os com aguardente

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    Litografia dos índios Coroados

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    Preparação do Cauim pelos Coroados

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Nova Friburgo: terra de índios brabos

quinta-feira, 14 de maio de 2020

O município de Nova Friburgo faz aniversário no próximo sábado, 16. Este ano farei diferente. Ao invés de escrever sobre a história de sua fundação vou apresentar aqui os índios que habitavam a região no qual Nova Friburgo fazia parte. A carta geográfica elaborada em 1767, descrevia as regiões Serrana e Noroeste fluminenses como sertão ocupado por índios brabos.

O município de Nova Friburgo faz aniversário no próximo sábado, 16. Este ano farei diferente. Ao invés de escrever sobre a história de sua fundação vou apresentar aqui os índios que habitavam a região no qual Nova Friburgo fazia parte. A carta geográfica elaborada em 1767, descrevia as regiões Serrana e Noroeste fluminenses como sertão ocupado por índios brabos.

A palavra sertão significa que estavam distante da costa marítima e os índios brabos eram considerados pelo governo como não “civilizados”. Tratava-se das tribos Coroado e Puri. Iniciou-se nesses sertões a exploração do ouro de aluvião. Esgotado esse minério, os beneficiários de terras doados pelo governo, denominados de sesmeiros passaram a derrubar a mata e explorar a madeira contratando para tanto os índios. Cultivavam na clareira roças de milho, feijão, fumo, tubérculos, frutas, criaram animais e instalaram engenhocas de produção de açúcar.

Décadas depois viria a cultura do café. Havia ainda posseiros que recorriam à ocupação clandestina infiltrando-se sorrateiramente nas terras indígenas, fazendo plantações e legitimando a seguir as terras usurpadas. Os sesmeiros e posseiros eram originários da Capitania de Minas Gerais e colonos portugueses provenientes dos Açores e da Ilha da Madeira. Outro grupo que igualmente partiu em busca de terras nesses sertões foram famílias de colonos suíços que abandonaram a Vila de Nova Friburgo buscando terras mais férteis.

Tudo isso contribuiu para a perda cada vez maior das terras legitimamente ocupadas pelos índios das tribos Coroado e Puri. Para dar tranquilidade aos novos povoadores desses sertões foram instalados aldeamentos pelos frades capuchinhos italianos. O primeiro deles no final do século 18, onde hoje é o município de São Fidélis e o outro aldeamento no atual município de Itaocara. Ambos eram habitados pelos coroados e puris. No entanto, essas aldeias já se encontravam bem miscigenadas em meados do século 19.

Diferentemente dos jesuítas que excluíam qualquer homem branco junto aos indígenas, os capuchinhos admitiam a miscigenação nos aldeamentos. No ano de 1820, boa parte do território de Cantagalo é desmembrado para dar origem ao município de Nova Friburgo, criado especialmente para abrigar colonos suíços. O juiz Cansanção de Sinimbu determinou a reserva para o patrimônio da vila de Nova Friburgo um quarto de légua da fazenda do Córrego d’Anta. Segundo ele, como habitavam índios no território dessa propriedade, pelo Aviso de 3 de dezembro de 1819, foram removidos e aldeados em outro lugar a fim de se tornaram “civilizados” e não incomodarem os colonos suíços que eram esperados.

O pesquisador Carlos Jayme Jaccoud confirmou que em Córrego d’Antas foi encontrado um machado de pedra polida na propriedade de sua família. Ao realizar um documentário no terceiro distrito onde se situa a localidade de Córrego d’Antas, para minha grata surpresa encontrei em um acervo particular peças polidas de artefatos indígenas localizadas na própria região.

Na Fundação D. João VI há uma correspondência oficial de 23 de novembro de 1824, fazendo referência de que índios foram empregados para abrir picadas nos terrenos doados aos colonos suíços. Trata-se de um curioso relato envolvendo o colono suíço Joseph Hecht nos informa sobre a presença de índios na região. “Nós, os colonos suíços vimos muitos índios (...) totalmente selvagens que logo empreendiam fuga, inteiramente nus; os meio mansos ficaram parados timidamente à nossa vista e se escondiam atrás das árvores enquanto as mulheres cobertas com uma tanga sentavam-se rapidamente no chão como para esconder a sua vergonha (órgão genital).”

Hecht sugere que os indígenas faziam pequenos furtos nas fazendas e relata que matavam “os negros do fazendeiro” imaginando que tais homens, “negros como carvão”, não fossem humanos. Os escravos fugiam dos índios desesperadamente. Qual é o lugar dos índios na história do Brasil? Normalmente invisíveis enquanto sujeitos históricos. No entanto, nas últimas décadas muitos historiadores têm demonstrado o protagonismo dos indígenas na história do país principalmente na questão envolvendo conflitos de terra e resistência em relação à política assimilacionista dos governos colonial e imperial.

Nos dois últimos séculos, os índios vão passando da invisibilidade construída para o protagonismo conquistado em movimentos políticos e intelectuais nos quais eles próprios têm participação. A cada mês até o fim desse ano, me comprometo a escrever um artigo sobre os coroados e os puris para que possamos conhecer as práticas culturais e vida material dos “índios brabos” que habitavam os sertões da região serrana fluminense. 

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    Encontrei em um acervo particular, peças polidas de artefatos indígenas em Nova-Friburgo

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    Litografia dos índios Coroados

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    Litografia dos índios Puri

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As vilas operárias de Nova Friburgo

quinta-feira, 07 de maio de 2020

Cidade operária, cidade corporativa ou vila operária são localidades onde as habitações são de propriedade de uma empresa que fornece residências aos seus trabalhadores para permitir que morem em um ambiente salubre e próximo ao local de trabalho. Foi um conceito que surgiu na década de 1980 do século 19, entre as grandes indústrias.

Cidade operária, cidade corporativa ou vila operária são localidades onde as habitações são de propriedade de uma empresa que fornece residências aos seus trabalhadores para permitir que morem em um ambiente salubre e próximo ao local de trabalho. Foi um conceito que surgiu na década de 1980 do século 19, entre as grandes indústrias.

Um dos primeiros exemplos de vila operária foi nos Estados Unidos empreendida pela empresa Pullman, fabricante de vagões de trem, nos subúrbios de Chicago. A cidade era inteiramente de propriedade da Pullman Company, que disponibilizava habitações, mercados, biblioteca, escolas, igreja e entretenimento para os seus funcionários e dependentes. Outro exemplo de cidade operária é a multinacional francesa fabricante de pneus Michelin. Ela instalou no ano de 1889, em Clermont-Ferrand o seu parque industrial. Além de moradia para acomodar os seus funcionários oferecia escola, creche e um parque esportivo.

Já no Brasil, a primeira vila operária foi do empresário Luís Tarquínio, fundador da Companhia Empório Industrial do Norte, na década de 1890, na cidade de Salvador-BA. A Revolução Industrial implicou em um surto de migração para as grandes metrópoles industriais, acarretando o êxodo rural. Havia a necessidade de que essas populações operárias, geralmente provenientes de outras regiões fossem acomodadas próximas ao local de trabalho, na ausência de meios de transporte.

As miseráveis condições de vida dos trabalhadores passam a preocupar governos e industriais, que associavam a ideia de produtividade à sua condição de vida. A construção de residências salubres para os operários era uma forma de garantir o seu bem-estar. Para alguns historiadores, as fábricas com vila operária estabeleciam relações de dominação para manter o funcionário disciplinado, como por exemplo, longe do vício da bebida alcoólica.

As vilas operárias representavam, à época, uma solução para o problema habitacional da classe proletária e, ao mesmo tempo, uma forma de imobilização dos trabalhadores. Antes da chegada dos industriais alemães no início do século 20, Nova Friburgo era tão somente uma cidade de veraneio. O município terá um crescimento urbano bem acelerado em função da instalação de indústrias têxteis por empresários alemães, a partir do segundo decênio do século 20.

Em razão disso, ocorreu uma imigração massiva dos habitantes de municípios vizinhos em busca de novos empregos nessas fábricas. O distrito agrícola de Amparo ficou esvaziado e os filhos dos produtores rurais trocaram a lavoura pelo emprego na fábrica. Peter Julius Ferdinand Arp foi o primeiro a instalar no ano de 1911, a Fábrica de Rendas Arp, estimulando e sendo sócio de outras indústrias têxteis que viriam se estabelecer em Nova Friburgo.

Um ano depois, Maximilianus Falck iniciou as atividades da Fábrica Ypu em um galpão em seu sítio às margens do Rio Santo Antônio. A Fábrica de Filó foi a terceira a se instalar, no ano de 1925, por Carl Ernst Otto Siems juntamente com o seu pai. As indústrias Rendas Arp, Ypu e Filó construíram vilas operárias para abrigar os funcionários da empresa.

A vila operária da Fábrica de Rendas Arp, a Vila Arp é a única que foi totalmente extinta. No local onde foi a Vila Arp encontra-se atualmente o condomínio Vila das Flores bem como o estacionamento do supermercado Bramil. Localizei à margem da Via Expressa uma residência que preserva praticamente todo o estilo de uma antiga casa da Vila Arp. No entanto, as residências próximas e que compunham a mesma vila foram modificadas em sua estrutura e fachada.

Verificando as casas da vila operária da Fábrica Ypu constatei que estão em excelente estado de conservação e possivelmente ocupada por antigos funcionários. Entre as três indústrias, a Fábrica de Filó é a única que ainda funciona e pertence atualmente ao grupo Rosset. A vila operária dessa indústria foi a que mais se expandiu pelas proximidades da empresa, com um “correr de casas” geminadas ou não de variadas formas de construção e estilo.

Algumas dessas residências vêm sendo demolidas, apesar de o Ministério Público garantir que uma quantidade delas serão mantidas para assegurar a memória da Vila Operária. Uma particularidade interessante. No passado, os proprietários e executivos das indústrias residiam bem próximos à elas ou até mesmo dentro das instalações da fábrica. Julius Arp residia em frente a sua empresa, a Rendas Arp.

O grande executivo alemão Emil Cleff, que salvou a Fábrica Ypu da falência na primeira década de sua implantação residia dentro de suas instalações. Otto Siems e alguns de seus executivos moravam igualmente dentro da área da Fábrica de Filó.

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    A vila operária da Fábrica de Filó foi a que mais se expandiu pelas proximidades da empresa

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    Década de 1950. Residências da extinta Vila Arp, em Olaria (Acervo: Wander Fernandes)

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    Emil Cleff executivo da Fábrica Ypu residia dentro de suas instalações

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Terra ingrata, terra farta

quinta-feira, 30 de abril de 2020

O projeto de assentamento de colonos suíços em Nova Friburgo, no início do século 19 foi reconhecidamente uma experiência desastrosa. As duas sesmarias que constituíam o distrito colonial eram de um modo geral terras incultas, com morros pedregosos e separados uns dos outros por estreitos vales que serviam de leito a numerosos regatos. Em algumas datas de terra nem para horta o solo era cultivável. Os morros estavam sujeitos a geadas, de meia altura até o topo, absolutamente incapazes de produzir em razão da exposição aos ventos.

O projeto de assentamento de colonos suíços em Nova Friburgo, no início do século 19 foi reconhecidamente uma experiência desastrosa. As duas sesmarias que constituíam o distrito colonial eram de um modo geral terras incultas, com morros pedregosos e separados uns dos outros por estreitos vales que serviam de leito a numerosos regatos. Em algumas datas de terra nem para horta o solo era cultivável. Os morros estavam sujeitos a geadas, de meia altura até o topo, absolutamente incapazes de produzir em razão da exposição aos ventos.

Não habituados a lidar com a mata primária, ignoravam o ciclo do plantio das culturas nacionais, bem como as estações apropriadas para as sementeiras. Alguns colonos foram obrigados a trabalhar na terra ingrata lançando no solo estéril as parcas sementes que receberam do governo joanino. Nos lugares que vingaram mal dava a colheita para a alimentação das famílias artificiais que dividiam a gleba, sem produzir excedentes para o mercado.

Poucos foram os que à custa de muito trabalho e perseverança conseguiram tornar suas glebas produtivas. No entanto, nos “números”, como era conhecido o distrito colonial, com o passar dos anos alguns colonos conseguiram lograr êxito na cultura do milho que acabou se tornando a maior sua fonte de renda e principal produto da colônia. Mas faltava-lhes um mercado próximo, condição essencial para que possa prosperar uma colônia agrícola e que o governo joanino se descuidou. Onde vender, então, o milho e demais produtos da lavoura?

Os colonos suíços foram direcionados para a cultura de gêneros alimentícios, mas o custo do transporte em lombos de mulas do milho, da batata e do toucinho ao mercado de Sant’Anna e Porto das Caixas era muito oneroso. Alguns colonos abandonaram suas glebas não somente em razão da má qualidade das terras, mas também pelo estado deplorável em que se achavam os caminhos e as pontes no distrito colonial, impossibilitando-os de chegar ao mercado.

Em uma petição junto à Câmara Municipal pleiteiam o restabelecimento das estradas nas terras coloniais por serem intransitáveis, impedindo o transporte daqueles gêneros até a vila de Nova Friburgo. Nesse requerimento argumentam que se viam forçados a abandonarem suas terras. É notório que um dos maiores estímulos para a emigração estrangeira é a perspectiva de um progresso na vida material para deixar uma herança à sua descendência.

Considero o aviso de 29 de agosto de 1821, uma das iniciativas mais importantes de D. Pedro I para vigorar o projeto de colonização iniciado por D. João VI. Foi ordenado nesse aviso que nenhum colono seria constrangido a permanecer no distrito colonial contra a sua vontade. Por isso, muitos abandonaram suas glebas. Mais do que a possibilidade de deixar o distrito colonial foi o sinal verde para que os colonos ocupassem as terras devolutas o mais próximo da colônia, cuja extensão estaria limitada à capacidade de exploração das terras.

O que eram terras devolutas? Eram terras do governo concedidas anteriormente a beneficiários que as abandonam e retornavam à propriedade da Coroa. Após um ano e um dia comprovando a ocupação e exploração com roças das terras abandonadas e não havendo oposição de terceiros, a Câmara Municipal outorgava-lhes a posse legítima.

Quanto ao item no respectivo aviso da necessidade de “forças” de trabalho, como havia famílias suíças com vasta prole masculina e consequentemente muitos braços para a lavoura foi fácil atender a esse requisito. A possibilidade dos colonos terem escravos ainda era remota naquele momento e esse era normalmente um requisito para aquisição da posse legítima. Os suíços posteriormente fariam uso dessa força de trabalho.

O juiz Cansanção de Sinimbu nos informa que em um arrolamento no ano de 1839, a população de 701 colonos suíços possuía mais 152 escravos. O aviso igualmente determinava que a ocupação das terras devolutas deveria ser “no chão mais vizinho que for possível ao distrito da colônia”. No entanto, essa disposição não foi respeitada e os colonos foram em busca de terras em regiões muito distantes.

Não faltam exemplos como os Monnerat, Leimgruber e Lutterbach que abandonando as terras ingratas tresmalharam sertões adentro em busca das terras fartas transpondo os limites que lhes eram impostos. Consequentemente, na primeira geração já eram senhores de terras e de escravos. 

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    D.Pedro I vigorou o projeto de colonização em Nova Friburgo

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    Os colonos suíços abandonam as terras ingratas em busca de terras fartas

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    Os Monnerat foram em busca de terras fartas

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Linhas de Tiro e Tiro de Guerra

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Qual é a relação entre uma e outra? Conhecemos muito pouco sobre as Linhas de Tiro em todo o país, mas sabe-se que elas deram origem aos Tiros de Guerra do Exército. As Linhas de Tiro surgem em Nova Friburgo em 15 de agosto de 1909. Naquele momento da história do Brasil, o Exército se destacava em relação a Marinha em nível de organização, moral e disciplina.

Qual é a relação entre uma e outra? Conhecemos muito pouco sobre as Linhas de Tiro em todo o país, mas sabe-se que elas deram origem aos Tiros de Guerra do Exército. As Linhas de Tiro surgem em Nova Friburgo em 15 de agosto de 1909. Naquele momento da história do Brasil, o Exército se destacava em relação a Marinha em nível de organização, moral e disciplina.

Nova Friburgo é um exemplo clássico do comportamento desvairado e depravado da marujada que vinha se convalescer da tuberculose, os denominados HT, ou seja, oriundos do Hospital de Tuberculose. As Linhas de Tiro se assemelham em muitos aspectos e características com a Guarda Nacional. Criada em 1831, a Guarda Nacional era uma força paramilitar idealizada no período regencial, formada pela elite local para ser empregada em caso de revoltas e insurreições. Mas qual era a finalidade das Linhas de Tiro? 

Fui encontrar um indício de sua filosofia em um artigo publicado no extinto “O Jornal”, de 20 de abril de 1928 e transcrito no livro “Amparo Redivivo”, de Heber Alves da Costa. Segundo a reportagem, as sociedades de tiro eram núcleos onde os rapazes poderiam se exercitar no manejo das armas e se preparar para formar a reserva do Exército. Surgiu durante o governo do Marechal Hermes da Fonseca. Era uma demonstração de civismo e entusiasmo para servir a pátria em momentos de tensão social. Era formada por candidatos a reservistas que se exercitavam em um centro de preparação militar.

Percebe-se que a extensão territorial do Brasil, onde era impossível haver unidades do Exército foi uma das justificativas para a sua criação nas cidades do interior. O distrito agrícola de Amparo possuía a Sociedade de Tiro e sua diretoria obteve da Inspetoria Regional de Tiros de Guerra a designação de instrutor militar. No entanto, por determinação do governo a unidade encerrou suas atividades em 1918, em todo o país.

As Linhas de Tiro parecem ter deixado um vazio que acabou redundando na criação dos Tiros de Guerra. Carlos Cortes, professor e proprietário do Colégio Modelo foi quem trouxe o Tiro de Guerra para Nova Friburgo, inaugurado em 13 de dezembro de 1927. Utilizava as instalações de seu estabelecimento de ensino, que na ocasião funcionava no antigo Hotel Leuenroth.

O Tiro de Guerra é uma instituição militar do Exército encarregada de formar atiradores e reservistas, conciliando treinamento, trabalho e estudo. Tudo indica que Cortes já imaginava a conveniência do Tiro de Guerra no caso de uma revolução e que acabou ocorrendo, conhecida na história como a Revolução de 1930. Ele se apropriara das armas daquela instituição militar. Já o governista Galdino do Valle Filho organizou a Legião Galdino do Valle, composta por voluntários dispostos a defender o governo de Washington Luís contra a ameaça revolucionária.

É possível que muitos membros da Sociedade de Tiro de Amparo tenham integrado essa legião, pois aquele distrito era reduto de Galdino do Valle Filho. O Tiro de Guerra ganha uma sede graças a subscrição empreendida pelo tenente Renato Arnaldo da Silveira Lopes e o jornalista Acácio Borges. Conseguiu a doação de um terreno bem como dinheiro para a edificação da sede, inaugurada em 3 de outubro de 1942.

Fiquei surpresa ao ter conhecimento da Associação dos Veteranos e Amigos do Tiro de Guerra 01-010, cuja sigla é AVA. Soube de sua existência quando realizavam uma campanha de coleta de alimentos para as famílias carentes, em razão da crise financeira provocada pela pandemia. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos, composta por ex-atiradores militares e civis.

A associação foi oficializada em 2019 pelo sargento Braulio Batista Gomes e os capitães José Geraldo Chrigatti e Geraldo Valim Pelúzio. Porém, já vinha sendo arquitetada desde o ano de 2001, com estudos e discussões sobre o seu estatuto. O seu principal objetivo é realizar a interação entre a sociedade civil e o Exército Brasileiro, através do Tiro de Guerra.

Pelo que compreendi participam de ações comunitárias sempre que são acionados pelo Exército. Uma das maiores aspirações da Associação dos Veteranos e Amigos do Tiro de Guerra é a sua sede própria. Um local para as reuniões é fundamental para que os associados possam montar estratégias e organizar suas atuações sempre que necessárias no município de Nova Friburgo.

A AVA tem página no Facebook e vende camisas da associação, por um preço módico, para auxiliar nas suas despesas. Mais informações com Flávio Sanches pelo telefone ou zap (21)985630394.    

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    Turma do Tiro de Guerra, ano de 1948

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    O objetivo da AVA é a interação entre a sociedade civil e o Exército

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    Símbolo da Associação dos Veteranos e Amigos do Tiro de Guerra

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Histórias de epidemias em Nova Friburgo

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Desde meados do século 19, as epidemias de varíola e notadamente de febre amarela assolavam municípios que tinham relações comerciais com Nova Friburgo. Uma epidemia de febre amarela em Cantagalo no ano de 1891 assustou a população friburguense principalmente em razão da linha férrea que ligava ambas as cidades. Naquela ocasião, quando havia notificação de doença infectocontagiosa montava-se uma operação de guerra mobilizando todas as instituições públicas.

Desde meados do século 19, as epidemias de varíola e notadamente de febre amarela assolavam municípios que tinham relações comerciais com Nova Friburgo. Uma epidemia de febre amarela em Cantagalo no ano de 1891 assustou a população friburguense principalmente em razão da linha férrea que ligava ambas as cidades. Naquela ocasião, quando havia notificação de doença infectocontagiosa montava-se uma operação de guerra mobilizando todas as instituições públicas.

O delegado da Junta de Higiene, os fiscais, os praças do destacamento policial e o delegado de polícia eram os responsáveis pelo cumprimento das medidas sanitárias. Quando um empregado da Companhia Leopoldina vindo de Porto Novo do Cunha foi acometido de varíola promoveu-se uma verdadeira mobilização na cidade envolvendo a própria companhia de trem.

O doente foi removido juntamente com toda a sua família para um rancho de trabalhadores da Leopoldina no alto da serra, distante seis quilômetros do centro da cidade. Fez-se a seguir a desinfecção da casa do varioloso e de todas as residências da vizinhança. Um cordão sanitário foi feito para evitar a comunicação com esse rancho, além de um cordão de isolamento com praças acampados. Além disso, foi construído um lazareto para isolamento dos doentes. Esse prédio cuja obra foi concluída no ano de 1894, existe até hoje no bairro das Duas Pedras.

Consultei um especialista em gerenciamento de crise para saber como se deveria proceder nos dias de hoje em caso de epidemia. Indaguei-o sobre as medidas que deveriam ser tomadas especificamente em razão da pandemia do vírus Covid-19, considerando os recursos disponíveis. Segundo ele, o primeiro passo, já que não criamos barreiras impedindo a entrada na cidade, seria localizar a fonte da contaminação. O segundo seriam as barreiras sanitárias. Em todas as entradas da cidade identificar a procedência de onde estão chegando os indivíduos e seus contatos com as áreas infectadas.

Outra providência a ser tomada seria estabelecer um local isolado adequado para receber pacientes com suspeita de contaminação, com estruturas laboratoriais adequadas ou encaminhamento a laboratórios de identificação rápida. Outra medida seria reunir os órgãos públicos fornecendo-lhes materiais adequados de proteção individual e também congregar profissionais especialistas para delinear ações destinadas aos focos de combate, segurança, logística e ações sociais de apoio aos munícipes desprovidos das condições básicas. Finalmente, a desinfecção de serviços de abastecimento de água, transporte e áreas de grande circulação.

Pelo que descreveu esse especialista, nossas práticas não diferem muito de nossos antepassados. Não há registro de epidemias de febre amarela e varíola em Nova Friburgo. Parece-nos que o lazareto construído para isolamento foi utilizado somente na década de 1930, do século seguinte. No ano 1918, a pandemia de gripe espanhola teve impacto em Nova Friburgo durante alguns meses, ocorrendo muitas mortes.

No entanto, de acordo com o historiador Adilson Donato Batista em História da Igreja de São Roque, a epidemia de tifo fez muito mais vítimas do que a gripe espanhola. Na década de 1930, a febre de tifo se espalhou em Nova Friburgo e o bairro de Olaria foi o mais atingido em todo o município. Nessa ocasião, foi feito uso das instalações do lazareto. Um caminhão com toldo verde e colchonetes passava recolhendo doentes para isolamento no lazareto. A visita era proibida e raramente os adoentados se recuperavam. Muitos nem tiveram conhecimento onde os seus familiares foram enterrados, mas tudo indica que havia um cemitério nos fundos daquele prédio.

De acordo com Donato Batista serviam uma sopa tão rala e aguada no lazareto que os doentes fugiam frequentemente para comer banana e goiaba nos arredores, ainda que sob a ameaça dos cães de guarda. Os doentes ficavam sob a vigilância de guardas à paisana que evitavam as fugas e aproximações de curiosos ou de parentes dos enfermados. O lazareto parece ter sido mais um depósito de doentes desenganados do que efetivamente de tratamento já que trabalhavam lá apenas voluntários, não sendo vistos médicos no local.

Não bastassem as epidemias circulou livremente pela cidade a marujada do Sanatório Naval acometidos pela tuberculose, que provocava temor de contágio na população friburguense. Proliferavam pensões no centro da cidade para receber os tuberculosos que buscavam na salubridade do clima das montanhas a convalescença dessa doença. A pandemia provocada pelo Covid-19 será mais um acontecimento funesto para entrar na história de Nova Friburgo.  

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    A epidemia de tifo atingiu muito mais o bairro de Olaria

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    Moradores do bairro de Olaria

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    O prédio do lazareto foi construído no ano de 1894 (Foto: Henrique Pinheiro)

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A imigração japonesa em Nova Friburgo

quinta-feira, 09 de abril de 2020

Conforme o historiador Marcionilo Carlos Neto em sua obra “A Imigração Japonesa no Estado do Rio de Janeiro”, os japoneses se dirigiram para o estado fluminense na década de 1930, do século 20, vindos do Estado de São Paulo. Na região serrana, os imigrantes nipônicos se estabeleceram em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Cordeiro e Cantagalo. Um pouco antes dessa imigração, na década de 1920, chegou à Nova Friburgo o primeiro imigrante japonês Tohoru Kassuga em busca de terras em clima temperado.

Conforme o historiador Marcionilo Carlos Neto em sua obra “A Imigração Japonesa no Estado do Rio de Janeiro”, os japoneses se dirigiram para o estado fluminense na década de 1930, do século 20, vindos do Estado de São Paulo. Na região serrana, os imigrantes nipônicos se estabeleceram em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Cordeiro e Cantagalo. Um pouco antes dessa imigração, na década de 1920, chegou à Nova Friburgo o primeiro imigrante japonês Tohoru Kassuga em busca de terras em clima temperado.

Na chácara do Tingly, Kassuga iniciou a plantação de árvores frutíferas de caqui. Originário da China, essa fruta se tornou muito popular no Japão. Trazido pelos imigrantes japoneses, o caqui se adaptou muito bem nas regiões mais frias do Brasil. No entanto, eclodiu a Segunda Guerra Mundial e o sentimento antinipônico se manifestou. O Brasil e o Japão romperam relações diplomáticas prejudicando a situação dos imigrantes japoneses.

As sanções aplicadas pelo governo brasileiro, a exemplo de confiscar os bens das famílias nipônicas acarretaram o deslocamento interno de japoneses pelo país. No Rio de Janeiro, os jornais incitavam a animosidade contra os japoneses. Embora o clima pós-guerra não fosse tranquilo houve o reinício da imigração japonesa a partir da década de 1950. São famílias que imigraram para Nova Friburgo bem como seus descendentes, Tohoru Kassuga, Hiroshi Higuchi, Hideo Kato, Tunney Kassuga, Kenji Abe, Yoshiyuki Ban, Yasutaka Deguchi, Sadao Fuchigami, Nagamitsu Fujimaki, Hajime Fukuoka, Takuma Hashimoto, Hajime Inoue, Koh Inoue, Nelson Yukio Inoue, Itsuji Itoh, Paulo Kawakami, Kiyoshi Kawamura, Heiji Kikuchi, Masayoshi Matsumoto, Jun-Ichi Matsura, Toshiharu Matsuoka, Takeo Miura,  Hisayoshi Miyamoto, Makoto Miyatake, Sohei Nagai, Masayoshi Nagao, Namizo Nakahara, Hisayoshi Nobata, Kaoru Odawara, Kogorô Ohta, Akira Ôki, Shigeru Ôki, Toshiharu Ôki, Tamotsu Shiratô, Tadashi Takisawa, kin-Ichi Tanizaki, Geizô Yoshimura, Rinji Haga, Jotaro Kashaio, Hideichi Hayanishi, Masao Murakami, Matsuo Murakami, Kazuhiko Zama, Nobukazu Abe, Osamu Abe, Shigemasa Amano, Koichi Furuya, Shokichi Horie, Cecil Ito, Sueo Ito, Yoshihiko, Asayo Kitami, Kinji Kunigami, Mototeru Kokuga Kunigami, Matao Shimizu Mitsunaga,  Hisakichi Nakashima, Konosuke Noguchi, Hiroshi Okazaki, Eitaro Watanabe, Jun Watanabe, Rikei Yamaguchi, Takanosuke Yamaguchi e Kinzo Suzuki.

Em Nova Friburgo entrevistei Hiroshi Higuchi plantador de caqui em sua propriedade no Córrego Dantas. Higuchi chegou ao Brasil em 15 de agosto de 1963 e inicialmente foi para o município de Dourados, no Estado do Paraná. No entanto, optou por residir em Nova Friburgo já que tinha conhecimento de que havia uma colônia de conterrâneos no município. Começou a trabalhar como meeiro em uma plantação de rosas em Conselheiro Paulino.

Higuchi nos informou que o governo japonês incentivava a emigração para o Brasil, subsidiando a aquisição de terras e dando todo o suporte material para que deixassem o país. Segundo ele, o Japão passava por uma crise financeira e com excesso de população. Durante um ano recebeu uma pensão do governo para a sua manutenção.

O governo japonês igualmente financiou uma parte do valor do sítio que adquiriu. Mesmo com todos esses incentivos, alguns japoneses que imigraram com ele retornaram ao Japão. Casou-se com a compatriota Satimi Minato que veio para o Brasil em agosto de 1961. Hiroshi Higuchi cultiva atualmente diversos tipos de caqui como o mikado, ramaroute, guiombo, fuiou e costata. Ele, inclusive, admite que trouxe mudas de caqui do Japão clandestinamente e iniciou uma experiência inédita produzindo caquis desidratados. Os japoneses têm a tradição desidratar o caqui, que denominam de hoshigaki, para que a fruta possa ser consumida durante o ano inteiro. No Japão é um verdadeiro mimo ganhar uma caixa desses caquis desidratados porque são muito caros.

No Campo do Coelho, terceiro distrito de Nova Friburgo, a lavoura de tomate e de outros legumes era rasteira, com muita perda em razão do contato com o solo que deixa os produtos mais vulneráveis às pragas. Os japoneses nessa região ensinaram os agricultores brasileiros a usarem estacas verticalizando a planta e com isso ganharam em produtividade. Igualmente instruíram na preparação de estufas revolucionando o modo de plantio entre os agricultores.

Os japoneses e seus descendentes mantêm suas tradições através de eventos que realizam em sua sede, no distrito do Campo do Coelho. Igualmente faz parte do calendário de Nova Friburgo a festa das cerejeiras promovida pela comunidade nipônica.

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    Hiroshi Higuchi cultiva caquis no Córrego Dantas

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    Os japoneses têm a tradição desidratar o caqui, que denominam de hoshigaki

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    Satimi Minato Higuchi prepara o caqui para ser desidratado

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