Correio do amor

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 25 de junho de 2022

Pulei a fogueira de São João só para poder te ver mais de perto. Comprei maçã do amor na primeira barraca que vi para tentar curar essa ânsia que é gostar de alguém.

Dizem que saciar a fome acalma os desejos para além do corpo. Não sei. Talvez fique mais gordo. Em festas juninas, isso é ainda mais possível pela soma de tantas iguarias ao talante de dançar com você para além da quadrilha.

No balancê, fiz gracejos para você me notar. Cumprimentei você, ainda que à distância. No Alavantú, quis tocar suas mãos, mas no breve tempo de dança, mal pude te abraçar e te rodopiar, pois ao Anarriê, tive que voltar ao meu lugar e seguir a só te observar de longe. 

Na ciranda de flor, quis ser a sua cesta e quase arranquei as flores para lhes entregar, mas distante, preservei minha loucura para mim mesmo. Que ela não passe, perdure ao ponto de gritar para todo mundo ouvir – sonho. 

Mesmo vestido em personagem, não desvencilhei de quem eu sou, e, exagerado, fui entrelaçado pelo caracol que me tomou. Até se desfazer, naqueles poucos segundos, dias e dias se passaram na minha fértil imaginação. 

Fui para além da dança, da estratosfera, do núcleo terrestre, dos devaneios que me faço e me inventam. Fui astronauta para te roubar a lua, fui carpinteiro para te reverenciar em escultura, fui sertanejo para te fazer modas de viola, fui poeta para te fazer música. 

No grande túnel, corri para me proteger em você, te proteger da chuva e da mentira das previsões equivocadas, das realidades tapeadas, de todas as agruras do cotidiano, do tempo, do mundo. Passeei por você, passeou por mim. Sei que me percebeu, talvez não tanto quanto eu te percebi, mas meu sorriso foi todo seu. 

Quantas inspirações me vêm e já penso em me declarar, revelar tudo que sinto… Seria o correio do amor da festa a solução? Preencher um coração de papel... Não caberá. Dois, três, quatro? O meu próprio coração perdido, querendo ganhar. Em tantas linhas que o locutor não lerá. Ouvirá? 

Nas tantas vidas que tive. Todos os erros que cometi para aprender a ser melhor para você, para nós. Temeroso do que eu diga, do quanto assuste, refuto a ideia e me concentro de novo na confusão da canção que embala a dança com os sons que vêm das vozes interiores e divinas que me guiam. 

Tomado o caminho da roça, a grande roda se fez e na gira que faz pela vida, fico à espera desses rodopios que a vida traz. Que eu possa esbarrar em você, e, que no encontro, possamos nos encontrar para além de olhares de longe, dessas lembranças impactantes diante de quem sequer se sabe o nome. Que, convictos, insistamos em vencer o medo de se apresentar: “sou o amor da sua vida e sei que você é o meu”.  

Se a grande roda antecipa a despedida, ao sair dela, tão somente direi: “bem-vindo amor”!

 

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(Foto: Freepik)
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