Faol quer firmar contrato emergencial com a prefeitura

Diretor da empresa aponta dificuldades e caminhos para legalizar o serviço
sábado, 20 de fevereiro de 2021
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)
Para Alexandre Colonese, caminho mais rápido seria um contrato emergencial até que a licitação fosse, de fato, realizada pela prefeitura (Fotos: Henrique Pinheiro)
Para Alexandre Colonese, caminho mais rápido seria um contrato emergencial até que a licitação fosse, de fato, realizada pela prefeitura (Fotos: Henrique Pinheiro)

Após a entrevista concedida pelo prefeito Johnny Maycon no último dia 8 de fevereiro, na qual ele fez uma espécie de balanço do primeiro mês de governo à frente da Prefeitura de Nova Friburgo, e também falou longamente sobre o imbróglio envolvendo o transporte público do município – que opera sem contrato desde setembro de 2018, o empresário Alexandre Colonese, um dos quatro gestores da Nova Faol, por iniciativa própria entrou em contato com A VOZ DA SERRA para esclarecer alguns pontos colocados pelo prefeito na ocasião.

De acordo com Colonese, que recebeu nossa equipe de reportagem na sede da empresa, no distrito de Conselheiro Paulino, está faltando diálogo para solucionar o problema que, segundo ele, só será resolvido se a atual gestão refizer todo o edital de licitação do transporte público do município elaborado pela gestão passada: 

“Era um edital ‘copia e cola’. Equivocado do início ao fim, com características de uma Nova Friburgo de antes da pandemia. Essa proposta que previa dois lotes é uma burrice, me perdoe o termo. Isso não existe. Só há uma área rentável na cidade, que não comporta mais de uma empresa, mas isso não é monopólio. Como nenhuma outra empresa compareceu, também não apresentamos proposta”, esclareceu o empresário, que propôs:

“Se repetir a licitação com o mesmo edital ficará deserta novamente. A primeira medida é fazer um contrato emergencial. Nele a gente estabelece o tempo necessário para se fazer um novo processo licitatório. Não acredito que o prefeito não vá querer conversar, porque o que ele está praticando é um ato irregular. A prefeitura não tem ninguém habilitado para preparar o edital. Ela precisa contratar alguém para fazê-lo. Com um chamamento, as empresas interessadas viriam à cidade, fariam estudos e apresentariam suas propostas. Quem ganhar paga, quem perder é indenizado. Simples assim. Então é o prefeito que vai dar as coordenadas. Após isso, a prefeitura abre a licitação. Mas pergunte quando ela irá contratar uma empresa para preparar este edital? Só que agora vamos agir de uma forma diferente de como agimos com a gestão passada. Ou o prefeito  resolve isso ou iremos exigir que seja aplicado à ele improbidade administrativa já nos primeiros meses de governo (por manter o transporte público operando sem contrato)”, alertou o gestor da Faol.

Chamamento é o procedimento no qual a prefeitura chama empresas de todo o Brasil que queiram participar do processo licitatório de Nova Friburgo. As interessadas viriam à cidade para fazer um projeto de transporte e mobilidade. As que tivessem interesse pagariam por um projeto e, efetivamente, se criaria um edital com o modelo pedido pela cidade.

Confira outros pontos abordados por Colonese

Faol pode deixar a cidade?

“Não posso descartar essa possibilidade. Ela é remota, mas existe sim. É claro que tem que haver um diálogo, precisamos nos acertar (com a prefeitura). Não vejo Nova Friburgo sem um serviço de transporte regular. Isso me fez ficar todo esse tempo sem contrato. Porque seria de minha parte uma covardia entregar essa cidade aos transportes irregulares. Mas tudo tem um limite”, argumentou o empresário, que completou: “Existem duas pessoas que seriam responsáveis por isso (paralisação do transporte público): eu, caso não quisesse mais ficar na cidade, ou o prefeito, caso não queira formalizar conosco um novo contrato. Se de nossa parte temos vontade de continuar e fazer um contrato, mesmo que emergencial, não vejo onde está o problema para a prefeitura, já que somos a única empresa da cidade”.

Prestação do serviço

“É o prefeito quem manda fechar ou abrir o comércio e as indústrias. Então, se eu não tenho usuário, como vou colocar 100% da minha frota na rua? É o que todo mundo fala: ‘O povo friburguense está andando em latas de sardinha’. Eu reconheço isso, mas hoje é como consigo continuar prestando o serviço”, afirmou, reconhecendo que a empresa não está cumprindo à risca o que determina o decreto municipal 879, no qual a empresa deveria operar com 100% de sua frota das 6h às 10h e das 17h às 20h, e com 30% nos demais horários.  

Contrato emergencial

“Não sei de que maneira o prefeito pensa, mas ele tem que estar pensando nisso. Acho que um contrato emergencial poderia ser feito em seis meses, mas já estamos fechando o segundo mês de um novo governo e nada foi feito. Isso nos preocupa porque já viemos de um governo anterior extremamente problemático e, passados praticamente dois meses, o novo governo demonstra que está com a mesma velocidade da gestão anterior. Só que não temos mais tempo. Eu não consigo enxergar que essa solução não venha até o final do mês. Não consigo acreditar que o poder concedente vai achar que vou continuar tocando esse serviço sem ganhar nada. Que irresponsabilidade é essa?”, ponderou.

Cálculo da tarifa

“É simples. É o custo dividido pelo número de passageiros pagantes. Se a gente diminuir o número de pagantes, o valor da tarifa sobe. Quem mais quer que a tarifa seja reduzida somos nós. Quanto mais baixa for a tarifa, mais usuários teremos. Só para dar um exemplo, atualmente, para uma família de três pessoas talvez valha mais a pena ir de Uber. Ou seja, a tarifa alta afasta o usuário. Não estou requerendo um reequilíbrio econômico financeiro neste momento. Tenho uma ação própria já ajuizada, onde provo que existe um desequilíbrio financeiro de cinco anos. Essa ação foi protocolada administrativamente e judicialmente”, reconheceu.

Relação com o atual prefeito

“Desde que o prefeito Johnny Maycon assumiu, felizmente, tomou uma atitude que o gestor anterior não tomou, que é vir à Faol. Ele veio à empresa e conheceu nosso trabalho, o que nos dá uma enorme tranquilidade”, elogiou, com um porém: “Temos uma sala aqui ao lado da minha, melhor que essa. É a sala da prefeitura. Demos a eles, com tudo que eles precisam. Mas nunca veio ninguém. Não quero criar polêmica, mas gostaria que o prefeito estivesse aqui comigo para que pudéssemos dialogar”.

Conservação da frota

Segundo Colonese, a Faol conta atualmente com 125 ônibus, sendo 85 novos, comprados 0km a partir de 2017, quando a atual gestão assumiu o comando da empresa: “Eu preciso é de ônibus 0km na rua. Sabe quem perde se nossa frota estiver velha? Nós mesmos. Se eu tiver todos os ônibus 0km tenho garantia de fábrica, tenho manutenção, não compro peças, pneus, nada disso. Se eu rodo com ônibus velho e sem manutenção, o custo de operação vai subir, as panes e defeitos serão mais constantes. É uma conta simples de se fazer”. 

Dívidas e créditos a receber

Durante a entrevista, que durou cerca de uma hora e meia, Colonese também apresentou uma planilha na qual reconhece uma série de dívidas da empresa com impostos, encargos e com a própria prefeitura, mas aponta que a dívida do município com a empresa é ainda maior. De acordo com os números apresentados por ele, de 15 de março de 2020 a 31 de dezembro do mesmo ano (ainda na gestão Renato Bravo), a Nova Faol acumulou uma dívida de R$ 5.562.135,82. Já no período compreendido entre os dias 2 de janeiro e 10 de fevereiro deste ano (gestão Johnny Maycon), a administração municipal acumulou uma dívida total de R$ 3.420.699,15, totalizando R$ 8.982.834,97, que a Nova Faol teria a receber do município.  

 

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