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Sobre dizer não
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Há quem se dói por inteiro ao ter que dizer um “não”. É verdade. Acontece. Sofre-se a ponto de não conseguir fazê-lo. Atravessar essa barreira quase intransponível entre ceder e selecionar pode ser grandiosa missão. E, realmente, é muito para alguns. Para o mundo, “sim”. Para os outros, “sim”. Para si mesmos, quase nada. Dão-se demais. Além do que se pode. Assume-se coisas demais por fazer, peso demais para suportar. Porque negar, desagradar, limitar, é difícil demais.
Não tem tempo. Não tem energia. Não se satisfaz com suas escolhas. Para cada tarefa nova assumida, um sonoro “não” que intimamente ouvia e que apenas a própria pessoa sabe. E então se pergunta se seria uma patologia não conseguir negar um pedido de alguém. Sente-se incapaz de recusar alguma situação, de esquivar-se de fazer algo quando vai além de seu propósito, de sua capacidade e de sua energia. Não sabe andar até o limite do alcance de suas próprias pernas.
Quem sofre de não saber dizer “não”, sabe o peso gerado pelo acúmulo de afazeres assumidos. Seria bom que entendessem de uma vez por todas que impor limites, selecionar tarefas, negar pedidos, pode ser algo absolutamente normal. Muitas pessoas estão sobrecarregadas justamente por não conseguirem respeitar seus limites e assumir menos do que o mundo exterior demanda deles. Desde as pequenas coisas às grandiosas. Desde futilidades às funções elementares.
Um dia, a vida – a mais sábia dos sábios, de alguma maneira cuida de ensinar que para cada “não” sentenciado, pode se abrir a porta para inúmeros “sim”. Que caminhos podem se abrir quando se tem tempo para pensar sobre as rotas, sobre em qual lugar se deseja efetivamente chegar. Sabe a sensação e parar de andar em círculos e evoluir adiante? Acontece para muitas pessoas.
A vida é feita de escolhas sob muitos aspectos, talvez aprender a escolher, a impor limites, a respeitar sua própria capacidade (inclusive de discernir o que deve e o que não deve, o que pode e o que não pode, o que quer e o que não quer) pode ser algo de muito bom. Deixar de ser marionete e se tornar protagonista da própria vida, sabe?
Bem, são ilações. Pensamentos soltos. Mas que podem fazer sentido para alguém. Literatura tem disso. Quem lê expande horizontes sentado à sua poltrona. E você, tem tido tempo para ler? Talvez, uma sábia decisão seja investir no autoconhecimento e refletir sobre o que deveria fazer por obrigação de trabalho. O que deveria fazer por amor. O que deveria fazer por missão de civilidade. O que fazer por prazer. Por propósito. Por cooperação. Por humanidade. Ou por necessidade. Ou pelo querer. Separar o joio do trigo. E eliminar excessos.
Dizer sim para tudo não te faz a pessoa mais legal do mundo. Saber se impor dentro dos seus critérios de ética e utilidade é um processo de superação de valor inestimável. Quem tem esse perfil de querer dizer “sim” para tudo e todos talvez entenda o sofrimento que pode existir por trás dessa característica. A sobrecarga, o peso, o arrependimento, a culpa pela imperfeição, o acúmulo de tarefas, a falta de tempo são consequências dessa incapacidade de delimitar limites, e aqui me permito a redundância das palavras.
Ao aprender, a dizer necessários “nãos” para certas coisas pode-se estar escolhendo dizer “sim” para si mesmo.
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
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