Toda esperança do mundo

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Toda esperança do mundo caberia em uma seringa? Em um sinal de proteção e alívio? E eis que enquanto escrevia a coluna, recebi a informação de que tivemos a primeira pessoa vacinada em nossa cidade. Ufa! Mudei o rumo da prosa da semana. Óbvio! Como deixar de manifestar toda a esperança inerente à primeira agulhada tão perto de nós. Confesso que havia visto um helicóptero vermelho sobrevoando minha casa, quando tempos depois, soube que poderia ser ele a conduzir as doses de vacina para nossa região, senti-me emocionada. Sabe aquela sensação pueril, de infância, da criança que supõe ter visto o “trenó do Papai Noel no céu”? Pois bem. Foi uma sensação assim. Eu sei, a comparação não foi boa, mas o sentimento foi bom demais.

É claro que sabemos que é só o início de um processo longo. Complexo. Com muitas incógnitas. Temos plena consciência dos desafios grandiosos que seguem por vir. Mas toda vida importa. E cada sopro de esperança diante do caos, merece ser comemorado. O feixe de luz na escuridão significa a esperança de que tudo seja, num próximo instante, iluminado. E quem não quer a luz? Enxergar a saída do beco? Penso que a maioria de nós tem esse desejo, sobretudo diante de problemas aparentemente de difíceis soluções.

A experiência coletiva que vivenciamos no contexto pandêmico aliada às nossas experiências pessoais têm sido um desafio, para muitos, sem precedentes.  Dificílimo. Caminhamos por vezes sem saber o destino. Esperamos sem saber exatamente pelo quê. Agimos por impulso, por desespero, por medo. Deixamos de fazer coisas, ficamos inertes diante de uma série de situações. É realmente extremamente difícil lidar com o novo, sem cura, invisível, letal. Não nos ensinaram sobre isso em lugar algum. Estamos aprendendo na marra a enfrentar tudo isso em meio às demais crises que nos assolam no campo coletivo...crise política, econômica, social etc., e no campo individual...angústia, preocupação, doenças etc.

Não é fácil viver um dos capítulos mais importantes dos livros de história, biologia, estudos sociais, filosofia, química, matemática das gerações vindouras. Eu que trabalho com ciências jurídicas nas salas de aulas, já estou atravessando, profissionalmente, um desafio e tanto. Os contextos sensíveis e técnicos aglomerados demandam ainda mais estudo, responsabilidade e empatia.

 Diante de tudo isso, qualquer lampejo comprovadamente eficaz para manejarmos nossas expectativas e nos aproximarmos tanto quanto possível de uma vida habilitada ao “novo normal” emociona mesmo. Eu chorei de emoção. E pretendo ainda vivenciar a mesma emoção por muitas vezes. Um dia, a materialização da ciência chegará aos meus também. Espero. Enquanto isso, celebrarei cada vacina aplicada a cada cidadão ao mesmo tempo em que chorarei por cada ato irresponsável que atenta contra vidas humanas, por cada cidadão sem ar, por cada profissional de saúde que luta incessantemente e se expõe aos mais variados riscos, por cada família enlutada.

Por tudo de terrível que vem acontecendo. Já entendi que sorriso e lágrimas acontecem ao mesmo tempo, que esperança e dor são vizinhas e convivem bem no mesmo ser, no mesmo rosto.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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