Movimento questiona desapropriação de colégio em Olaria

Líderes alegam que Graças foi construído com recursos angariados pela comunidade, que não está sendo ouvida no processo
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
por Christiane Coelho, especial para A VOZ DA SERRA
O colégio e o centro social Nossa Senhora das Graças (Arquivo AVS/ Henrique Pinheiro)
O colégio e o centro social Nossa Senhora das Graças (Arquivo AVS/ Henrique Pinheiro)

              O ano letivo de 2022 está prestes a começar e a população friburguense passará a contar com mais uma escola municipal que será criada a partir da desapropriação do prédio onde funcionou o Colégio Nossa Senhora das Graças, no bairro Olaria. “A entrada das crianças na escola nos alivia, porque o espaço estará sendo usado para sua finalidade. O que o movimento “Educação sim, desapropriação não” lamenta é a forma como está sendo feito o processo. Acreditamos que o comodato, como é feito entre a prefeitura e a Igreja Batista, para o funcionamento de uma escola no prédio da igreja, seria a melhor opção para todos”, explica uma das líderes do movimento, Vilda José.

              E, para explicar a posição do movimento e levar sugestões, os membros tentaram agendar diversos encontros com o prefeito Johnny Maycon e com o bispo da Diocese de Nova Friburgo, Dom Luiz Antônio Lopes Ricci, segundo Vilda. “Estamos desde novembro, quando o decreto de desapropriação foi publicado,  tentando conversar com os envolvidos para tentar revogar o decreto e sugerir que se faça uma parceria em comodato, mas sequer fomos recebidos”, lamenta ela.

              Além disso, o movimento reuniu mais de três mil assinaturas num abaixo-assinado, solicitando a revogação da desapropriação, que foi protocolado na prefeitura no dia 30 de dezembro. De acordo com Sônia Costa, outra líder do movimento, ao buscar o retorno do pedido, foi informada que o mesmo foi arquivado. “O abaixo assinado foi arquivado em 4 de janeiro. O prefeito que anteriormente disse que estaria aberto ao diálogo com a comunidade, não deu importância ao pedido de cerca de 15% do número de eleitores que votaram nele”, revoltou-se ela.

              O abaixo assinado também foi entregue à Mitra Diocesana na mesma data. Sônia conta que recebeu como resposta apenas um telefonema da secretária do bispo. “Pelo telefone, ela me comunicou que Dom Luiz estava saindo de férias e por isso não poderia receber a comissão, mas que ficássemos tranquilos e que tudo seria encaminhado da melhor forma”, disse ela.

Centro Social, Promoção Humana e universidade funcionam no local

           O prédio na Rua Maria D’Ângelo Magliano pertence a Mitra Diocesana de Nova Friburgo e ao Centro Social Nossa Senhora das Graças.  Pelo decreto, o imóvel foi declarado de utilidade pública e passará a abrigar uma escola municipal. Hoje, ainda  estão funcionando no local o Centro Social, com diversos serviços para a comunidade, como farmácia comunitária, atendimento psicológico, projeto fraldão, escolinhas esportivas, entre outros; a Promoção Humana, com cursos diversos, bazar, distribuição de cestas básicas à comunidade; e o polo de educação a distância da Universidade Católica de Petrópolis (UCP).

           De acordo com Vilda, os voluntários que, há anos, atuam no Centro Social e na Promoção Humana, estão perdidos, sem saber o que vai acontecer, como vai acontecer a posse do prédio pela prefeitura. “O padre da Igreja Nossa Senhora das Graças está de férias nesse momento crucial. Não fomos informados sobre a data e a forma como a posse do prédio acontecerá. Tudo o que sabemos são apenas boatos e suposições. Não estamos sendo informados oficialmente de nada. Se as ações poderão continuar no local, de que forma isso acontecerá. Não há uma liderança da igreja nos orientando sobre o que foi acordado com a prefeitura a respeito dos projetos sociais”, disse ela.

              A UCP funciona no local há um ano, com um polo EaD, fruto de uma parceria entre as dioceses de Petrópolis e Nova Friburgo. São ofertados os cursos de Administração (bacharelado), Pedagogia (licenciatura), História (licenciatura), Teologia (bacharelado), Filosofia (licenciatura e bacharelado), Música (licenciatura) e Letras (licenciatura); além de cursos de extensão e pós-graduação, também oferecidos em EaD. A UCP informou em nota que ”apesar da desapropriação do espaço pela prefeitura, existe a intenção e promessa do poder público em manter no local o funcionamento da UCP com o seu polo EaD.”

              Em relação ao projeto de instalação de uma escola no local, a UCP informou que “não será mais viável, uma vez que o espaço não pertencerá mais à Diocese de Nova Friburgo. Quanto à instalação de uma unidade do Colégio de Aplicação em Friburgo, havia a intenção de ampliar a parceria existente entre as dioceses para a utilização de todo o espaço, que agora pertencerá ao poder público.”

Fruto do trabalho da comunidade

              A escola, que nasceu do sonho do Monsenhor Miele, há 70 anos, foi toda construída com a ajuda, o trabalho voluntário e a doação da comunidade, de acordo com Vilda. “Além do dinheiro angariado através de rifas, almoços comunitários, festas e doações dos paroquianos, a construção da escola tem o suor de cada um de nós. O patrimônio legal é da Mitra, mas moralmente pertence à comunidade. Foi o movimento e trabalho dos leigos que possibilitou materializar o que está lá hoje. E, agora toma-se uma decisão sem nos comunicar e sem nos ouvir? Além disso, o que vai ser feito com o valor obtido com a desapropriação do prédio” questiona ela.

              Os membros do movimento “Escola sim, desapropriação não” estão indignados com a situação. “Indignação pela falta de resposta da Igreja com o movimento e pela falta de respeito com a comunidade. Também com a falta de resposta da prefeitura, que durante a campanha falou tanto em diálogo e, nesse momento, se recusa a nos receber”, disse Vilda.

              A VOZ DA SERRA solicitou o posicionamento da prefeitura e da Diocese sobre o assunto. A Diocese não se manifestou até o fechamento dessa edição.  A prefeitura, apesar das diversas questões abordadas na matéria e questionadas pela reportagem, apenas informou, em nota, que “muito em breve anunciará a aquisição do Colégio Nossa Senhora das Graças e prestará todos os esclarecimentos à sociedade friburguense.”

A escola

              Em decreto publicado no Diário Oficial Eletrônico de 18 novembro de 2021, o prefeito Johnny Maycon desapropriou as instalações do antigo Colégio Nossa Senhora das Graças, em Olaria. Os dois imóveis - um de propriedade da Mitra Diocesana de Nova Friburgo e o outro, do Centro Social Nossa Senhora das Graças - foram avaliados em R$ 7,38 milhões.

O espaço conta com um prédio de três pavimentos e área esportiva com três quadras de esportes, uma quadra coberta, auditório, palco, camarim, salas de aulas arejadas, espaço para circulação, acessibilidade, espaço para atividades extracurriculares, cozinha, cantina e refeitório, totalizando uma área útil de mais de quatro mil metros quadrados.

O Colégio Nossa Senhora das Graças fechou as portas no início de 2016, após 57 anos de atividades. Na ocasião, a Diocese de Nova Friburgo explicou que o encerramento se deveu a motivos financeiros, ao baixo número de inscritos para aquele ano letivo, e ao crítico cenário econômico vivenciado pelo país, entre outros aspectos.

 

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