Nossa querida cidade, Nova Friburgo, celebrou na última quinta-feira, 16, mais um ano de vida. No último fim de semana, o cantor friburguense Benito di Paula esteve aqui para participar dos festejos. E paralelamente a isso, estamos testemunhando uma catástrofe no Rio Grande do Sul que nos remete a sentimentos conhecidos e vividos por nós, de tristeza, medo, desolamento, perdas, luto, revolta, solidariedade, empatia e tantos outros. Que situação difícil e desoladora!
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Para a construção de uma obra nova, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.
Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”
A cada dia que passa a vida mostra que saber ouvir é mais que uma habilidade rara, mais do que uma necessidade, mais do que uma demanda social. É um dom. Proponho uma breve observação. Quantas pessoas falam ao mesmo tempo na mesma roda de conversa? E dessas, quantas estão falando sobre si mesmas, sobre suas próprias vidas, seus anseios individuais e seus problemas? Quantas estão a reclamar o tempo todo?
Há dias em que a força nos foge. Sentimo-nos, como diz o dito, “o saco vazio que não para em pé”, mesmo tendo nos alimentado. É incrível como nos dias de exaustão os pensamentos escondidos aparecem. Lembramo-nos de cuidar da saúde, valorizamos mais do que nunca uma boa noite de sono, repensamos a qualidade de nossas atividades e pensamos em como damos conta.
Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.
Aquele frio na barriga, palpitação, pensamentos voando, respiração mais curta. Nessa hora, bate uma agitação interna, por vezes um excesso de empolgação. Quem está prestes a chegar é a “mudança”. Mudança em algo da vida, por vezes, vem de surpresa, chega mostrando a que veio, imponente, avassaladora. Outras vezes, chega de mansinho, vai se acomodando, conquistando espaço, se esparramando pelo sofá da vida e quando menos percebemos, nos deparamos com ela e encaramos sua presença. Mas nem só de surpresa chegam as mudanças. De certo, muitas mandam notificação prévia.
Aquela pessoa. A-M-I-G-O. Todo mundo deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada. Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.
Esta semana estamos recebendo inúmeros avisos, mensagens, compartilhamento de reportagens, a respeito do alerta de chuvas fortes no Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Nós, que temos cravada em nossa história a tragédia de 2011, sentimos este alerta como uma ameaça à nossa segurança, nossa cidade, nossas famílias e tudo mais. É como um gatilho que nos faz rememorar as dores vividas em nosso passado próximo.
Um conselho recorrente que costumo dar ao longo da vida é muito simples e verdadeiro ao mesmo tempo: estude. Naturalmente, vivemos em um país absolutamente desigual, sem oportunidades para todos. Isso faz com que o acesso à educação de qualidade, infelizmente, não seja privilégio de todos. Mas meu ponto é outro e ele parte do esforço pessoal, do espírito de busca, da vontade de aprender e do objetivo de construção de algo melhor para si próprio, para os outros, para o planeta.