Quando alguém diz que está estafado, parece que conseguimos captar o cansaço que ele sente pela palavra. Estafa: já inventaram vocábulo mais pertinente para denotar o estado de esgotamento? Talvez a própria palavra “ esgotamento”. Cansaço extremo. Sinal eloquente de quem precisa descansar, pausar, respirar livremente e recompor a energia vital. E então, prosseguir.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Nesta semana a minha coluna semanal em A VOZ DA SERRA, que escrevo com tanto orgulho, completa seis anos. Lembro-me como se fosse ontem como tudo começou e como me senti feliz com a oportunidade de ter esse espaço para fazer algo que sempre amei: escrever. No início, pensei sobre o que escreveria... qual seria a abordagem, como me expressaria aqui para vocês. E optei que traria sempre reflexões sobre o cotidiano, sociedade, sentimentos, por meio de uma escrita sincera e com intenção de gerar algo de bom a cada um dos leitores.
Muito tenho ouvido falar e lido sobre a importância de extravasar. Com “e” maiúsculo, Extravasar. Pôr para fora. Derramar de si. Expressar. Transbordar. Deixar sair. Na intenção de liberar energias, eliminar excessos, muitas pessoas recorrem às preciosas atividades físicas. Outras tantas, à arte. Uns buscam a “ terapia do riso” e até mesmo a “terapia do sono”. Há quem recomponha a famigerada necessidade de extravasar por meio do descanso, boa noite de sono. Tudo muito bem-vindo. Afinal, reza a lenda que os acúmulos fazem mal à saúde.
Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você. É tão simples assim como parece? Deveria ser. Comumente vivemos situações embaraçosas, desconfortáveis, angustiantes e sentimo-nos tristes e sobrecarregados. Situações essas que não raras vezes poderiam ter sido evitadas se nossos interlocutores da vida pensassem em evitar fazer às pessoas aquilo que abominariam que impusessem a elas. Seria bem mais fácil.
“De tanto pensar em tudo, não consigo pensar em nada”. “Penso tanto que não tenho tempo para pensar”. “Minha mente está cheia, porém está um tanto vazia”. “Tudo sei, mas não sei de nada”. São sensações do momento. Não só minhas. De muita gente. As coisas estão profundamente rasas. Inteiramente partidas. Constantemente voláteis. Densamente esparsas. Apertadas de tão largas. Entupidas de nada. Estamos vivendo tempos contraditórios. A começar pela mente.
Projetemos uma pirâmide na mente, em que visualizamos a base, o miolo e o topo. Se tivermos de organizar nossos valores de vida dentro dessa estrutura, quais ocuparão o mais elevado patamar? Consegue identificar? É fácil para você chegar a esta conclusão? Aparentemente, escolher os valores que me são mais caros é uma tarefa simples. O difícil do experimento não é a teoria. Somos capazes de estabelecer nossas prioridades no plano teórico sem grandes desafios.
Se me permitirem falar mais do mesmo, repetir aquilo que já foi dito e escrito e publicado, o farei. Preciso, novamente, propor uma reflexão crítica. Não dá para trabalhar com o trabalho e ignorar o quão sacrificante pode ser o roteiro da vida laboral para todos os envolvidos na produtividade nas mais diversas áreas. Vem à minha mente a imagem de um trabalhador. Esgotado, apático, sobrecarregado, desmotivado, cabisbaixo. Cena cotidiana, infelizmente. Não está sendo fácil a vida laboral para muita gente.
Você consegue sentir quando a corda está prestes a ruir? Sabe aquela situação em que você percebe claramente que o ciclo está em vias de se encerrar? Pois é. A gente sente. Isso vale para todo tipo de relação. Acho que não é premonição. Talvez, intuição. Pode ser. Mas também pode ser sinal sobre o limite que tudo tem, a proximidade com o cume da montanha. Chega um momento em que não dá mais pra subir, sabe? Aí, é escolher ficar por lá ou pegar o rumo da descida, desbravar o caminho de volta ou mesmo mirar num próximo destino.
Em meio a tantas pessoas que divulgam tudo o que fazem o tempo todo, é simplesmente libertador não ter necessidade de fazê-lo. Aliás, uma das nuances da liberdade está justamente em não precisar demonstrar o que se vive. A tal privacidade. Preciosa privacidade. Vida íntima, particular.
Precisamos de reiterar as premissas básicas do ser honesto. De ser honesto. E reconhecer aquele que consegue sê-lo, apesar dessa conspiração estranha que parece atrair para o lado oposto. Desde as pequenas práticas às grandiosas, o indivíduo honesto sente-se incomodado em se deixar escapar, ainda que por milímetros, o lado bom da força. Inadmite deixar evadir a blindagem da honra que o cerca e por vezes, o toma por completo. Ele vive e convive com a necessidade de empregar grande esforço para manter-se na posição esguia e admirável da honradez. E da sensatez. Orgulha-se de ser correto.