Foi então, que mais uma vez, um verão caloroso cedeu espaço para a lama. Mais um janeiro em que o mar não foi só o mar, ganhando uma conotação marrom devastadora. Dessa vez, os corações do Brasil e dos brasileiros voltaram-se novamente para Petrópolis. Sem aviso prévio, da noite para o dia, fomos todos parar em na Cidade Imperial. Foi uma viagem chocante e triste. Um reencontro com a vulnerabilidade, a efemeridade da vida e a humanidade. Sentimentos extremos ganham força. Indignação e solidariedade. Revolta e compaixão.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Volta às aulas: tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido culminando com as festas de final de ano). Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim? Ou era...
Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.
“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”
Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.
Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores: há 30 dias, estávamos em dezembro, há poucos dias do Natal.
Há bons anos, parafraseei alguns textos de um dos meus escritores preferidos, Rubem Alves. Li, reli, refleti sobre vários deles. E naquela época, pensando sobre adversidades que a vida nos impõe a todo instante, lembrei-me de um texto chamado “A Pipoca” de que eu particularmente gosto muito. A metáfora principal compara nossa vida com um milho de pipoca antes de estourar e nossa evolução com a transformação dele propriamente em pipoca. Estreei esta coluna com esta reflexão. E ainda hoje, faz todo sentido.
Caros leitores, me permitam hoje abordar um assunto importante de uma forma um pouco diferente da usual. Como mulher, cidadã e profissional do Direito, sinto-me no dever de abordar um assunto sério neste espaço, sobretudo ante os números de casos em nossa cidade. O intuito é informar e chamar atenção para a necessidade de evolução enquanto sociedade. O tema é violência doméstica e familiar contra a mulher.
Desapegar-se. Verbo simples. Prática difícil. Nada simples, porém muitas vezes, necessária. É preciso ter o pulso firme e o coração leve para não nos prendermos demasiadamente a tudo e todos que têm valor para nós.
Ouvi dizer que o apego ofusca a luz, como se embaçasse a clareza que pudesse existir. Senti também. É verdade, o apego atrapalha, amarra, atravanca, pesa. Sentimento estranho e mal aplicado, por assim dizer.
A data de aniversário passou, mas faço questão de registrar. Quatro anos. Sem pausas. Este é o tempo em que tenho a honra de assinar semanalmente esta coluna “Com a palavra”, publicada todas as sextas-feiras aqui em A VOZ DA SERRA. E o faço com muito orgulho.