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Cerco fechado à venda de times
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.
Foto: Arquivo AVS
Cada vez mais frequentes, ainda que nem todos os casos investigados com a publicidade devida, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Fferj) está fechando o cerco à venda de clubes de futebol do Estado a grupos de empresários. A Federação averigua que uma das maiores motivações é usar as instituições para manipulação de resultados visando apostas pela internet. Inclusive, ainda que a Federação não confirme oficialmente, há denúncias na atual segundona.
Sites de apostas
Os espertalhões descobriram a fórmula óbvia: “por que comprar um ou dois jogadores, se pode ter o time inteiro?” O olho está especialmente nas divisões inferiores, onde há menor atenção da mídia e exatamente onde está havendo um forte movimento de compra de clubes ou de suas gestões de futebol, através de SAFs ou outros instrumentos.
Foco em clubes empresariais
A Federação acompanha, preocupada, cada movimento de perto e está montando uma frente de análise permanente para jogadas e resultados estranhos, com olhar ainda mais apurado para clubes que foram vendidos. Acompanha também processos de venda em andamento, alertando a esses clubes para os perigos que correm e as punições também às instituições, ou seja, para além dos empresários adquirentes.
Regulamento inédito
Na terceirona do Rio, que começa em setembro, novas regras farão estreia e o regulamento já prevê afastamento dos jogadores suspeitos em envolvimento com a máfia de apostas até o trânsito em julgado e multa de R$ 500 mil para o clube associativo. Não está descartada a eliminação da instituição envolvida, com rebaixamento à última divisão, independente da série disputada, em caso de comprovação da manipulação de resultado visando favorecer apostas suspeitas.
Tanto quanto vítimas
As casas de apostas também são vítimas nos esquemas. Elas também têm buscado ferramentas para conter o problema que já foi visto em outras partes do mundo. No Brasil, um país continental e com mais de 500 clubes de futebol em atividade, trata-se de algo relativamente novo, mas com traços mais complexos. Ainda mais quando se soma essa possibilidade de venda de clubes e gestões para grupos externos ao clube associativo, algo também novo.
Compliance
Vale lembrar que o Friburguense analisou em abril, uma proposta de venda do seu futebol pelo período de dez anos. O principal nome desse grupo de interessados é do ex-jogador do Vasco e Fluminense, Conca. Ainda que o ex-atleta nunca tenha se manifestado nas redes ou reportagens sobre o projeto Friburguense, a negociação analisada pelo Conselho Deliberativo do clube tinha o nome dele, algo que de fato ofereceria credibilidade ao referido grupo.
Nada é tão simples
Importante frisar que aqui não se levantam suspeições quanto a relação com esquema de apostas de tal grupo ou qualquer outro, apenas reforça a importância dessas negociações terem profundas análises de integridade para evitar problemas futuros que podem até eliminar a instituição do futebol profissional. A proposta de Conca e cia foi negada com reavaliação da mesma, caso o atual gestor de futebol, Siqueirinha, não ofereça garantias financeiras para seguir tocando o futebol do clube.
Inseguranças
Alguns problemas pelo caminho, em caso de possível transferência do futebol tricolor. O mais importante é o processo coletivo contra a TV Globo, por quebra de contrato nos direitos de transmissão do Carioca. Em caso de vitória na Justiça, pode render ao Friburguense quase R$1 milhão. O recurso é da gestão que estava à frente à época para cobrir os rombos ou não?
Por dentro do problema
Aliás, a ausência da verba é um dos agravantes dos grandes problemas financeiros vividos hoje pela gestão de futebol. Como o planejamento previa a entrada do recurso, que acabou não vindo, recorreu-se a empréstimos e formas diversas de manter o futebol do profissional às divisões de base. O processo na Justiça está em vias finais e até agora os clubes tiveram ganho em todas as instâncias.
Relembrar
Siqueirinha está à frente do futebol desde o final dos anos 90, no formato arrendamento, ainda que sem contrato nos últimos anos, em uma relação de confiança mútua. O Friburguense viveu o melhor período da sua história entre 1997 (ano do acesso à elite) até 2010. Disputou competições nacionais e se destacou no Estadual por inúmeras vezes, Até que foi rebaixado para a segundona. Voltou em 2011, mas foi rebaixado novamente em 2015.
Tempos difíceis
Retornou em 2019 e caiu em 2021 após não passar na seletiva da elite. No mesmo ano, disputou a segundona e acabou se garantindo no novo formato de divisões, onde de 19 clubes, a segundona passou a ter 12. Neste ano, a situação é grave e o rebaixamento inédito para a terceirona só não acontece por milagre.
Missão quase impossível
Para não cair, o Friburguense precisa fazer o que não conseguiu até agora: vencer. Ir além: ter 100% de aproveitamento nas três partidas que lhe faltam. Essa é a fórmula, simples de determinar e difícil de executar. A briga para não ficar entre os dois do rebaixamento está praticamente limitada ao próprio Friburguense (1 ponto), Macaé (7) e Araruama (10).
Avaliação
O time é ruim? Não! Inclusive, melhor do que no ano passado. Basta relembrar as goleadas sofridas no ano passado e que nesse ano, o time não perdeu por mais de dois gols. Além da falta de entrosamento, que pesou muito para a falta de confiança que se vê agora, os problemas da equipe seriam baixa média de idade, baixa altura física e erros individuais e coletivos nas bolas paradas.
Respostas
O que fez ficar ruim? Voltamos à questão da venda do futebol. A trapalhada recheada de amadorismo da presidência do clube. Nenhum adversário foi mais potente. A menos de um mês para a competição começar, inflamou-se a torcida e a cidade, com um movimento de interesses políticos partidários também, para avaliar uma proposta de “venda” da gestão do futebol para o grupo que tem como nome mais relevante o ex-jogador Conca como sócio.
Para entender
Cá entre nós: nem o atual, tampouco o que viria, caso houvesse aprovação, teriam tempo para montar um time, enquanto todos os demais 11 concorrentes já treinavam. Para piorar: segundo fontes ligadas ao grupo Conca, a negociação tinha sido aberta ainda em 2022. Ou seja, o principal erro não foi analisar a proposta, o que é legítimo. Mas no tempo em que foi feito e da forma em que foi feita.
Sem tempo adequado
Nesse ínterim, a atual gestão perdeu jogadores apalavrados e a insegurança jurídica gerada fez também perder o principal investidor e atravancou negociações em curso por patrocinadores, levando a uma asfixia financeira maior do que a já complexa dos anos anteriores. Quanto à montagem de elenco, seria diferente, caso o outro grupo assumisse? Por sua vez, a prefeitura aproveita da marca Friburguense, mas nada faz pelo mesmo. Aliás, a última vez que um governo apoiou o futebol do clube foi o do ex-prefeito Heródoto. No mais, só fotos de políticos em momentos bons, Nos ruins, quase todos desaparecem.
Tragédia anunciada
Nesse momento, fora das quatro linhas, a não assinatura de um contrato com a gestão de futebol de Siqueirinha complicou o fluxo de caixa, levando a uma situação nunca antes vista. O time não pode se concentrar na véspera e nos dias dos jogos por falta de recursos e há dificuldade em pagar as taxas de Federação. Nem uniforme novo foi lançado para este ano. Em suma, caso se confirme o rebaixamento do Friburguense à terceirona, a história há de registrar que os menos culpados são os jogadores.
Últimos suspiros de esperança
Dentro das quatro linhas, a promessa de dedicação e respeito ao campeonato, com seriedade até o fim. No próximo sábado, 15, o Friburguense enfrenta o América, fora de casa. Caso empate ou perca, o Tricolor estará, matematicamente, rebaixado. Em tempo: o América, que corre o risco de perder até 28 pontos, por uma suposta escalação irregular, inicialmente, deve se livrar da punição. A Procuradoria do TJD-RJ negou o andamento do processo. Cabe ainda a avaliação da presidência do órgão e recursos dos impetrantes (Cabofriense, Macaé e Americano) até à última instância.
Terceirona
Já pensando no pior dos futuros, a disputa da terceirona do Estadual começa em setembro. Os rebaixados podem disputá-la no mesmo ano de queda. Mas não será nada fácil ser um dos dois que sobem. Vários clubes tradicionais estão lá, entre os quais, Duque de Caxias, Goytacaz e Serrano. Para além deles, Pérolas Negras e Paduano com investimentos volumosos de empresários. Não haverá moleza.
Volta por cima
Em contrapartida, haverá a base de uma equipe já entrosada e tempo para se organizar, ainda que, nesse momento, do ponto de vista financeiro, a participação dependerá de eliminar os impasses extra-campo. Com reforços, daria não só para sonhar com o acesso no mesmo ano da queda, como vislumbrar uma boa participação na Copa Rio, que acontece a partir de agosto. A Copa Rio dá vaga na Série D do Brasileiro e na Copa do Brasil. Seria um retorno triunfal.
Palavreando
Foto: Freepik
“O que importa? Parece simples a pergunta, tanto quanto evidente a resposta. Mas ainda que tenhamos em mente, ainda que nos vista a certeza, corrompemos a poesia e nos auto sabotamos, conscientemente. De que adianta declamar versos e não vivê-los?”
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna às terças e quintas.
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