Acabei de ler uma pérola, “Noites Brancas”, publicado em 1848, uma obra clássica, do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Esse livro foi um dos primeiros que ele escreveu, um jovem adulto com 27 anos, que trouxe para o seu fazer literário a pureza do amor. Uma história triste e delicada, em que consegue detalhar com maestria o sentimento de um homem solitário e sonhador por uma jovem à espera de um apaixonado. Um roteiro que acontece em todos os tempos e lugares.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Hoje, o friburguense vai se divertir, cantar e dançar. É terça-feira gorda, o último dia para soltar o espírito carnavalesco em qualquer lugar, que seja em casa, nas ruas ou no meio da natureza verde das matas. Então vou deixar com vocês duas músicas, cujas letras foram compostas por Braguinha (1907-2006) que eternizam essa festa folclórica. Acima de tudo, suas letras são românticas e encantadoras poesias.
Nestas vésperas de carnaval, a literatura sai dos livros e se transforma em folia, envolvendo o povo numa festa que celebra a multiplicidade das expressões populares. Os desfiles são odes carnavalescas que exibem e cantam as tendências da época, exaltam personagens e mitos, reverenciam e criticam fatos relevantes do presente e do passado. O carnaval é um evento que supera a individualidade e exalta a unidade popular.
Em 2003, fui convidada por Mônica Alvarenga, diretora de teatro, a adaptar, juntamente com ela, a lenda da mitologia indiana, “Cabeças Trocadas”, reescrita pelo autor alemão Thomas Mann. A lenda conta a história do triângulo amoroso entre Sita, a bela das cadeiras, e dois inseparáveis amigos: Shiridaman, descendente dos brâmanes, espiritualizado e versado nos Vedas, estudioso e conhecedor do ser humano; e Nanda, ferreiro e pastor de gado, trabalhador da terra, com belo e vigoroso corpo físico, semblante risonho e não se envolvia com assuntos intelectualizados. Ambos se apaixonam por Sita.
Estava revendo textos que venho arquivando ao longo dos anos, uma coletânea elaborada por estudiosos em várias áreas das Ciências Humanas, resumos de palestras a que assisti e anotações decorrentes de reflexões pessoais. Folheando uma pasta e outra, me deparei com um tema que atrai minha atenção: a qualidade literária.
Mais uma semana terminando, e a mente começa a procurar um novo tema a abordar. Essa é a sina do escritor: imaginar e produzir textos literários. Não lhe é permitido escrever qualquer coisa e de qualquer maneira. É uma rotina que beira ao delírio em que a imaginação tem de viajar sobre uma quantidade indeterminada de ideias, se concisas ou conflitantes, discordantes ou desajustadas. É um movimento em que tudo encontra sentido desde que a produção do texto seja concluída com qualidade.
Passei a semana me sentindo lisonjeada com a crônica de Robério Canto intitulada “Imitando Tereza”, em que ele faz um singelo elogio à minha pessoa e ao meu trabalho de escritora. Nessa coluna ele se refere a um texto que publiquei no ano passado sobre as letras de músicas.
Ao assistir ao filme “Pelotão 6888”, baseado em um fato que aconteceu durante a Segunda Guerra, quando um batalhão de mulheres negras do exército norte-americano assumiu a missão de entregar as cartas dos soldados aos seus familiares que estavam acumuladas nos galpões. Essa quase impossível tarefa levou conforto e esperança aos que as recebiam. Fiquei tocada com o filme, quando pude, mais uma vez, constatar o valor das cartas. O filme me fez voltar ao tempo em que as enviava e recebia.
Seria uma jornada e tanto, mais do que uma aventura. Um resgate? Ou uma forma de compreender melhor o presente, que é a síntese do que vivemos. Nunca conseguimos compreender com plenitude o presente. Há indagações, questões mal resolvidas, sonhos longe de ser realizados, mágoas. Há várias brechas que tentamos preencher no presente. Enfim... Saber lidar com as dores e os hiatos do passado é uma sabedoria.
Eis que amanheci o primeiro dia de 2025 pensando no tema com o qual deveria brindar o novo ano. Não precisou de muito tempo para que Júlio Verne (1828 – 1905), romancista francês, dramaturgo e poeta, tomasse conta das minhas ideias. Perguntei-me com certa surpresa: por que voltar no tempo em mais de cem anos se hoje há tantas questões relevantes? A resposta logo me veio com clareza pelo modo como estou vendo o mundo na era da Inteligência Artificial.