De Nova Friburgo para Londres e Paris, com caimento perfeito. Estudante do Externato Santa Ignez, a estilista e designer
Renata Estefan, hoje com 32 anos, passou em primeiro lugar no vestibular para a faculdade de moda do Rio - no caso, a do Senai Cetiqt. De lá, conseguiu bolsa para a pós-graduação na Central Saint Martins of Arts and Design, em Londres, a “fábrica de gênios” de onde saíram nomes como John Galliano, Steve McQueen e Stella McCartney.
“Aos 13 anos fiz francês já dizendo à minha mãe que era para ser diretora da Chanel”
O convite para estudar na escola de moda mais prestigiada do mundo partiu da própria diretora e professora Louise Wilson, que se encantou pelas criações da jovem friburguense, então com 20 e poucos anos. Louise, no entanto, morreu logo depois, em 2013, sem terminar a missão de formar pessoalmente mais uma talentosa aprendiz - a primeira e única brasileira no curso de mestrado da Saint Martins.
Renata, que já desfilou suas criações nas passarelas oficiais da London Fashion Week, está agora saindo da Hermès e acaba de assinar contrato com a Louis Vuitton, em Paris. Duas grifes rivais até a última casa de botão. As duas marcas disputam a tapas os maiores talentos da indústria da moda, e seus acionistas - Axel Dumas e Bernard Arnault - medem forças entre si. A estilista conta que passou por duas longas entrevistas, ambas com diretores recém-contratados, vindos da Dior.
Descendente de libaneses, fundadores da antiga Casa Primavera em Friburgo, Renata concedeu À VOZ DA SERRA, de Paris, a entrevista abaixo, enquanto terminava os preparativos de seu último desfile interno na Hermès.
AVS: De onde vem sua paixão pela moda?
RENATA STEFAN: Eu sempre fui fascinada pelas fotos da minha família no século 19 e 20, onde eu via minha tataravó, bisavó e avó tão elegantes. Eram muito muito clássicas, muito chiques todas elas. Usavam tailleur, tudo sob medida e roupa de linho. Desde pequena eu sonhava ser estilista e sonhava vestir mulheres como elas. Para mim, o que me deixa apaixonada pelo meu trabalho é poder criar através das minhas roupas um personagem. E o meu personagem é uma mulher elegante que aprecia acima de tudo o luxo atemporal, peças que vão atravessar gerações, que não seguem tendências, que foram feitas com bom gosto, refinamento e sensibilidade.
Quanto tempo esperou por uma oportunidade como essa, de trabalhar em grifes tão famosas?
Desde criança eu me preparo para realizar esse sonho. Estudei francês na Aliança Francesa em Friburgo com 13 anos já dizendo à minha mãe que era para ser diretora da Chanel.
Qual é exatamente a sua função na Louis Vuitton?
Eu acabei de assinar meu contrato com a Louis Vuitton Paris como estilista Prêt à Porter Femme da linha Iconics Heritage. É a linha de roupa mais conceituada da marca. Se trata de peças que passam de geração a geração, que estão nas campanhas e nos desfiles. É uma bela equipe, somos cinco designers. Estarei diretamente ao lado da diretora criativa Jane Whitfield, que trabalhou anos como diretora da Dior, e ao lado de designers que vieram de marcas como Valentino e Prada.
Qual o maior obstáculo que enfrentou até agora?
O maior desafio de toda minha trajetória foi conseguir provar que o que eu gostaria de criar merecia ser valorizado. Eu estudei minha pós e meu mestrado na Central Saint Martins, na Inglaterra, a faculdade de moda mais exigente do mundo. E eles apreciam criações conceituais, inventivas, inusitadas. E tudo o que eu queria fazer era um lindo par de calças bem cortado. Eu queria o belo. O bem feito. E ponto. Em outras palavras, eu gostava do elegante, enquanto o mundo à minha volta queria ver o louco. Um outro desafio é que eu estou concorrendo com pessoas que estudaram desde pequenas na Europa, nasceram na Europa, possuem todos os benefícios legislativos e preferência diante do empregador. Eu preciso então fazer muito além e muito mais sempre, para provar que vale a pena me contratar.
Como foi ter sido escolhida como pupila por Louise Wilson, conhecida por formar as maiores estrelas da moda?
Meu sonho era estudar com ela. Ela me deu a vaga. E morreu no ano em que eu ia começar. Toda a minha vida adulta no Brasil eu passei me dedicando para estudar com ela. Quando ela morreu, eu estava em Friburgo, indo para um jantar. Não consegui nem comer. As pessoas me ligavam da Inglaterra, os diretores da escola, porque sabiam que eu era apaixonada por ela e ela, pelo meu trabalho.
O que foi fundamental para você chegar aonde chegou?
O apoio incondicional dos meus pais, Rogério Estefan e Lia Cristina de Moraes, que não mediram esforços para me ajudar. Lembro das noites em que passaram acordados comigo, minha mãe tocando violão para mim e meu pai consertando minha máquina de costura porque eram quatro da manhã e eu não havia acabado o projeto que era para o dia seguinte. Por fim, minha fé em Deus e muita resiliência. Nunca duvidei: quem não desiste alcança.
Pode dar um exemplo dessa sua persistência?
Como brasileira, eu era uma das únicas alunas de minha turma no mestrado sem patrocínio. Não tinha mais dinheiro para comprar meus tecidos, que eram caros. Então comentei com os professores que estava disposta a pedir ajuda a Stella McCartney, que eu soube ser uma pessoa boa. Você está maluca! Isso é impossível, muito difícil, disseram. Mesmo assim, mandei um email para a assistente dela explicando como era a minha coleção. Realmente, não tive resposta. Mas, no dia seguinte, recebi em minha casa uma encomenda. Eram rolos e rolos de tecido com um bilhete: “Continue com o bravíssimo trabalho. Com amor, Stella”.
Quais seus principais desafios a partir de agora?
Dar à minha equipe o que ela precisa, no nível e no tempo em que ela precisa. E continuar achando caminhos para, ao mesmo tempo em que luto pelos sonhos de carreira no exterior, eu possa estar perto da minha família e vivendo com eles os momentos que fazem a vida valer a pena.
E seus sonhos, suas metas?
Eu estou saindo da Hermès para ser estilista na Louis Vuitton, e isso é um verdadeiro sonho realizado. Duas marcas que eu admiro e me conecto em termos de estilo e valor. Mas quem me conhece sabe que sempre tive um grande sonho no meu coração, que nasceu comigo, para o qual não acho nenhuma lógica e explicação, que é dirigir a Chanel.
Veja, na galeria de fotos abaixo, a última coleção desenvolvida por Renata Estefan. E mais em: www.renataestefan.com/
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