Raul Sertã, Maternidade e UPA funcionam sem alvará dos Bombeiros

Comandante afirma que município já foi multado. Na Maternidade, lavanderia está comprometida, segundo vereadores, por falta de pagamento a terceirizada
sábado, 08 de fevereiro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Roupas entregues com manchas de sangue (Fotos de divulgação)
Roupas entregues com manchas de sangue (Fotos de divulgação)

Segundo o comandante do 6º Grupamento do Corpo de Bombeiros em Nova Friburgo, tenente-coronel Thiago Nunes Alecrim, os hospitais Maternidade Mário Dutra de Castro, Raul Sertã e a UPA não têm autorização para funcionar. “Inclusive, já foram notificados e multados para adoção das medidas legais em relação aos dispositivos de segurança”. 

Em junho do ano passado, uma ação civil pública movida pelo Ministério Público determinou que o secretário municipal de Saúde, assim como o prefeito, apresentassem em até 45 dias um documento que identificasse o real cenário do Hospital Raul Sertã, além de providências para a emissão do alvará de funcionamento junto ao Corpo de Bombeiros. Também foram solicitadas informações sobre a vistoria feita na unidade e a formação de uma brigada de incêndio.

Maternidade

Alguns funcionários entraram em contato com A VOZ DA SERRA na última semana para denunciar  o que consideram como um dos maiores descasos com a saúde municipal. Fazendo coro às denúncias, os vereadores Johnny Maycon e Márcio Alves foram até a unidade e, após constatarem inúmeras irregularidades, elaboraram um documento que foi entregue à 1ª Promotoria de Tutela Coletiva de Nova Friburgo.

De acordo com os funcionários da maternidade, a instalação elétrica é antiga, não comporta equipamentos novos e, por conta disso, já houve um curto-circuito na cozinha, o que os deixou apreensivos. Segundo eles, também não há extintor de incêndio em todos os andares.

Ainda segundo os funcionários, o elevador não funciona, prejudicando a locomoção de pacientes, principalmente os casos de urgência. Uma das saídas é utilizar uma rampa que dá acesso às enfermarias. A rampa que liga o 2º ao 3º andar, que também é utilizada pelos maqueiros, tem um buraco enorme no teto com infiltrações em dias de chuva. No 3º andar, o banheiro feminino está com uma das descargas quebrada há alguns anos. Já foi solicitado o conserto, mas, até agora nada foi feito. No mesmo banheiro falta até papel toalha.

Onde era o auditório, de acordo com a denúncia, há algum tempo funciona um refeitório improvisado utilizado por funcionários e acompanhantes. No almoxarifado, as denúncias dão conta de que não há produtos de limpeza para fazer a higienização dos setores. Muitos produtos como esponja, detergente, cloro, além de caneta e lápis, estão em falta. “Sacos de lixo chegam em forma de empréstimo com o Hospital Raul Sertã”, informou um dos funcionários. Na copa, por exemplo, a informação é a de que a geladeira está quebrada e só funciona como freezer, o que compromete o armazenamento dos alimentos. Como consequência, muitos funcionários afirmam ter tido problemas gastrointestinais, após se alimentarem na unidade.

As informações passadas à redação de A VOZ DA SERRA dão conta ainda que em toda a unidade não há ventilação suficiente, o que pode ocasionar problemas respiratórios nas gestantes e bebês. “Não há ar-condicionado. Somos expostos ao calor e temos que trabalhar em condições precárias. Também há equipamentos que se deterioram pela ausência de uma temperatura fria, podendo causar um curto circuito e gerar um incêndio de grandes proporções”, revelam.

Ainda segundo as denúncias, no setor do lactário (onde são feitas as dietas dos bebês), além da ausência de ventilação, o que compromete os alimentos destinados aos recém-nascidos, quando chove, há goteiras e o local fica com muita água umidade.

O setor de lavanderia também está comprometido. Isso porque a prefeitura não teria  realizou o pagamento à empresa Laco, de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, responsável por fazer a higiene das roupas. “O serviço de lavanderia continua sendo feito pela Laco, só que nesse momento a empresa não tem cumprido o contrato. Tem dia que não vem recolher a roupa e em outros, atrasa. Por isso, há dias em que faltam roupas hospitalares e algumas cirurgias têm que ser desmarcadas”, informou o vereador Johnny Maycon.

O parlamentar também constatou que muitas roupas eram entregues pela empresa com manchas de sangue o que o motivou, junto com o vereador Marcinho Alves, a fazer uma denúncia à Promotoria. “A empresa Laco, que foi contratada emergencialmente e presta o serviço, não está cumprindo com o que fora estabelecido no contrato. Em uma visita fiscalizatória ao Hospital Maternidade, foi flagrado roupas hospitalares que haviam acabado de chegar, e que obviamente deveriam estar limpas e higienizadas, completamente sujas. Os registros fotográficos ilustram o estado das roupas “lavadas”, dizia o documento. Para piorar, praticamente um lote inteiro de amaciante utilizado na lavanderia está com a validade vencida, segundo os registros feitos pelo parlamentar.

Histórico de problemas

No documento enviado à Promotoria, os vereadores informaram que após várias fiscalizações na maternidade, verificou-se uma série de irregularidades que evidenciavam o sucateamento do setor de lavanderia, tendo a sua estrutura física insalubre e equipamentos precários. “Quando a maternidade acumulou a responsabilidade de atender a demanda de lavanderia do Raul Sertã ficou sobrecarregada e consequentemente parte dos equipamentos não suportaram. Por esta razão, durante um período as roupas, tanto do Raul Sertã, como da Maternidade passaram a ser lavadas na clínica Santa Lúcia, sem ônus para a prefeitura, segundo informações obtidas através de apuração legislativa, tendo apenas a Secretaria de Saúde que fornecer o gás. Há de ressaltar que em meados de 2019 três setores da maternidade foram interditados pela justiça, dentre eles a lavanderia”, informou o documento.

“Vale registrar que se, pelo menos, uma das duas lavanderias, do Raul Sertã ou da  Maternidade, estivesse funcionando, uma poderia absorver a demanda da outra, no entanto, esta prefeitura ão se planejou para resolver uma questão simples como essa”, continuou o documento.

Quando a Santa Lúcia deixou de lavar as roupas do Raul Sertã e Maternidade, o Hospital Serrano assumiu a responsabilidade, segundo o documento “sem qualquer formalidade contratual, ou seja, acordo verbal sem que houvesse sequer concordância de valores a serem cobrados”.

Com isso, neste momento tramita na prefeitura o processo administrativo 15603/2019 no qual o Hospital Serrano cobra RS 731.110,48 referente a prestação do serviço de lavanderia do período de abril a início de agosto de 2019. “Para cada quilo de roupa lavada, estão sendo cobrados R$ 20,80”.

O que diz a prefeitura

A prefeitura informou, em nota, que as enfermarias encontram-se com o ar condicionando funcionando e com manutenção preventiva em dia, com exceção da enfermaria de alto risco que aguarda peças para reposição. Os ambientes possuem ar condicionado, já que ventiladores não são permitidos em ambiente hospitalar.

A nota informa também que já foi providenciado o reparo do banheiro. O processo de aquisição de papel toalha está em fase de cotação. O refeitório está temporariamente funcionando no auditório, devido a interdição ocorrida em junho de 2019, para que se possa dispor de um local adequado para continuar fornecendo alimentação aos funcionários e acompanhantes, pois não se dispõe de espaço físico. A obra da cozinha/refeitório já teve sua licitação concluída e está em fase de empenho e posterior assinatura de contrato com a empresa vencedora. A prefeitura esclarece ainda que as fortes chuvas recentes causaram danos ao telhado e que já existe processo licitatório para os reparos. 

“Cabe ressaltar que os alimentos (leite) são armazenados sob refrigeração até o momento de distribuição. Dispomos de virkon, álcool 70%, e hipoclorito a 1%, ou seja produtos saneantes. Em relação a sacos de lixo, a Secretária de Saúde fornece os referidos, bem como outros insumos para serem utilizados por toda a rede municipal”, informa a nota.

A prefeitura também eclareceu que já efetuou o pagamento à empresa responsável pela lavagem e higienização das roupas. O pagamento foi realizado e o serviço esta sendo normalizado. Em relação aos amaciantes vencidos, o hospital desconhece a denúncia, pois  a lavanderia encontra-se interditada. “Quanto as roupas entregues pela referida empresa, informamos que a mesma foi notificada pela direção da maternidade à gestora do contrato, sendo tomadas as providências cabíveis”. A nota, no entanto, não informou a respeito do alvará de funcionamento, exigido pelo Corpo de Bombeiros. 

 

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TAGS: saúde | Governo