Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
O homem e a natureza

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Ao passar na Genipapo Livraria, conversei com a livreira, Maria Fernanda, sobre ecologia, e ela me indicou o livro “Maneiras de Ser: Animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, escrito pelo jornalista inglês James Bridle. O tema imediatamente me interessou porque somos partes integrantes da natureza, tanto quanto uma árvore, uma pedra e um tigre.
Já no primeiro parágrafo fiquei tocada com a frase: (...) “aqui está se desenrolando um dos maiores conflitos da nossa era – entre a agência humana e a inteligência das máquinas, entre a ilusão da superioridade humana e a sobrevivência do planeta.” Talvez eu nem precise comentá-la posto que é bem explícita e nos induz a questionar: aonde a inteligência está nos levando? A mesma inteligência que criou as vacinas, a cirurgia, a engenharia genética, o telescópio espacial, é responsável pelo desenvolvimento da inteligência humana e produção das artificiais, que poderão fugir ao nosso controle, nos trazer consequências impensáveis e causar tantos desajustes. A racionalidade humana não pode esquecer de que há uma interconexão entre tudo o que existe neste planeta. O Efeito Borboleta é uma metáfora que exemplifica o caos decorrente das relações entre a causa e o efeito da desordem dos fatos e seus subsequentes e infinitos desdobramentos. Estamos mergulhados em resultados e impactos decorrentes dos esforços para dominar a natureza e usá-la para nosso favor, o que tem favorecido a qualidade de vida. Contudo, ao mesmo tempo, colocado em risco a nossa segurança, bem-estar e sobrevivência.
Vamos tentar usar um exemplo para entender as conexões e correlações de ações tomadas aleatoriamente. Numa partida de futebol, André chutou uma bola, que correu para uma movimentada estrada. Naquele exato momento, um carro que passava freou e desviou da bola. Então, o motorista do caminhão que vinha atrás se assustou e perdeu o controle do veículo, que tombou. A carga líquida e concentrada de produtos químicos se espalhou pelo local e escorreu até um riacho. Com a água contaminada, a fauna e a flora foram afetadas, bem como criações de tilápias que utilizavam da água do riacho. Sem peixes para comercializar, os criadores tiveram perdas econômicas, o que repercutiu na vida financeira dos empregados e no comércio da localidade.
Agora, me vêm à lembrança programas de televisão sobre a construção de casas por arquitetos talentosos, que mostram com orgulho as grandes janelas projetadas e seus vidros imensos. Lindo de ver e desejar. Entretanto ninguém pensa na quantidade incontável de passarinhos que morrem ao bater nos vidros. Nos filhotes que ficam aguardando pelos pais nos ninhos. Os pássaros são grandes semeadores da natureza, sendo responsáveis pela manutenção das matas. As construções precisam protegê-los e não os sacrificar.
Segundo Bridle, há uma cisão entre o humano e o não humano. A ilusão de superioridade através da tecnologia se contrapõe a uma parceria saudável entre o homem e suas necessidades com a natureza. É importante ressaltar que a inteligência da natureza tem simplicidade, pureza e espontaneidade. Sem tecnologias, logísticas e redes de comunicação, os animais são capazes de se proteger. Como uma lagarta pode viver por meses, sobrevivendo aos incontáveis desafios que o ambiente lhe apresenta?
O homem ainda tem muito o que aprender com a natureza e com a dignidade com que os animais enfrentam as dificuldades diárias, como os ursos polares. Mas ainda não conseguiram se defender do homem...
E, agora, me digam, o que a natureza precisa aprender com os homens?

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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