D. Maria Leopoldina

Max Wolosker

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Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Na semana passada escrevi que líderes e autoridades do primeiro quarto do século 21 não têm mais o peso e o valor daqueles do passado. Com isso na cabeça, resolvi passar pelo século 20 e aterrissar no século 19, conhecido por guerras, revoluções, inovações e pensamentos que marcaram a humanidade até os dias de hoje. Esse período foi importantíssimo para o Brasil, quando deixamos de ser colônia portuguesa e viramos Reino Unido de Portugal e Algarves. Não demorou muito, exatos 14 anos, e nos tornamos um país independente, a primeira monarquia do continente americano.

Muitos foram os nomes de importância em nossa história, nesse período, mas vou me deter na figura de D. Leopoldina, primeira imperatriz do Brasil e das Américas, da qual sou fã incondicional. Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena nasceu em Viena, no palácio de Schonbrunn, em 28 de janeiro de 1797. Era filha do imperador da Aústria, Francisco I e de sua segunda esposa Maria Teresa das Duas Sicílias. Era oriunda de um dos impérios mais importantes da Europa daquela época e teve uma educação esmerada, preparada para reinar, se fosse necessário. Ela baseava-se na crença educacional de "que as crianças deveriam ser desde cedo inspiradas a ter qualidades elevadas, como humanidade, compaixão e desejo de fazer o povo feliz”. Falava seis idiomas, entre eles o português.

Foi essa mulher prendada e culta a escolhida para se casar com Pedro, futuro imperador do Brasil e oriundo de uma corte europeia escrachada, como era a portuguesa. Faço ideia do choque que ela deve ter tido ao conhecer a nobreza portuguesa quando desembarcou, no Rio de Janeiro, em 6 de dezembro de 1817, em especial D. Carlota Joaquina que a detestava. Mas, quem muito ganhou com a sua presença foi o Brasil, pois amante da botânica e da mineralogia, trouxe consigo um mineralogista e seu futuro marido, D. Pedro de Alcântara, tão logo seu casamento foi anunciado, organizou, sob os auspícios da Coroa Austríaca, aquela que viria a ser a principal expedição científica ao interior das desconhecidas (para a ciência) terras brasileiras.

Dizem que D. Maria Leopoldina (ela incorporou o prenome Maria por ser devota da Virgem Maria ou como deferência à corte portuguesa, onde as mulheres tinham o Maria como prenome) não era bonita, mas sua simpatia compensava tudo. No entanto, ela conseguiu se fazer respeitar pelo marido, no que concerne a sua inteligência e perspicácia, a ponto de ser a substituta de D. Pedro, quando esse, já imperador do Brasil, se ausentava da corte em viagens pelo interior.

Com sua educação esmerada ela fazia questão de comer com garfo e faca, quando os hábitos palacianos eram usar as mãos; adotou o Brasil como sua pátria, tanto é assim que não permitia que se falasse outra língua que não o português, em sua presença. Conquistou a todos, principalmente os pobres e os escravos, que ficaram desconsolados quando do seu precoce falecimento. Foi uma verdadeira comoção no Rio de Janeiro e em todo o país, sendo que os escravos soluçavam a perda de “sua mãe”.

Mas, foi no período que antecedeu a independência brasileira que sua presença se fez marcante. O famoso Dia do Fico, em que Pedro decidiu permanecer no Brasil, contrariando as ordens da corte portuguesa, tem o seu dedo. Foi mais abnegada no movimento separatista que o próprio marido, pois este tentava uma conciliação com a futura ex metrópole.

O decreto da independência, assinado em 2 de setembro de 1822, separando o Brasil de Portugal, foi assinado pelo presidente do Conselho de Estado, D. Maria Leopoldina do Brasil, reunido às pressas, face as ameaças portuguesas de voltar o Brasil à condição de colônia. Sua postura, defendendo os interesses brasileiros, é flagrante na carta que escreveu a D. Pedro, naqueles dias conturbados: “É preciso que volte com a maior brevidade. Esteja persuadido de que não é só o amor que me faz desejar mais que nunca sua pronta presença, mas sim as circunstâncias em que se acha o amado Brasil. Só a sua presença, muita energia e rigor podem salvá-lo da ruína”.

Ou seja, enquanto Pedro bradava o famoso “Independência ou morte”, o Brasil já era uma nação independente, sob a batuta de D. Leopoldina. E mais, a bandeira do império é de sua autoria, sendo o verde a cor da casa dos Bragança e o amarelo dos Habsburgo. Nada de mata e ouro, invenção dos republicanos, que tinham de desmistificar tudo que se referia ao império brasileiro, quando da proclamação da República.

A “mãe dos brasileiros” faleceu de septicemia pós-puerperal, no palácio da Quinta da Boa Vista, em 11 de dezembro de 1826, aos 29 anos de idade, deixando entre seus oito filhos aquele, que viria a ser, na minha opinião, o melhor chefe de estado que esse país já teve, D. Pedro II.

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