Inflação, inflação, inflação

Gabriel Alves

Educação Financeira

Especialista em finanças e sócio de um escritório de investimentos, Gabriel escreve sobre economia, finanças e mercados. Neste espaço, o objetivo é ampliar a divulgação de informações e conhecimentos fundamentais para a nossa formação cidadã.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Chegou o momento, é hora de voltarmos a falar sobre o assunto mais relevante do contexto macroeconômico global: inflação. O problema não existe de hoje, mas é uma grande novidade para países desenvolvidos e tem tirado o sono de muito banqueiro central. Inclusive, o próprio Jerome “Jay” Powell, presidente do Federal Reserve System (Sistema de Reserva Federal) dos Estados Unidos, admitiu em entrevista o que – apesar do valor da franqueza – trouxe desconfiança a todo o mundo quando disse, em tradução livre: “penso que agora compreendemos melhor o quão pouco compreendemos sobre inflação.”

O risco existiu, existe, e vai se concretizar: grandes recessões ainda vêm pela frente. Quando acompanhadas, ainda, de forte inflação, se torna o que a ciência econômica chama de estagflação – estagnação econômica com relevante participação inflacionária. Mas antes de nos estendermos com previsões (e vocês sabem que previsões são imprevisíveis), precisamos voltar ao ano de 2020 para compreender o contexto responsável por nos trazer até aqui. O ano acabava de ser marcado pela crise sanitária com o surto de Covid-19 e nos primeiros meses do ano o cenário já era classificado como pandêmico. Todos precisamos tomar medidas radicais e urgentes, mas se deixamos a questão de saúde um pouco de lado, nada na história se comparou aos estímulos monetários exercidos pelos governos mundo afora. Portanto, com fortes injeções de capital e população recolhida de suas atividades, o resultado só podia ser pressão de demanda (as pessoas tinham dinheiro e queriam consumir) e choque de oferta (devido ao controle de transmissão do vírus, a cadeia produtiva estava comprometida). Ou seja, em poucas palavras: tendência inflacionária.

O resultado não foi diferente, a partir daquele momento os sinais de inflação já começavam a aparecer. De toda forma, países continuaram cortando suas taxas de juros com o objetivo de manter os estímulos ao crescimento econômico, até que outro agravante entra na história: a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Contudo, antes de prosseguirmos, vale ressaltar que a guerra veio dois anos depois da pandemia e muito podia ter sido feito durante esse período para amenizar os impactos. Enquanto o mundo esperava para ver o que podia acontecer, por exemplo, o Brasil já saiu na frente em sua postura hawkish (elevação de taxas de juros) ao passo que outros países – principalmente desenvolvidos – não quiseram seguir a mesma tendência por medo de pressionar o crescimento econômico e correr o risco de recessão. Historicamente, países emergentes têm maior desenvoltura quando o assunto é inflação e talvez seja momento de o mundo aprender um pouco com a gente. Mas o espaço é curto e precisamos voltar a falar da guerra.

Num mundo pós Covid, a guerra foi responsável por tornar mais grave a correlação entre pressão de demanda e choque de oferta. Afinal, estamos falando de países líderes de produção de grãos e combustíveis, o que provoca um resultado em cadeia dentro de um sistema de produção globalizado.

A propósito, por falar em globalização de processos de produção, há especialistas falando sobre reverter esta tendência para produções locais. Principalmente após o mundo sofrer – ainda com os tão comentados neste texto – pelos choques de oferta provocados pela política de Covid Zero adotada pela China enquanto todo o mundo retomava suas atividades; o que alavancou ainda mais a tendência de inflação global.

Contudo, é muito importante entender a relação entre as dinâmicas de produção, consumo, juros, inflação e como tudo isso interfere no seu cotidiano como cidadão. Em outro momento – com certeza – voltaremos a conversar sobre o assunto.     Até lá, espero poder ter mais novidades acerca das políticas econômicas abordadas pelos governos.

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