Um escândalo na família Nova Friburgo

quinta-feira, 01 de abril de 2021

Inicialmente é preciso esclarecer quem é a família Nova Friburgo. O patriarca é Antônio Clemente Pinto, o primeiro Barão de Nova Friburgo. Um de seus dois filhos, Bernardo Clemente Pinto Sobrinho passou a adotar como nome de família a denominação “Nova Friburgo” em substituição a Clemente Pinto.  O primeiro Barão de Nova Friburgo foi um dos homens mais ricos no Império, tendo a sua fortuna origem no tráfico de escravos africanos, no plantio e na comercialização de café e como usurário realizando empréstimo de dinheiro aos fazendeiros.

Nunca imaginaríamos o neto do primeiro Barão de Nova Friburgo nas manchetes dos jornais em agosto de 1927, em um flagrante delito por tráfico de entorpecentes. Refiro-me a Braz de Nova Friburgo (1881-1950). Braz era filho de Bernardo Clemente Pinto Sobrinho (1835-1914), Conde de Nova Friburgo, casado com Ambrosina Campbell (1848-1939), filha do Barão de Mamoré.

Além de Braz de Nova Friburgo o casal teve sete filhos. A polícia do Rio de Janeiro apreendeu um vultoso “stock” de cocaína no quarto número 325 do Novo Hotel Riachuelo, onde se hospedava Braz de Nova Friburgo. Os seus passos vinham sendo seguidos pela polícia por meio de meticulosa investigação. Foram encontrados dentro de uma pequena mala de viagem 488 vidros de cocaína de procedência alemã do fabricante Gehe.

Além de ser descendente de importante família fluminense Braz já exercera cargo de confiança como delegado de polícia na administração Alfredo Pinto. Preso em flagrante mostrou-se um perfeito “gentleman” mas profundamente perturbado. Confessou à autoridade policial que o interpelara que de fato negociava com a droga entorpecente inclusive em São Paulo, o grosso de seu comércio. Levado para a delegacia de polícia para prestar depoimento Braz de Nova Friburgo confessou que adquiria a droga em Nova Friburgo dos irmãos Luiz Napoleão e Antônio de Vicenzi, proprietários da Drogaria de Vicenzi, na Rua General Câmara (hoje Augusto Spinelli). Foi realizada busca nesta drogaria e descobertos 1.500 tabletes de morfina depositados dentro de uma lata em um cofre.

Na residência de Luiz Napoleão de Vicenzi foram apreendidos 400 vidros de cocaína da mesma marca e procedência da que fora encontrada com Braz de Nova Friburgo, conforme a Revista Criminal de agosto de 1927. Os irmãos de Vicenzi negaram ter vendido o “pó da morte” a Braz de Nova Friburgo mesmo depois do flagrante. O caso teve relevância na imprensa não só pela avultada quantidade de cocaína apreendida como também “pela categoria da pessoa em poder da qual ela foi encontrada”.

De acordo com o Jornal do Brasil, edição 189, “O dr. Braz de Nova Friburgo, que é um viciado em tóxicos (...) foi preso em uma grande agitação [na delegacia] sendo precisos os socorros da assistência municipal cujo médico fez-lhe uma injeção de morfina, único modo de o acalmar.” O fato de Braz de Nova Friburgo ter se envolvido com o tráfico de entorpecentes pode ser consequência de sua condição financeira que já vinha decaindo a partir do seu pai.

O Conde de Nova Friburgo viu-se obrigado a vender grandes fazendas em Cantagalo como a aldeia, cafés e São Martinho. Em Nova Friburgo venderam o pavilhão de caça para o Sanatório Naval e a belíssima chácara do chalet (Country Clube) para Eduardo Guinle. Em 13 de abril de 1920, quando a viúva do conde e herdeiros venderam a Fazenda Gavião, a propriedade não possuía nenhum arbusto de café e ali funcionava tão somente um laticínio arrendado.

Segundo a pesquisadora Leila Vilela Alegrio, o fausto do Conde de Nova Friburgo se manteve aproximadamente até o ano de 1880, quando iniciou um processo de perdas tanto dos bens herdados quanto dos adquiridos até o seu falecimento “quase na pobreza”. Ao longo da história surgiram adágios como “pai taverneiro, filho cavalheiro, neto mendigo” ou ainda “pai rico, filho nobre, neto pobre.” Era a situação vivida por Braz, neto do poderoso Barão de Nova Friburgo.

No ano seguinte à prisão de Braz, o leiloeiro Paulo Affonso apregoava a venda de majestosos móveis de jacarandá com embutidos de marfim que pertenceu ao salão mourisco do Palácio de Nova Friburgo da família Clemente Pinto. Constava ainda no lote um sofá, poltronas, cadeiras e uma mesa com tampo de mármore ônix rajado. Braz de Nova Friburgo era casado com Maria José Clemente de Souza Dantas (1885-1948) e tiveram dois filhos, Alice Maria e Rodolpho. A condessa sua mãe era viva no momento de sua prisão e o fato deve ter escandalizado toda a família.

O seu pai, o Conde de Nova Friburgo foi homenageado no centenário de Nova Friburgo. Uma placa sobre o obelisco na Praça Dermeval Barbosa Moreira tem a sua imagem em bronze, um tributo dos friburguenses ao conde que trouxe a linha férrea proporcionando imenso desenvolvimento a cidade serrana. Braz de Nova Friburgo teve a prisão relaxada graças ao juiz de direito Chrysólito de Gusmão cujo despacho foi publicado na Revista Criminal de dezembro de 1927. O juiz utilizando a costumeira retórica jurídica para privilegiar acusados de cabedais aliviou a prisão preventiva do indiciado.

“O ilustre representante do Ministério Público em apontando as declarações feitas pelo bacharel Braz de Nova Friburgo acentua haver este confessado ter comprado de De Vicenzi a quantidade de tóxico apreendido. Ora a confissão somente desse aspecto não constitui confissão de crime previsto em lei (...) o que é certo é que confissão do primeiro indiciado não há.”

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    Barão de Nova Friburgo

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    Conde de Nova Friburgo

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    Manchete da apreensão de cocaína

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