Há momentos na vida em que temos a sensação que a órbita dos planetas desalinha. Dormimos de um jeito e acordamos em outra realidade, como se fôssemos abduzidos para uma realidade paralela com mais desafios do que podemos supor. Acontece. Nessas horas, é impressionante como faz diferença a rede de apoio que de alguma maneira se forma na “hora H”.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Em algum momento da vida a gente se depara com aquele sonho de criança de encontrar o gênio da lâmpada mágica com a possibilidade de fazer três pedidos. Lembro-me de ouvir desejos como “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “vídeo game novo”; “ não precisar tomar banho”; “morar perto dos amigos”; “que papai noel existisse” e etc.
Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.
Melhor viver sem trapaça. Observando com o olhar de pessoa leiga os eventos da natureza, consigo, ainda que mais ou menos, perceber uma lógica, o sentido da lei de causa e efeito. Embora sinta dó, assimilo que o predador e a presa tenham entre eles uma questão de sobrevivência, de subsistência para resolverem. O consolo para além da questão do ciclo natural da vida é a certeza de que os animais agem por instinto e não por intenção de fazer um mal. O quebra-cabeça se encaixa.
“A vida é um sopro”. Como essa frase faz sentido. Quando o “combo” reflexivo que envolve as dores das perdas, do medo do que poderia ter sido e não foi, da consciência de que a vida passa, de fato, muito rápido, que o tempo realmente não volta e que todos aqueles conselhos de avós que ouvimos quando crianças nada mais são do que a expressão da vida real com a qual invariavelmente nos deparamos, muitas vezes pensamos: precisamos ser felizes. Hoje.
Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios
Dia desses o cansaço brotava pelos poros. Semblante taciturno, aspecto de melancolia, postura encurvada. Todo mundo vive esse dia. E os conselhos surgiam na mesma velocidade que o sono: “você precisa comer”, “precisa dormir”, “precisa relaxar”, “precisa viajar”, “precisa se cobrar menos”, “ser menos ansiosa”, “gastar menos tempo no celular”, “se preocupar menos com os outros”, “dar o melhor de si dentro das suas possibilidades”, “entender que há limites”. Etc, etc, etc.
Em meio a um compromisso, uma reunião, pautas complexas, conversas à todo vapor e eis que um abismo se abre na mente que parece vazia de tudo e cheia de nada. Acontece. Um encontro muito esperado, tantos sentimentos por dizer, muita coisa a partilhar e eis que as palavras somem e os pensamentos embaralham, como resultado, um nada a dizer. Acontece. Uma aula a ser dada, pontos relevantes a ser enfatizados, tudo preparado. E eis que na hora, não se lembra de nada. Dá "um branco". Um lapso. Acontece. Faz parte da vida.
Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores. Do último mês pra cá, quantas coisas aconteceram? Provavelmente, muitas. Quantos reencontros? Quantas despedidas? Quantos abraços? Como foi sentir esperança? Brindar com alguém querido? Fazer planos? Viajou? Fez algum prato especial para incrementar o cardápio? Saboreou alguma iguaria de dar água na boca? Contraiu Influenza? Se afligiu? Está preocupado por alguém? E a rinite, voltou? Como foram os dias de calor fora de época? Sentiu medo? Se emocionou?
Outro dia escrevi aqui o tanto que sentir saudade dói. Não há uma dor física que possa ser comparada. É algo que vem lá de dentro, das profundezas da alma, do fundo do coração. Saudade tem suas nuances. Pode nos mover em várias direções. Tem poder de ser mola propulsora para diversas ações. Saudade nos leva ao choro no travesseiro, no banho, na rua, em todo lugar. Conduz a lágrima de canto de olho que insiste em cair quando toca aquela música, quando olhamos aquela paisagem, quando fitamos uma foto. Muitas vezes, é o que nos derruba. É o sufoco sem conforto. A dor sem remédio.