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O legado de um Papa que dialogava com o mundo: o impacto de Francisco em Nova Friburgo

Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
A recente morte do Papa Francisco marca o fim de um pontificado que ficará registrado na história como um dos mais ousados, autênticos e transformadores da Igreja Católica. Desde sua eleição em 2013, Jorge Mario Bergoglio se destacou por romper protocolos, aproximar-se dos mais pobres e por abordar temas considerados tabus com uma abertura rara entre os líderes da Igreja.
Seu papado foi marcado pela empatia, pela coragem de enfrentar questões polêmicas e pela defesa intransigente da dignidade humana. Francisco falou de forma clara sobre temas como meio ambiente, desigualdade, migrantes, violência, abuso sexual dentro da Igreja, inclusão de pessoas LGBTQIA+ e o papel das mulheres.
Mesmo dentro de uma instituição tradicional, seu discurso foi permeado por uma linguagem de acolhimento, de escuta e de respeito. O Papa argentino foi, acima de tudo, um pontífice do diálogo: entre religiões, entre nações, entre diferentes visões de mundo. Um Papa do encontro.
Seu impacto transcendeu a esfera religiosa, atingindo positivamente inclusive pessoas de religiões distintas e até mesmo as sem religião. Em um mundo crescentemente polarizado pela política, Francisco tornou-se uma voz que clamava por moderação, solidariedade e paz.
Brasil: A Jornada Mundial da Juventude
Um dos momentos mais marcantes do início de seu pontificado foi sua visita ao Brasil em julho de 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro. Foi a primeira viagem internacional de Francisco como Papa, e nela já se evidenciava o tom pastoral e humano que marcaria seu papado.
A viagem antecipou temas de seu pontificado, como a postura pastoral de acolher as minorias historicamente excluídas pelo catolicismo. No voo de volta ao Vaticano, concedeu uma então incomum entrevista coletiva espontânea a bordo do avião — prática que depois seria recorrente.
Respondendo a um jornalista, disse que ser homossexual não deve ser entendido como pecador, mas os atos sim. "Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse Francisco, em uma frase que virou um dos marcos de seu papado. Frente a uma instituição historicamente ligada à Inquisição, ele foi o primeiro pontífice a falar publicamente sobre acolhimento e inclusão.
Ao trocar o papamóvel fechado e blindado por um carro comum, um Fiat Idea, e se misturar à multidão, ele demonstrava seu desejo de proximidade com o povo. Durante o evento, que reuniu mais de três milhões de jovens na praia de Copacabana, Francisco falou sobre a importância da juventude na renovação da Igreja e na transformação do mundo.
Incentivou os jovens a “fazer bagunça” — no sentido de questionar estruturas injustas, provocar mudanças e se engajar na sociedade com coragem e fé. A mensagem teve grande repercussão no Brasil, especialmente entre jovens católicos e educadores, influenciando muito a maneira como a Igreja vem se comunicando com as novas gerações.
Esse encontro também reforçou a ideia de que a fé pode e deve dialogar com os desafios contemporâneos, aproximando a religião da vida concreta das pessoas. Sua presença no Brasil reanimou comunidades católicas, fortaleceu pastorais da juventude e influenciou diretamente o modo como muitas instituições educacionais passaram a tratar temas sociais, políticos e ambientais com mais abertura e protagonismo juvenil.
Mas nem só de seriedade foi construída a relação próxima entre Francisco e o Brasil. Nas costumeiras interações com os fiéis durante os eventos realizados no Vaticano, os brasileiros ganharam a atenção especial de Francisco, com um tom leve e descontraído. Em 2021, um padre paraibano lhe pediu que rezasse pelos conterrâneos. "Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração", brincou o argentino.
Influência em Nova Friburgo
Em Nova Friburgo, cidade com tradição católica expressiva, seu legado pode ser percebido em diversas camadas. Culturalmente, a cidade abriga festas religiosas tradicionais, igrejas centenárias e uma população em que a espiritualidade tem papel importante.
O discurso mais humano e acessível de Francisco ressoou em diversos lugares, abrindo espaços para diálogos que antes pareciam impensáveis dentro da Igreja. Isso facilitou uma maior comunicação entre família, escola e as paróquias locais. Mas foi nas instituições de ensino católicas que sua influência se concretizou de maneira mais evidente.
Os tradicionais colégios religiosos de Nova Friburgo, que têm papel destacado na formação de crianças e adolescentes, adaptaram seus projetos pedagógicos para refletir os valores propagados por Francisco à juventude, tais como a solidariedade, cuidado com o outro, escuta, sustentabilidade e respeito à diversidade.
A escolha de um novo Papa levanta, agora, questionamentos sobre os rumos da Igreja e sobre a continuidade ou não dessas diretrizes nas escolas e como um intermediador entre os mais velhos e os mais jovens. Para Nova Friburgo, fica o desafio e a esperança de que esse legado de acolhimento, diálogo e humanismo permaneça vivo.
Mais do que um líder religioso, Francisco foi um exemplo de escuta ativa e de liderança comprometida com os que mais precisam. Assim fica o legado, do mais brasileiro dos papas.

Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
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