Carta para um amor

Wanderson Nogueira

Palavreando

Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

sábado, 11 de junho de 2022
Foto de capa
(Foto: Pexels)

Meu amor, te conheço mesmo sem sequer saber seu nome, mas já suponho te adorar e ao adorar, te prometo cuidado. Sabe, sei que vamos nos entender, mesmo quando não concordarmos. Porque seremos sempre dois, indivíduos, mas nós. Não me iludo com essas tolices de perfeição, mas acredito na felicidade. 

Quero me molhar com você na chuva, bronzear de Sol sua Lua. Estudar seu signo, ascendente, Vênus, cada casa zodiacal. E, a cada inferno astral que tiver, enfrentar a astrologia e contradizê-la, provocando em você paraíso. Nesses dias, vou caçar conchas com você na beira da praia, vou subir montanhas e roubar estrelas. Da constelação adquirida, te fazer um cordão e quem sabe, através desses amuletos, flutuar seu corpo e me fazer voar nas asas das suas imaginações. 

Amor, chega logo. O jantar está posto. Velas acesas. Luz para fazer a sombra de nós dois se entranhar em beijos, corpo inteiro dentro de outro corpo. Seus lábios arrepiando lugares que sequer sabia que arrepiavam. Te beijar sem querer parar de beijar. Te respirar mesmo perdendo ar nas telas que te pintarei. Tantas cores existem na galáxia dos seus pensamentos e somadas aos meus sentimentos dão trilhões de aquarelas. 

Me veste de flores e sem pudores me arranca desses farrapos que mordem as sinas de quem, às vezes, esquece que pode amar mais do que sonha. Vem e amansa a imensidão que finge infinito, mas revela eternidade interrompível. 

Sorrio, finjo não chorar. Quero o sossego do amor sensato, o exagero do amor que se estende para além dos janeiros de cada ano. Bobagem não colecionar coragem de se dar e se entregar. Entregue, meu coração te conhece e me guia a aprender você e te descobrir e seguir te descobrindo a cada novo segundo. Salto no som de seus sussurros e pelas vozes da paixão tremem as minhas pernas, que bambas, seguem cheias de propósito para te acarinhar os pelos. 

Amor meu, não tarde. Mas ainda que não se apresse, não demore, estou aqui. Não precisa bater na porta, só venha. Na dança dos átomos, na velocidade da luz, entre espaçonaves alienígenas, no recanto das flores de baunilha, se achegue nas correntes de vento que fazem evaporar as casquinhas dos machucados sarados. Tatuo você no peito e mais forte do que sou, por admitir fraquezas, doo a dor que tenho para sangrar menos do que morrer. Vivo e vivendo você, sou mais do que pretendo.

Saudade já visita e arrebenta o coração antes mesmo de sair e fico ansioso para que a cesse rápido, que volte logo. Redenção à liberdade de perecer com você. Mergulho são, sem ser racional. Acordo mais cedo para não te perder e fazer das manhãs alimento para espantar a fome que sentirei nas horas da tarde. Tem bombons belgas na prateleira. 

Na fadiga do fim do dia, descansar no seu colo e ser repouso, sofá, cadeira, rede e cama. Deixei recados para você na gaveta. Declarações de amor para o Dia dos Namorados e para os demais dias de namorar você. 

Estampo a capa da revista em tom de procura, te acho, me deixo ser achado por você. Disfarço paciência, não escondo a ansiedade, a qualquer hora sei: você vai chegar. Reconheço a recusa a bocas fáceis, não quis desacatar os erros, nem quem me quis, mas no canto do espelho já vejo você e canto para me encantar de você. 

Meu amor, vem e só venha costurar esses laços invioláveis que se criaram antes mesmo de tudo existir. Estão protegidas as utopias para você surgir naquela esquina onde, o músico que não sei o nome, toca violoncelo. Serei a tempestade de seus verões, como a fortaleza de suas perdições. Tem sonhos no cume das árvores da floresta que plantei, no terreno lunar do quintal da nossa casa, no interior. 

Os imãs na geladeira perfilam o alfabeto que formam seu nome. O silêncio dos burburinhos das mesas dos bares, comentam sobre nós. E não escondo o quanto te quero, meu amor futuro que pretendo antecipar para esse presente que me presenteia energia e motivos para te sorrir largo. Sentimento bom de calma que toca a alma e faz a existência prazerosa. 

Não sei ainda o seu nome, mas agora e depois da hora vou te chamar de meu amor.

 

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Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.

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