Vergonha Saudável e Tóxica

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Vergonha é um sentimento que pode surgir quando uma pessoa se sente vítima de algum tipo de abuso, quando foi feito contra ela algo humilhante.

Existe a vergonha saudável e a tóxica. A tóxica destrói a vida, é uma experiência dolorosa, uma ferida profunda, nos separa de nós mesmos e dos outros, nos faz rejeitar a nós mesmos, e esta rejeição requer um disfarce, uma dissimulação, você a encontra no doutor e no iletrado, no rico e no pobre, no poderoso e no impotente.

Por outro lado, o sentimento saudável de vergonha nos ajuda a compreender que somos limitados como seres humanos. Nenhum ser humano tem ou poderá ter um poder ilimitado. A limitação é nossa natureza fundamental. Não aceitar isto, produz problemas psicológicos e sociais.

A vergonha saudável nos ajuda a perceber nossos limites. Nos mantêm firmes, auxiliando-nos a perceber nossa limitação. Nos mostra que não somos Deus, que cometemos erros, mesmo sendo sábios, e cometeremos outros erros, mesmo nos tornando mais sábios. Daí, precisamos de ajuda. Você aceita isso? Aceita sua limitação? Ou tem vergonha de ter vergonha? Vergonha aqui significa limitação, falhas, erros. Não é vergonhoso cometer falhas quando fizemos o nosso melhor. Mas repetir os mesmos atos errados e esperar resultados melhores, isso é insanidade.

Nossa vergonha saudável nos ajuda porque ao nos ajudar a conhecer melhor nossos limites – o que podemos e o que não podemos – evita que nos desgastemos indo em busca de metas que não podemos alcançar, fazer coisas que não podemos mudar ou querer controlar o incontrolável.

Pense: cada ser humano precisa de outro ser humano. Você não teria chegado aonde chegou se alguém não tivesse lhe ajudado.

Crianças muito pequenas e ainda indefesas para saberem fazer certas coisas, podem ter recebido de pais nervosos, bombardeios: “Vamos lá, seu vagabundo, levante da cama e vá comprar pão na padaria!”. Tornaram-se crianças assustadas, desenvolvendo nelas uma vergonha tóxica. Pai, ou mãe, que teve um pai, ou mãe, também desumano, que faz a mesma coisa ruim, leva à repetição da mesma história de dor, medo, susto para a geração seguinte. Não está errado uma criança ter medo de comprar pão, sozinha na padaria porque ela ainda é pequena. Então, a criança passa a ser obrigada a ter de dissimular a vergonha e a insegurança, se rejeitar, por sentir que a insegurança é um erro seu em vez de um limite normal para a idade, e passa a ter uma vergonha tóxica, com medo do deboche dos adultos, tendo prejuízo na construção de seu autorrespeito.

John Bradshaw no seu livro “Curando a Vergonha que Impede de Viver”, página 24, diz: “Não podemos vencer sozinhos. Nenhum ser humano pode. Mesmo depois de termos alcançado algum senso de domínio, mesmo quando somos independentes, ainda teremos necessidades. Precisaremos amar e crescer. Precisaremos nos preocupar com outras pessoas e precisaremos de que necessitem de nós. Nossa vergonha funciona como um sinal saudável de que precisamos de ajuda, e de que precisamos amar e manter um relacionamento carinhoso com outras pessoas”. E acrescenta: “Nossa vergonha saudável é a base psicológica da nossa humildade.” (p.26). Ser humilde não é ser pobre materialmente. É reconhecer nossas limitações e nos aceitar apesar disto.

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Cesar Vasconcellos de Souza

www.doutorcesar.com

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