Contrapontos

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Ao ler o conto de Antônio Carlos Vianna, “Dona Katucha”, do seu livro de contos
“Jeito de Matar Lagartas”, Companhia das Letras, eu me deparei com algumas
questões relevantes sobre o envelhecer, a etapa da vida que evolui para a morte,
processo inevitável e implacável. É caracterizada por transformações corpóreas e
mentais degenerativas, que tocam as emoções, a cognição, a sexualidade e a
espiritualidade não somente daquele que envelhece, mas das pessoas que com ele
convivem. É contextual por mais solitário que o sujeito seja.
Dona Katucha quer se manter eternamente jovem, possuindo dificuldades em
aceitar o momento fronteiriço que está vivendo. Os anos de envelhecimento
contornam o tempo de vida e delineiam a finitude. O envelhecimento e a morte fazem
parte da vida saudável. Mas o que seria de nós caso a morte não existisse e fôssemos
eternamente adolescentes? Quanta inteligência criativa Oscar Wilde teve para
escrever “O Retrato de Dorian Gray”! Será que Antônio Carlos Vianna se inspirou nessa
obra universal e inquestionável?
Ao ler o delicado trabalho da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, médica
especialista em Cuidados Paliativos, em seu livro “A Morte é um Dia que Vale a Pena
Viver”, editado pela Casa da Palavra, eu me pus a refletir sobre a vida. O
envelhecimento e a morte nos remetem à vida, que é soberana nas etapas existenciais
pelas quais passamos, mesmo no momento da morte. É plena pelas incontáveis
possiblidades que temos para experimentar as circunstâncias nas quais estamos
inseridos.
As biografias! A dos que participaram, de algum modo, da construção das
civilizações, como Nelson Mandela, Charles Chaplin e Santo Agostinho. Por que
também não falar de Rita Lee? Quando o indivíduo mergulha em suas ideias e
vontades toca a vida de muitos e move seu destino pelos seus esforços e talentos. Não
é necessário nascer em berço de ouro. É preciso fortalecer os tesouros guardados em
nossas células.

Viver a vida é superar o medo de ser feliz. E de sofrer. O sofrimento e a felicidade
são dualidades intrínsecas à existência. Se as emoções são únicas, tão particulares
quanto as impressões digitais, o envelhecer é individual. Se podemos ter em mãos o
livre arbítrio, decidimos nosso modo de viver, mesmo nas situações em que não
podemos ter escolhas. Eis, portanto, a sabedoria que construímos nos anos vividos,
que nos aponta para formas de enfrentamento e superação. A inteligência e a
criatividade são nossas parceiras, embora nem sempre utilizadas.
Ah, as palavras de Rainer Maria Rilke, devem ser guardadas em mesinhas de
cabeceira para que possamos ter coragem para enfrentar a vida, em todos seus
mistérios, desafios, tristezas e maravilhas. Posto que a todo instante é preciso tomar
decisões e agir. Fazer algo. O viver sem bravura e perseverança é o mesmo que ter a
vida e não conseguir vivê-la com méritos.
O processo de viver é desencadeado pelas relações de causas e consequências. O
envelhecer é resultado de como vivemos épocas passadas, do modo como ocupamos o
espaço na família, nas comunidades, no trabalho e nas relações amorosas e sociais. A
maneira como ocupamos os espaços é essencial para o nosso equilíbrio físico,
cognitivo, emocional e espiritual. Quando o buscamos com plenitude, estamos
inteiros, dialetizando, a mente, o corpo, as emoções e a espiritualidade.
O envelhecer nos é inquietante!

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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