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Geração Canguru: presos nas casas dos pais
Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
Sair de casa dos pais é um marco importante e marcante de nossas vidas. Buscar a independência pessoal, seguir o próprio caminho. Sair para estudar fora, para trabalhar, para viver sozinho ou constituir uma família. As vezes, de forma repentina deixando um ar de saudades. E alguns, deixam o lar gradualmente, sempre presente para filar aquele almoço ou lavar uma muda de roupa suja.
Pelas mais diversas razões, muitas delas boas razões, há quem escolha fazê-la mais tarde e fique vivendo com os pais mesmo depois de ingressar no mercado de trabalho e ter até um bom salário. A lógica de caminhar com as próprias pernas tem ficado para trás, e vem dando espaço à chamada "Geração Canguru".
‘Geração Canguru’ é o nome dado ao grupo de jovens entre 25 e 34 anos que têm adiado a saída da casa dos pais. Trata-se de uma tendência em ascensão no mundo, mas que se reafirma ainda mais na América Latina, e em especial no Brasil. Embora, parte desses adultos já trabalhe, morar só ainda não é uma opção.
Afinal, qual é a hora certa de ir embora da casa dos pais? Essa pergunta ganhou novos contornos em função da pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos. Os motivos que mantém esses jovens presos ao ninho são diversos: mais anos se dedicando aos estudos, o custo alto de vida, os baixos salários em início de carreira e os fatores emocionais.
Estudos realizados pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que se há 12 anos, um a cada cinco jovens ainda residia com seus progenitores, essa proporção agora aumentou: um a cada quatro ainda vive com os pais, sendo maior parte, homens e residentes no Sudeste, onde o custo de vida é o mais caro do Brasil, especialmente nos grandes centros.
O estudo aponta ainda que os jovens que moram com os pais tendem a ser mais escolarizados do que aqueles com a mesma faixa etária que moram sozinhos. Com mais anos de dedicação aos estudos nas faculdades e nos concursos públicos, a juventude cada vez começa suas atividades profissionais mais tardiamente e consequentemente, mais tardiamente se estabelece no mercado de trabalho.
O que se percebe é que para muitos jovens realmente é difícil conciliar trabalho, estudo e, ainda, ter uma casa para cuidar com todas as responsabilidades embutidas. As prioridades dos jovens também estão mudando. Muitos preferem gastar com viagens do que pagar aluguel, outros investem em bens de consumo.
Ao contrário do pensam, morar com os pais não está necessariamente atrelado a estar desempregado. O mais inquietante é que grande parte dos jovens não estão mais tendo mais a escolha de morar só nos dias atuais. Para muitos é uma necessidade. Até que enfim... consigam se estruturar financeiramente e seja capazes de arcar com os gastos de uma casa, sozinho.
Estamos lidando com uma mudança geracional, e isso é inegável. Hoje, ao contrário da realidade dos anos 90, os adultos não se casam tão cedo. Casamento que na vida de muita gente, marcou um divisor de águas entre a meninice e as responsabilidades. Hoje, a vida matrimonial tem sido deixada para escanteio e o foco se tornou a vida profissional, as experiências de vida e viver com menos responsabilidades.
E há quem tenha insegurança, o medo dos desafios da vida adulta, de crescer e lidar com as responsabilidades. A incapacidade de crescer e adquirir comportamentos visto como adultos. Para muitos, está atrelado à Síndrome de Peter Pan, em que muitos adultos querem viver a vida sendo verdadeiras crianças. Será?
Há ainda quem fale sobre a Síndrome do Ninho Vazio, em que os pais que antes tinham como principal responsabilidade cuidar dos filhos, se veem livres dessa obrigação e geram um período de luto e tristeza. E para evitar que isso aconteça, não pressionam seus filhos a saírem de casa, para sempre, terem a proteção de ter quem amamos debaixo das nossas asas.
Os jovens tem se preparado mais para sair de casa e evitar as dificuldades financeiras da vida cara ou apenas acabam se acomodando debaixo das asas dos pais? Os jovens adultos estão menos preparados para o mundo e vivem como crianças ou os pais que cada vez mais querem ter os filhos por perto? Ou simplesmente, o mundo mudou?
Fato é que a música da dupla Zezé di Carmago & Luciano, sucesso sertanejo, que fala da dor dos pais em ver seus filhos indo embora: “mas ela sabe que depois que cresce, o filho vira passarinho e quer voar (...)” , está cada vez mais perdendo o sentido. A geração de passarinhos que fogem da gaiola se transformou na conhecida Geração Canguru.
Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
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