Alívio para o perfeccionismo

César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

quinta-feira, 02 de dezembro de 2021

Uma pessoa perfeccionista quer fazer o certo com exagerada preocupação em não falhar em nada. O sábio Rei de Israel, Salomão, disse: “Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?” Isto está em Eclesiastes 7:16, na Bíblia.

Um perfeccionista sente necessidade de não errar para não ser chamado a atenção e teme que descubram algum erro seu. Geralmente se pune por ter cometido falhas, mesmo antes que façam comentários negativos sobre ele. Uma das razões que levam alguém a se tornar perfeccionista tem que ver com sentimentos de abandono que a pessoa nutre desde a meninice quando havia em sua família alguma situação afetiva que promovia a negação de sentimentos, quase uma proibição de expressar emoções, incluindo zanga, a pessoa sentia que não poderia discordar de ideias dos outros familiares, sentia medo, insatisfação, e não expunha desejos pessoais.

Têm crianças que quando cometem erros normais da idade, são criticadas pelos mais velhos como se tivessem que ser adultas precocemente e saber tudo. Adultos quando não estão bem consigo mesmos, podem explodir com raiva diante de uma criança que faz uma queixa justa. Mesmo quando uma criança erra ou faz uma travessura, a forma como os pais reagem com ela pode ser exagerada e até pior do que o que a criança fez.

Uma mulher disse: “Em criança, quando eu tinha feito algo incorreto, meu pai alcoólico não falava comigo durante vários dias. Ainda posso me lembrar de me sentir tensa, triste, e sozinha até que ele voltasse a se comunicar comigo; então tudo estaria bem outra vez. Eu me sentia como se estivesse sendo abandonada várias vezes. Não sabia que o pensamento e comportamento alcoólico do meu pai não tinha nada a ver comigo.” (A Esperança para Hoje”, Al-Anon, p.246).

Essa mulher nutria culpa falsa. Sentia que era erro dela o fato do pai ficar emburrado vários dias com ela, quando na verdade ele ficava assim por causa do alcoolismo e dificuldades temperamentais dele.

Ainda que o medo de abandono é um dos medos universais encontrado em todas as crianças (outro é o medo do escuro), o medo do abandono não é natural. Ele indica algum conflito interno na pessoa devido a alguma situação traumática de sua vida.

Algumas coisas que ajudam uma pessoa a aliviar a pressão sobre si mesmo e talvez sobre outros devido à uma atitude perfeccionista podem ser: 1) Pare de ficar chato consigo mesmo exigindo perfeição demais. Isto não significa tornar-se irresponsável. Significa permitir-se relaxar. 2) Não precisa fazer dez coisas ao mesmo tempo para agradar a todos. 3) Evite ficar querendo adivinhar o que poderá agradar os outros. 4) Acabe com as atitudes de agradar a todos o tempo todo custe o que custar. É impossível fazer isto e não perder sua saúde. Se alguém lhe pressiona ou desagrada, você tem direito de dizer coisas como: “Me dê algum tempo para pensar nisto.”, “Não posso dar minha resposta final agora. Mais tarde lhe digo o que decidi.”, “Não tenho certeza.”, “Não sei.” 5) Não se preocupe em ter que explicar seus motivos para uma pessoa explosiva que não pensa com sensatez, que não consegue escutar o que você tem a dizer. Temos o direito de ser quem somos e temos a responsabilidade de procurar crescer no nosso ritmo em direção a ser uma pessoa melhor. Sem exageros perfeccionistas.

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