Nascido no berço das comunidades cariocas no início do século 20, o samba é um dos ritmos genuinamente brasileiros e reconhecido mundialmente. Tendo suas raízes na expressão cultural da África Ocidental e nas tradições folclóricas brasileiras, nesta quarta-feira, 2, comemora-se o dia dele.
Não há pandemia que tire o sorriso no rosto de um sambista ou a alegria em sua voz, como a de Valcir Ferreira, um dos principais nomes e expoentes do samba friburguense e carioca. Patrimônio da nossa terrinha, Valcir nunca perde o entusiasmo, mesmo em tempos de distanciamento social.
Não importa a época, conversar com Valcir é sempre um momento de felicidade e ele é contagiante. O tom de sua voz, sempre animado, mostra como o samba faz bem para encarar os desafios da pandemia. Segundo o sambista, apesar dos eventos terem sido cancelados, o trabalho não parou e mesmo em casa, a inspiração continua a surgir e muitas composições foram ganhando forma. A mais recente ainda será lançada, mas Valcir revelou a letra em primeira mão para A VOZ DA SERRA.
“A cabecinha da gente não para. Vou falar para o jornal em primeira mão que estou lançando o samba ‘Churrasco na Brasa’. Sempre que você escuta um batuque qualquer, você cria. Meu slogan é esse “Eu tô aqui, tô ali, tô em todo lugar”, contou entusiasmado. A letra do samba você confere no final desta reportagem.
Como Valcir mesmo disse, ele não parou. Fazer composições alegres é com ele mesmo. “Eu gosto de fazer coisa pra cima, coisa alegre, faço com amor. O lançamento desse samba fala disso. Eu continuo a fazer as marchinhas de carnaval, como o do ano passado do “Menina veste rosa, Menino veste azul”, lembrou o sambista quando foi convidado para cantar a marchinha no Programa do Ratinho, no SBT.
O compositor lembra com carinho momentos que desfrutou ao lado de um dos principais sambistas do país e revela o sonho de ter uma de suas composições cantadas por ele. “Já estive com Zeca Pagodinho na casa dele em Xerém, cantei uma música minha e ele gostou, mas decidiu não gravar porque queria uma música mais na pegada de sátira, mais comédia. Ele é uma pessoa ótima de se conversar”, conta Valcir.
Todo ano Valcir costuma participar do Samba no Trem, que percorre vários bairros do Rio de Janeiro. Este ano, no entanto, o samba no trem não deve acontecer. “Eu costumo ir todo ano. O trem sai da estação de Oswaldo Cruz, passa por Madureira, Cascadura, Campinho e vai por aí a fora. A gente sempre canta os sambas do sucesso e eu canto algumas composições minhas. São vários sambistas que se reúnem no trem. Quando se fala de samba, é a minha língua. Eu amo.”, se declara.
“Samba é poesia, sentimento puro”
“Um movimento artístico cultural que define não só a nós que o reproduzimos, mas milhares de brasileiros que se sentem acolhidos com as letras e melodias do samba.”, essa é a definição de samba para Giselle e Nathalia Lutterbach, as Filhas de Bamba. Tradicionalmente, no dia 2 de dezembro, as irmãs organizam uma grande e animada roda de samba para comemorar a data, mas a festa ficará para o próximo ano.
Neste atípico 2020, as irmãs contam que viveram uma espécie de abstinência artística, mas o período sem shows foi preenchido com muito estudo e espaço aberto para criatividade. “O samba é poesia, é sentimento puro. Basta estarmos com o coração em paz e as melodias vão surgindo”, disseram.
“Estamos usando esse período para nos reinventar, estudar mais, criar novas versões e aproveitando para conhecer a fundo os limites da nossa profissão”. E tão logo as medidas de restrição sejam relaxadas, as irmãs não veem a hora de reencontrar o público, com a promessa de recuperar o tempo perdido. “Estamos ali para alegrar e ao mesmo tempo receber alegria de quem nos assiste. Quero fazer uma super festa para o pós pandemia. A intenção é reunir todos os nossos amigos músicos e convidar os amantes do samba para curtir e comemorar a vida por pelo menos 12 horas seguidas de festa”, planejam as irmãs.
Churrasco na Brasa (Valcir Ferreira e Wilson Bizzar)
O churrasco tá na brasa
Nosso povo é quem consome
Alegria aqui é plena
O pagode aqui tem nome
Cavaquinho já chegou
Eu dedilho o violão
Tem o surdo e o pandeiro
Pra firmar a marcação
Vem meu povo vem cantar
A cerveja tá na mesa
O samba não vai parar
Vem meu povo vem sambar
Vem chegando minha gente
Pra festa continuar
Vai rolar a noite inteira
Esse samba de pé no chão
Swingueira de terreiro
É pagode na palma da mão
A cuíca e o reco-reco
E o tantam na pulsação
Isso é samba minha gente
É o tum tum do coração
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