Friburgo perde o empreendedorismo e a simpatia de Julio Ismério

Ex-garçom chegou a fundar quase 20 restaurantes na região, todos referência, em mais de 60 anos de profissão
sexta-feira, 04 de dezembro de 2020
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Julio Ismério em 2017:
Julio Ismério em 2017: "Uma coisa que nunca vou deixar de ser é garçom" (Foto: Henrique Pinheiro/Arquivo AVS)

Como mostrou A VOZ DA SERRA numa reportagem publicada em 2017 em homenagem ao Dia dos Garçons, com quase 80 anos Julio de Souza Ismério já estava pronto, às 2h da manhã, para mais um dia de trabalho. “Folga? Só no dia de Natal”, contou o empresário,  um ex-garçom que, em mais de 60 anos de profissão, chegou a fundar quase 20 restaurantes na região.

Três desses estabelecimentos funcionam até hoje: as churrascarias Quinta Rica e Tozzoni, além do “quilo” Varandão, este sob nova direção. Mas teve muitos outros que viraram ponto de encontro dos friburguenses, como a famosa Cantina do Julio, nos anos 80.

Nascido em dezembro de 1937, Julio era de Cantagalo, mas foi em Nova Friburgo que começou sua carreira, criou seus filhos e netos e conquistou uma infinidade de amigos. Não é à toa que seu grupo de empreendimentos chama-se “Amigos do Julio”. Três filhos e um neto passaram a administrar o negócio.

Negócio que Julio não abandonava nunca. Fosse servindo petiscos quentinhos, cuidando da reposição dos alimentos no self-service, indo de mesa em mesa para saber se estava tudo bem,  ou recebendo pessoalmente os clientes, com a simpatia de sempre. “Já passei todos os restaurantes para a próxima geração da família, mas continuo orientando. Uma coisa que nunca vou deixar de ser é garçom. Eu sirvo o freguês, atendo as mesas, faço sugestões. Enquanto eu puder, não vou parar. Máquina parada enferruja”, disse ele à jornalista Karine Knust.

Sua história foi a de um empreendedor nato. Começou a trabalhar aos 5 anos, na roça. Aos 12, veio para Friburgo em busca de uma vida melhor.  “Vim para cá muito pequeno, sozinho e não tinha onde ficar. Dormia no tapete de entrada da Sociedade Esportiva Friburguense. Ali fui encontrado por uma senhora italiana que me levou para a casa dela no meio da madrugada e me deu um prato de comida. A partir daquele dia, as coisas começaram a mudar. Ela fez um trato comigo: me dava o que comer e, em troca, eu limpava e encerava os salões onde funcionavam o restaurante e os bailes da Sociedade. Ali tive o meu primeiro contato com a profissão de garçom”, relembrou um Julio grato e  emocionado.

O primeiro trabalho oficial como garçom foi em 1951, aos 14 anos, no extinto Bar Universal. E não demorou muito para que ele se destacasse. Aos 21 anos, começou a administrar negócios. “O meu ex-patrão, Bartolomeu, foi quem me deu a primeira chance de estar do outro lado do balcão. Ele me deu a responsabilidade de tomar conta da Majórica. Fiquei administrando o restaurante por um tempo até que tive a chance de ser dono”, contou.

Julio faleceu na madrugada desta sexta-feira, 4.  O corpo está sendo velado no Memorial SAF. A equipe de A VOZ DA SERRA, igualmente enlutada, se solidariza com os familiares e amigos de Julio Ismério neste momento de dor.  Em breve, mais informações. 

 

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