Friburgo em 2021 e 2022: do caos à volta por cima

Nos últimos 15 meses, até zerar leitos de Covid, cidade passou por bandeiras de todas as cores, até roxa, toque de recolher, superferiadão, barreiras sanitárias e rodízio de CNPJs
sexta-feira, 25 de março de 2022
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
Lojistas protestam contra o rodízio de CNPJs em abril de 2021 (Fotos de Henrique Pinheiro)
Lojistas protestam contra o rodízio de CNPJs em abril de 2021 (Fotos de Henrique Pinheiro)

Na terceira e última reportagem da série sobre os dois anos de pandemia em Nova Friburgo, A VOZ DA SERRA relembra como foram os anos de 2021 e 2022 até o presente momento, em que a cidade já respira sem máscaras e os leitos de Covid em todos os hospitais estão vazios. 

No fim de semana retrasado A VOZ DA SERRA relembrou como foi o mês de março de 2020 (veja a reportagem aqui), quando foi decretada mundialmente a pandemia e Nova Friburgo começou a vivenciar as primeiras medidas restritivas para o combate a uma doença nova, que ninguém conhecia. Na época, não havia ainda casos confirmados de Covid-19 na cidade, apenas cerca de 50 suspeitos. O primeiro caso positivo só seria anunciado no fim daquele mês.

No fim de semana passado, o jornal relembrou o restante do ano de 2020 (veja a reportagem aqui), quando os friburguenses se trancaram dentro de casa, descobriram o home-office, viram muitos negócios fecharem (isso quando eles próprios não amargaram prejuízos)  e passaram a ter a rotina regulada por sucessivos decretos e um sistema de bandeiras com múltiplas cores. 

Nestes últimos 15 meses de 2021 e 2022, até zerar a ocupação de leitos de Covid-19 em todos os hospitais, os friburguenses enfrentaram um cotidiano regulado por bandeiras de todas as cores,  incluindo a temida roxa,  toque de recolher, um lockdown disfarçado de superferiadão e barreiras sanitárias nas estradas. Até aqui, sobrevivemos. Relembre:

Janeiro de 2021: mais de 200 casos em 24h

Em seu primeiro ato como prefeito, ainda sob a bandeira vermelha decretada por Renato Bravo, Johnny Maycon anuncia  mais leitos  no Raul Sertã para instalar os 30 respiradores que o município recebeu do Ministério da Saúde durante a  transição de governo. Com a pandemia explodindo em Manaus por causa da variante P1, começa em Friburgo o planejamento da vacinação. Com 233 óbitos e mais de 7 mil casos confirmados,  bandeiras vermelhas se sucedem - foram oito semanas seguidas. Um novo Comitê Operativo de Emergência (COE) contra a Covid é criado.  Com hospitais à beira da saturação, Johnny Maycon decide endurecer as regras de flexibilização da economia, fechando bares, mas liberando academias até na bandeira roxa. Indústrias e comércio também sofrem mais restrições. No dia 19, enquanto os primeiros friburguenses são vacinados, a ocupação de leitos totais para Covid no Raul Sertã chega a 100% e Friburgo registra recorde de 217 novos casos de coronavírus em 24 horas, além de mais dois óbitos. Frente de empresários vai ao prefeito pedir ajustes, para evitar o colapso da economia. A prefeitura intensifica a fiscalização: em  cinco dias, força-tarefa interdita 13 estabelecimentos. Quadruplica a quantidade de motoboys em Friburgo. A prefeitura anuncia carnaval totalmente online.

Fevereiro: bandeiras laranja e amarela

Depois de oito semanas em bandeira vermelha, Friburgo tem bandeira laranja, de risco “moderado”. Com 2 mil friburguenses vacinados com a primeira dose, a bandeira muda para amarela por duas semanas e encerra o mês de novo em laranja. Decreto municipal torna a educação essencial e autoriza a retomada das aulas presenciais a partir de março. Em menos de um ano de pandemia, Friburgo bate dez mil casos de coronavírus e 299 mortes. 

Março: toque de recolher, superferiadão e barreiras sanitárias

A cidade volta à bandeira vermelha, impedindo a volta das aulas presenciais. Por novo decreto, restaurantes fecham mais cedo, às 20h, e bares passam a funcionar só com delivery. Diante de tantas mudanças, que deixam a população confusa, a prefeitura explica em Diário Oficial os critérios para a aferição das bandeiras. O Estado do Rio sanciona o auxílio emergencial de R$ 300. Friburgo volta à bandeira laranja, liberando shows musicais pela primeira vez desde o início da pandemia, mas na semana seguinte regride,  voltando à bandeira vermelha. Escolas particulares que retomaram as aulas presenciais de forma híbrida as suspendem de novo. Friburguenses buscam vacina na capital. Um  aumento de 30% na procura por atendimentos de saúde leva o governo do estado a endurecer as restrições, impondo toque de recolher das 23h às 5h da manhã. Após muita polêmica, Friburgo volta à bandeira laranja. Johnny Maycon usa redes sociais para assegurar que critérios são técnicos, e não políticos, e refutar pressões. O prefeito anuncia barreiras sanitárias nas estradas de acesso. A Alerj aprova e o governo do estado sanciona um  “superferiadão” de dez dias na Páscoa, em todo o estado.  A prefeitura decreta toque de recolher e barreiras sanitárias nas estradas, reconhecendo “o momento mais crítico da pandemia”. O superferiadão é desmembrado, valendo a bandeira laranja  de sexta a domingo e regras mais rígidas na semana seguinte, com toque de recolher em horários diferenciados. Friburguenses fazem protesto em frente à prefeitura contra o lockdown. A Defesa Civil usa sirenes de áreas de risco para fazer alertas sobre a Covid. A cidade  encerra o mês com mais de 4 mil pessoas vacinadas.

Abril: Rodízio de CNPJs e fim das bandeiras

Pela primeira vez em mais de um ano de pandemia, Nova Friburgo entra em bandeira roxa, de “risco muito alto” de contágio. No mês mais letal da pandemia, o movimento “Mais Comércio” mobiliza as redes sociais com a promessa de abertura de lojas “na marra” e consegue um abrandamento das regras. Após cinco horas de reunião com representantes do COE, da Câmara, do Conselho Municipal de Saúde e da Defensoria, Johnny Maycon anuncia rodízio de CNPJs na cidade. As UTIs superlotam e o Raul Sertã ganha nova ala Covid. Friburgo registra recorde de 216 novos casos e 5 óbitos em 24 horas. Mesmo com mais leitos, taxa de ocupação sobe. Muito criticado por gerar confusão e aglomerações, o rodízio de CNPJs é revogado, assim como o sistema de bandeiras.

Maio:  Maior flexibilização

Mais um decreto flexibiliza ainda mais as atividades comerciais e industriais no município. Pontos turísticos são reabertos, hotéis e pousadas ampliam a capacidade, assim como a indústria e o comércio em geral. Escolas municipais começam a ser adequadas ao retorno presencial.

Junho:  Vacinação ainda lenta

A vacinação avança, embora mais lentamente do que em outras cidades. Escolas estaduais retomam ensino presencial na modalidade híbrida. Casos totais chegam a 20 mil e óbitos, a quase 700.

Julho, agosto e setembro: Dia D e xepa da vacina

O prefeito troca equipe de Imunização para acelerar o processo e lança cronograma para vacinar a população em geral até 44 anos. Levantamento mostra que, em três meses, mortes por Covid caíram mais de 80% em Friburgo: do início de abril ao início de julho, o número de óbitos semanais baixou de 32 para seis. O primeiro Dia D contra a Covid vacina mais de três mil friburguenses em um único sábado. A xepa da vacina é liberada. Quase 120 mil friburguenses já estão vacinados. Primeiro caso da variante Delta é confirmado no estado, em Itaboraí.

Outubro: Taxas finalmente melhoram

Com quase 60% do público-alvo vacinados, Friburgo  registra a menor taxa de ocupação de UTIs do ano: 5,40%.  A média móvel de 14 dias de novos casos chega ao menor valor desde junho de 2020, assim como  a média móvel de óbitos e a média móvel de sete dias de internados.  O estado retoma as aulas presenciais, enquanto o município segue com o modelo híbrido. A Alerj aprova a flexibilização do uso de máscaras em todo o estado. A ocupação de leitos de enfermaria fica zerada pelo segundo  dia seguido.

Novembro e dezembro: 12 dias sem mortes por Covid

Taxa de ocupação de leitos para Covid baixa mais ainda em Friburgo,  com apenas um paciente internado em enfermaria e outro em UTI. Friburgo atinge 80% da população vacinada com a primeira dose. Novo decreto autoriza escolas municipais a funcionar com 100% da capacidade. A cidade chega a 84% da população-alvo imunizada e soma 12 dias sem mortes por Covid. O estado registra, na capital, o primeiro caso da variante Ômicron.

Janeiro de 2022: Mais de mil testes por dia

O primeiro boletim da Covid do ano mostra todos os leitos zerados em Friburgo,  tanto de enfermarias quanto de UTI, em todos os hospitais da cidade. Diante da ameaça da Ômicron, a  prefeitura cancela o carnaval e  anuncia que a festa popular será  em maio, junto com o aniversário da cidade.  Após um mês e um dia sem mortes por Covid, Friburgo volta a registrar apenas um óbito pela doença: paciente de 79 anos e com comorbidades estava na UTI do Raul Sertã e tinha tomado duas doses da vacina. A procura por testes passa de mil por dia.

Fevereiro: Eventos sem limite de público

Às vésperas do feriadão de carnaval com folia proibida nas ruas, Friburgo libera eventos sem limite de público. Não há festa nas ruas, mas bares e eventos particulares lotam.

Março: Máscaras liberadas

Diante de “cenário epidemiológico estável”, com 96% do público-alvo imunizados, a prefeitura libera o uso de máscaras em locais abertos e, uma semana depois, também em fechados de Nova Friburgo. Os pontos de testagem são reduzidos a apenas um, na Praça do Suspiro. O CT da Via Expressa é desativado. A cidade beira 30 mil casos e mil mortes.

 

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